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COLAPSO DA ARGENTINA
Desvalorização do peso neste ano gera grande perda
Salário real de argentino cai 40%
JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES
A desvalorização cambial teve
um efeito negativo no bolso do
trabalhador argentino ainda
maior do que a hiperinflação da
década de 80. De acordo com pesquisa da consultoria Sociedade de
Estudos Laborais, o salário real
caiu 40% desde janeiro.
Essa retração supera a dos últimos meses do governo Raúl Alfonsín. Entre abril e setembro de
1989, a inflação ficou em 1.600%.
No entanto a política de gatilho
salarial estabelecida pelo governo
na época fez com que o salário
real recuasse apenas 34%.
Hoje, a principal causa da corrosão dos salários é a inflação gerada a partir da desvalorização
cambial. Nos quatro primeiros
meses do ano, o peso acumulou
queda de 69,5% em relação ao dólar, o que impulsionou a alta de
21,1% nos preços ao consumidor.
Nesse período, a renda dos argentinos não avançou.
Sem reajuste
E, mesmo com a previsão de inflação de 100% para o ano, 94%
dos empresários não pretendem
dar nenhum reajuste aos empregados no médio prazo, sendo que
16% pensam até em fazer reduções.
Apesar da pressão crescente dos
sindicalistas, o governo até agora
nega intervir no mercado de trabalho. Sem caixa para reajustar o
salários dos servidores, o presidente Eduardo Duhalde tem defendido a livre negociação entre
patrões e empregados.
Ernest Kritz, diretor da consultoria, disse que nesse cenário recessivo o trabalhador perdeu o
poder de negociação. Ele lembrou
que o desemprego já atinge 23%
da população ativa e o PIB (Produto interno Bruto, soma das riquezas produzidas pelo país em
um ano) deve encolher 12% no
primeiro trimestre.
Por isso, muitas vezes o trabalhador tem sido obrigado a aceitar
um corte na renda para não ser
demitido. No ano passado, 29%
dos argentinos tiveram seu salário
achatado, em média, em 15,5%.
Congresso rebelde
O Congresso argentino começou a examinar as leis exigidas pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) no final da tarde de ontem. O Senado argentino deveria
aprovar, na madrugada de hoje, a
lei de Subversão Econômica
-mas, após dias de discussão, o
governo só conseguiu a promessa
de aprovação de uma lei modificada, que não atende completamente ao Fundo. Já a Câmara
adiou a análise da lei de Falências
para hoje.
O governo também não conseguiu avançar nas discussões com
os bancos para o fim do bloqueio
dos pesos. As instituições financeiras se recusam a garantir, com
o patrimônio próprio, parte dos
bônus que serão trocados pelos
depósitos congelados.
Duhalde negou os boatos de
que o governo dos Estados Unidos tenha cobrado a antecipação
das eleições. "São versões ridículas", disse o presidente.
O governo pagou anteontem ao
FMI um vencimento de US$ 159
milhões, segundo o jornal "Clarín". Sem alternativa, o Banco
Central argentino teria usado as
reservas internacionais, que cairiam para menos de US$ 12 bilhões.
As reservas também poderão
garantir o pagamento de US$ 950
milhões com organismos multilaterais que vencem neste mês. O
dólar subiu apenas 0,3%, para
3,28 pesos.
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