São Paulo, quinta-feira, 09 de maio de 2002

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COLAPSO DA ARGENTINA

Desvalorização do peso neste ano gera grande perda

Salário real de argentino cai 40%

JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES

A desvalorização cambial teve um efeito negativo no bolso do trabalhador argentino ainda maior do que a hiperinflação da década de 80. De acordo com pesquisa da consultoria Sociedade de Estudos Laborais, o salário real caiu 40% desde janeiro.
Essa retração supera a dos últimos meses do governo Raúl Alfonsín. Entre abril e setembro de 1989, a inflação ficou em 1.600%. No entanto a política de gatilho salarial estabelecida pelo governo na época fez com que o salário real recuasse apenas 34%.
Hoje, a principal causa da corrosão dos salários é a inflação gerada a partir da desvalorização cambial. Nos quatro primeiros meses do ano, o peso acumulou queda de 69,5% em relação ao dólar, o que impulsionou a alta de 21,1% nos preços ao consumidor. Nesse período, a renda dos argentinos não avançou.

Sem reajuste
E, mesmo com a previsão de inflação de 100% para o ano, 94% dos empresários não pretendem dar nenhum reajuste aos empregados no médio prazo, sendo que 16% pensam até em fazer reduções.
Apesar da pressão crescente dos sindicalistas, o governo até agora nega intervir no mercado de trabalho. Sem caixa para reajustar o salários dos servidores, o presidente Eduardo Duhalde tem defendido a livre negociação entre patrões e empregados.
Ernest Kritz, diretor da consultoria, disse que nesse cenário recessivo o trabalhador perdeu o poder de negociação. Ele lembrou que o desemprego já atinge 23% da população ativa e o PIB (Produto interno Bruto, soma das riquezas produzidas pelo país em um ano) deve encolher 12% no primeiro trimestre.
Por isso, muitas vezes o trabalhador tem sido obrigado a aceitar um corte na renda para não ser demitido. No ano passado, 29% dos argentinos tiveram seu salário achatado, em média, em 15,5%.

Congresso rebelde
O Congresso argentino começou a examinar as leis exigidas pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) no final da tarde de ontem. O Senado argentino deveria aprovar, na madrugada de hoje, a lei de Subversão Econômica -mas, após dias de discussão, o governo só conseguiu a promessa de aprovação de uma lei modificada, que não atende completamente ao Fundo. Já a Câmara adiou a análise da lei de Falências para hoje.
O governo também não conseguiu avançar nas discussões com os bancos para o fim do bloqueio dos pesos. As instituições financeiras se recusam a garantir, com o patrimônio próprio, parte dos bônus que serão trocados pelos depósitos congelados.
Duhalde negou os boatos de que o governo dos Estados Unidos tenha cobrado a antecipação das eleições. "São versões ridículas", disse o presidente.
O governo pagou anteontem ao FMI um vencimento de US$ 159 milhões, segundo o jornal "Clarín". Sem alternativa, o Banco Central argentino teria usado as reservas internacionais, que cairiam para menos de US$ 12 bilhões.
As reservas também poderão garantir o pagamento de US$ 950 milhões com organismos multilaterais que vencem neste mês. O dólar subiu apenas 0,3%, para 3,28 pesos.



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