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OPINIÃO ECONÔMICA
Uma armadilha para o PT
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
Com a alma retemperada por uma estadia maravilhosa no
país de Voltaire, volto hoje a esta trincheira no campo de batalha
por um Brasil que retome o caminho do crescimento econômico.
Durante minha ausência, esquentou o debate entre os liberais
de sotaque carioca e aqueles que, erradamente, a imprensa nomeou como os desenvolvimentistas. Meu irmão José Roberto teve
participação ativa na manutenção desse combate de idéias. Suas
entrevistas a dois dos mais importantes jornais brasileiros, sobre a
questão da taxa de câmbio e o
comportamento do Banco Central do governo do PT, foram brilhantes.
Registro também a coragem da
querida professora Maria da
Conceição Tavares em entrevista
à Folha, quando abordou a questão da taxa de câmbio e da vulnerabilidade externa de nossa economia. Pude sentir em suas palavras o sofrimento da mulher combativa e petista de coração. Apesar de sua revolta mal contida de
ver seu querido PT abraçar de
corpo e alma teses da direita liberal, ela foi muito lúcida na suas
observações.
Mas voltemos ao debate. Nestes
últimos dias o real continuou a se
valorizar, o risco Brasil aproxima-se da marca de 700 pontos e a
inflação elevada agoniza. No
mercado, vive-se um período de
absoluta euforia, que somente os
lucros estratosféricos do sistema
financeiro e dos especuladores
mais argutos podem explicar. Entre os petistas mais radicais, esse
clima de sucesso tem outra leitura: tudo ocorre pela credibilidade
de Lula e de seu governo nos mercados financeiros de todo o mundo.
É evidente que toda essa melhora nos mercados tem a ver com o
comportamento do governo nestes seus primeiros meses de vida.
Esperava-se um governo irresponsável, populista e antimercado. Hoje, estão todos convencidos
de que o PT, versão poder, não
tem nada a ver com o velho Partido dos Trabalhadores! A responsabilidade fiscal é um valor, a estabilidade de preços, uma obrigação, e a busca de uma economia
moderna de mercado aberto, um
projeto a ser perseguido com disciplina.
Mas outros fatores conjunturais, fora de nossas fronteiras, estão influenciando esse estado de
euforia e criando as sementes de
problemas futuros para os quais
os chamados desenvolvimentistas
vêm alertando. O governo e grande parte dos analistas econômicos
não vêem essa armadilha se formando. Para enxergá-la, é preciso um grande conhecimento dos
mercados e uma visão correta dos
limites e perigos que a abertura financeira apresenta para países
como o Brasil. Sugiro nesse sentido a leitura de um estudo especial
publicado na última edição da revista conservadora "The Economist". Principalmente a autocrítica que a publicação faz em relação à abertura financeira dos países em desenvolvimento.
A política de juros baixos seguida corretamente pelo Federal Reserve, para enfrentar a recessão
americana, tem provocado mudanças importantes nos mercados financeiros mundiais. Seu
efeito mais recente foi o da queda
significativa das taxas de juros,
nos mercados de títulos privados
de maior risco, os chamados
"junk bonds". Os investidores, na
busca de rendimentos mais elevados, passaram a comprar títulos
de maior risco, forçando a queda
dos diferenciais de juros em relação aos títulos do governo. Nesse
processo de realocação de investimentos, os papéis de países emergentes pegaram uma carona e sofreram uma valorização impressionante nas últimas semanas. O
Brasil passou a ser, com os juros
elevados que temos hoje, um verdadeiro nirvana para dinheiro de
curto prazo que circula pelo mundo. Por isso a valorização impressionante de nossa moeda.
A maioria dos analistas, principalmente na imprensa brasileira,
não percebeu ainda a natureza
dessa última valorização dos títulos brasileiros. Para eles e os militantes do partido da estrela, inclusive os que estão atualmente
no governo, o sucesso recente está
relacionado ao chamado "paloccismo" e ao empenho de Lula na
aprovação das reformas constitucionais.
Mas essa situação de dinheiro
farto e barato nos mercados mundiais não vai durar para sempre.
E, quando a situação monetária
nos EUA se normalizar, esses capitais vão voltar para mercados
mais seguros, agora operando
com juros razoáveis. Teremos
uma redução no volume de recursos disponíveis para financiar
nosso déficit em conta corrente e
uma saída líquida de dólares do
país. Isso em um momento no
qual o saldo de nossa balança comercial estará seriamente afetado pelo real valorizado. E a festa
que vivemos hoje deve terminar
mal, como já ocorreu em 1997 e
1998.
Luiz Carlos Mendonça de Barros, 60, engenheiro e economista, é sócio e editor do site de economia e política Primeira Leitura. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo FHC).
Internet: www.primeiraleitura.com.br
E-mail - lcmb2@terra.com.br
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