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São Paulo, sexta-feira, 09 de maio de 2003

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Alencar, Palocci e Meirelles fazem debate sobre taxas a "céu aberto"

GUSTAVO PATÚ
LEONARDO SOUZA

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo perdeu ontem uma oportunidade de demonstrar unidade em torno da política econômica. Após uma inusitada reunião na Fazenda, o ministro Antonio Palocci Filho, o vice-presidente da República, José Alencar, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, deram declarações desencontradas sobre as taxas de juros.
Primeiro, Alencar deixou o ministério com uma declaração de otimismo: "Os juros vão cair". Cerca de uma hora depois, quando Meirelles deixava o local, foi questionado sobre como avaliava a queda da inflação. "Lenta", foi a resposta -que não inspira muito entusiasmo pela queda das taxas.
Palocci, que acompanhou os visitantes até a portaria do prédio, teve de dar explicações sobre o debate a céu aberto de autoridades do governo a respeito da política monetária. Pela manhã, o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), já havia defendido a redução dos juros.
"O mercado compreende que o debate é importante", disse o ministro, com a ressalva de que a equipe econômica "não se comove com o debate".
Mas a própria reunião de duas horas e meia com Alencar, notório crítico dos juros altos, provocou estranheza. O vice-presidente disse que houve, "de certa forma", um convite do ministro. Segundo Palocci, foi um encontro de rotina. "Vocês acreditam em mim ou não?", perguntou aos jornalistas.
Palocci negou que Meirelles tivesse participado da conversa, mas o presidente do BC chegou à Fazenda dizendo que se encontraria com o ministro e o vice-presidente -na saída, relatou ter dado "um abraço" em Alencar.
Palocci foi quem falou por mais tempo. Disse que travou uma proveitosa discussão com Alencar "sobre o Brasil" -o vice disse que os temas tratados foram a retomada do desenvolvimento, a recuperação das estradas e dos portos e as exportações.

Impacto
Segundo o ministro, o debate em torno dos juros não tem grande impacto no mercado, "Há muitas razões que fazem os mercados andarem para cima, para baixo ou de lado", afirmou.
Palocci disse que "a inflação já está baixando, que já mostra sinais de falta de oxigênio". O objetivo do governo, prosseguiu, é que a melhoria nos indicadores financeiros se traduza também em benefícios para a sociedade.
"Desse ponto de vista [queda da inflação], estamos otimistas, não eufóricos, com o andamento da economia", disse.
Meirelles classificou o debate em torno dos juros de "profícuo", mas ressaltou, como de costume, que a decisão cabe ao Copom (Comitê de Política Monetária do BC). Quando falou em queda lenta da inflação e foi cercado imediatamente pelas câmeras de TV, acrescentou que "a queda da inflação é real", mas "um pouco" abaixo das expectativas.
Antes, Alencar havia brincado ao contar que fora questionado sobre qual seria a taxa de juros ideal. "A dos Estados Unidos", disse -a taxa americana é de 1,25% ao ano, contra 26,5% no Brasil.


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