|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Alencar, Palocci e Meirelles fazem
debate sobre taxas a "céu aberto"
GUSTAVO PATÚ
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo perdeu ontem uma
oportunidade de demonstrar unidade em torno da política econômica. Após uma inusitada reunião na Fazenda, o ministro Antonio Palocci Filho, o vice-presidente da República, José Alencar,
e o presidente do Banco Central,
Henrique Meirelles, deram declarações desencontradas sobre as
taxas de juros.
Primeiro, Alencar deixou o ministério com uma declaração de
otimismo: "Os juros vão cair".
Cerca de uma hora depois, quando Meirelles deixava o local, foi
questionado sobre como avaliava
a queda da inflação. "Lenta", foi a
resposta -que não inspira muito
entusiasmo pela queda das taxas.
Palocci, que acompanhou os visitantes até a portaria do prédio,
teve de dar explicações sobre o
debate a céu aberto de autoridades do governo a respeito da política monetária. Pela manhã, o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), já havia
defendido a redução dos juros.
"O mercado compreende que o
debate é importante", disse o ministro, com a ressalva de que a
equipe econômica "não se comove com o debate".
Mas a própria reunião de duas
horas e meia com Alencar, notório crítico dos juros altos, provocou estranheza. O vice-presidente
disse que houve, "de certa forma",
um convite do ministro. Segundo
Palocci, foi um encontro de rotina. "Vocês acreditam em mim ou
não?", perguntou aos jornalistas.
Palocci negou que Meirelles tivesse participado da conversa,
mas o presidente do BC chegou à
Fazenda dizendo que se encontraria com o ministro e o vice-presidente -na saída, relatou ter dado
"um abraço" em Alencar.
Palocci foi quem falou por mais
tempo. Disse que travou uma
proveitosa discussão com Alencar
"sobre o Brasil" -o vice disse que
os temas tratados foram a retomada do desenvolvimento, a recuperação das estradas e dos portos e as exportações.
Impacto
Segundo o ministro, o debate
em torno dos juros não tem grande impacto no mercado, "Há
muitas razões que fazem os mercados andarem para cima, para
baixo ou de lado", afirmou.
Palocci disse que "a inflação já
está baixando, que já mostra sinais de falta de oxigênio". O objetivo do governo, prosseguiu, é que
a melhoria nos indicadores financeiros se traduza também em benefícios para a sociedade.
"Desse ponto de vista [queda da
inflação], estamos otimistas, não
eufóricos, com o andamento da
economia", disse.
Meirelles classificou o debate
em torno dos juros de "profícuo",
mas ressaltou, como de costume,
que a decisão cabe ao Copom
(Comitê de Política Monetária do
BC). Quando falou em queda lenta da inflação e foi cercado imediatamente pelas câmeras de TV,
acrescentou que "a queda da inflação é real", mas "um pouco"
abaixo das expectativas.
Antes, Alencar havia brincado
ao contar que fora questionado
sobre qual seria a taxa de juros
ideal. "A dos Estados Unidos",
disse -a taxa americana é de
1,25% ao ano, contra 26,5% no
Brasil.
Texto Anterior: Batalha na cúpula: Lula quer enquadrar Furlan e Mercadante Próximo Texto: Senador critica capitais voláteis e juros e quer saída pela exportação Índice
|