São Paulo, terça-feira, 09 de maio de 2006

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CONFLITO INTERNO

Rebatendo declarações de Mantega, ele diz que se dá bem com o ministro, mas que tem o apoio de Lula

Pressão da Fazenda não afeta BC, diz Meirelles

NEY HAYASHI DA CRUZ
ENVIADO ESPECIAL A BASILÉIA (SUÍÇA)

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse ontem na Suíça que pressões do ministro Guido Mantega (Fazenda) para que os juros continuem em queda não afetam as decisões do BC e aproveitou para dizer que tem o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para implantar as medidas que considerar necessárias para controlar a inflação.
Em entrevista à Folha publicada no domingo, Mantega havia dito que a "sintonia" entre o BC e a Fazenda depende da continuidade do processo de redução da taxa Selic, hoje em 15,75% ao ano. "Enquanto o BC baixar os juros, estaremos sintonizados", afirmou.
Em resposta, Meirelles disse que fatores como as declarações do ministro da Fazenda não são levados em conta nas reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária do BC). "Achamos absolutamente normal que pessoas, inclusive autoridades, manifestem-se sobre o assunto [juros e inflação]. O Banco Central leva a sério todas as opiniões, mas toma suas decisões normalmente e tomará suas decisões normalmente, levando em conta a delegação dada pelo presidente da República e as metas de inflação definidas pelo Conselho Monetário Nacional", disse Meirelles na Basiléia, onde participa de uma reunião do BIS (sigla em inglês para banco de compensações internacionais, uma espécie de banco central dos bancos centrais).
"O Banco Central faz sua análise técnica, analisa a cada reunião [do Copom] todos os fatores prospectivos de inflação e conclui qual é a política monetária mais adequada", completou. Questionado por jornalistas sobre seu relacionamento com Mantega, o presidente do BC evitou entrar em muitos detalhes. "Como eu já disse várias vezes, meu relacionamento com o ministro é bom, como ele também já disse."
Não é a primeira vez que as diferenças entre os dois vem a público. Antes de assumir a Fazenda, Mantega dizia que o país poderia estar crescendo de forma mais acelerada se o BC não tivesse "errado a mão" na condução da política monetária. Já Meirelles tem insistido em que o BC se reporta diretamente ao presidente Lula, e não à Fazenda, para tentar reforçar a sua autoridade. Ele ganhou força com a saída de Antonio Palocci da Fazenda, sendo visto no mercado como guardião da ortodoxia da política econômica.

Bolívia
Um dos assuntos abordados na Basiléia foi a decisão da Bolívia de nacionalizar suas reservas de petróleo. Segundo Jean Claude Trichet, presidente do BCE (Banco Central Europeu), a questão foi citada como sendo um dos "fatores de incerteza" relacionados ao comportamento dos preços dos combustíveis em todo o mundo.
Já para o presidente do BC argentino, Martín Redrado, existe uma preocupação sobre os efeitos que a nacionalização pode ter sobre a inflação dos países da região.
Em relação ao Brasil, Meirelles afirmou que ainda é cedo para medir o impacto que a decisão tomada pela Bolívia pode ter nos preços. "Vai depender de muitas coisas. Vai depender se tem ou não aumento, e, se tiver, de quanto vai ser. Vai depender da atitude da Petrobras sobre isso."
Sem citar datas, Meirelles disse ainda que, em outras ocasiões, o efeito negativo de um aumento nos preços dos combustíveis na inflação foi compensado pela queda do dólar, indicando que a recente valorização do real pode servir para contrabalançar um possível reajuste. "Vamos aguardar para ver o que vai acontecer."


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