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CONFLITO INTERNO
Rebatendo declarações de Mantega, ele diz que se dá bem com o ministro, mas que tem o apoio de Lula
Pressão da Fazenda não afeta BC, diz Meirelles
NEY HAYASHI DA CRUZ
ENVIADO ESPECIAL A BASILÉIA (SUÍÇA)
O presidente do Banco Central,
Henrique Meirelles, disse ontem
na Suíça que pressões do ministro
Guido Mantega (Fazenda) para
que os juros continuem em queda
não afetam as decisões do BC e
aproveitou para dizer que tem o
apoio do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva para implantar as
medidas que considerar necessárias para controlar a inflação.
Em entrevista à Folha publicada
no domingo, Mantega havia dito
que a "sintonia" entre o BC e a Fazenda depende da continuidade
do processo de redução da taxa
Selic, hoje em 15,75% ao ano. "Enquanto o BC baixar os juros, estaremos sintonizados", afirmou.
Em resposta, Meirelles disse que
fatores como as declarações do
ministro da Fazenda não são levados em conta nas reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária do BC). "Achamos absolutamente normal que pessoas, inclusive autoridades, manifestem-se
sobre o assunto [juros e inflação].
O Banco Central leva a sério todas
as opiniões, mas toma suas decisões normalmente e tomará suas
decisões normalmente, levando
em conta a delegação dada pelo
presidente da República e as metas de inflação definidas pelo
Conselho Monetário Nacional",
disse Meirelles na Basiléia, onde
participa de uma reunião do BIS
(sigla em inglês para banco de
compensações internacionais,
uma espécie de banco central dos
bancos centrais).
"O Banco Central faz sua análise
técnica, analisa a cada reunião [do
Copom] todos os fatores prospectivos de inflação e conclui qual é a
política monetária mais adequada", completou. Questionado por
jornalistas sobre seu relacionamento com Mantega, o presidente do BC evitou entrar em muitos
detalhes. "Como eu já disse várias
vezes, meu relacionamento com o
ministro é bom, como ele também já disse."
Não é a primeira vez que as diferenças entre os dois vem a público. Antes de assumir a Fazenda,
Mantega dizia que o país poderia
estar crescendo de forma mais
acelerada se o BC não tivesse "errado a mão" na condução da política monetária. Já Meirelles tem
insistido em que o BC se reporta
diretamente ao presidente Lula, e
não à Fazenda, para tentar reforçar a sua autoridade. Ele ganhou
força com a saída de Antonio Palocci da Fazenda, sendo visto no
mercado como guardião da ortodoxia da política econômica.
Bolívia
Um dos assuntos abordados na
Basiléia foi a decisão da Bolívia de
nacionalizar suas reservas de petróleo. Segundo Jean Claude Trichet, presidente do BCE (Banco
Central Europeu), a questão foi
citada como sendo um dos "fatores de incerteza" relacionados ao
comportamento dos preços dos
combustíveis em todo o mundo.
Já para o presidente do BC argentino, Martín Redrado, existe
uma preocupação sobre os efeitos
que a nacionalização pode ter sobre a inflação dos países da região.
Em relação ao Brasil, Meirelles
afirmou que ainda é cedo para
medir o impacto que a decisão tomada pela Bolívia pode ter nos
preços. "Vai depender de muitas
coisas. Vai depender se tem ou
não aumento, e, se tiver, de quanto vai ser. Vai depender da atitude
da Petrobras sobre isso."
Sem citar datas, Meirelles disse
ainda que, em outras ocasiões, o
efeito negativo de um aumento
nos preços dos combustíveis na
inflação foi compensado pela
queda do dólar, indicando que a
recente valorização do real pode
servir para contrabalançar um
possível reajuste. "Vamos aguardar para ver o que vai acontecer."
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