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Lula barra "negócio novo" com a Bolívia
Presidente congela ainda convênios já assinados com país vizinho para pressionar La Paz a ceder em negociações hoje
Governos divergem sobre valor a ser pago por Bolívia para estatizar 2 refinarias da Petrobras; Lula vê "falta de lógica" nas ações de Morales
VALDO CRUZ
CLAUDIA DIANNI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu que nenhum
"negócio novo" será fechado
com a Bolívia e que convênios
assinados serão congelados até
que seja solucionada de forma
favorável a questão das refinarias da Petrobras no país.
Lula queixou-se com assessores de que não prevalece a
"lógica" nas negociações com o
presidente Evo Morales, que
apoiou nas eleições, e que sua
paciência com o colega boliviano chegou "ao limite".
Lembrou que, depois de uma
conversa "dura" com Morales
na Venezuela, no mês passado,
ele havia prometido mudar seu
comportamento. A nova crise,
segundo Lula, mostra que de
pouco adiantou a política de
boa vizinhança brasileira, de
um país mais rico tentando ajudar um vizinho mais pobre.
Segundo a Folha apurou, a
ordem no Planalto é que não só
a Petrobras mas outros órgãos
do governo não fechem negócios com a Bolívia até a solução
da crise. Foi cancelada, por
exemplo, reunião no final do
mês para definir produtos bolivianos que o Brasil importaria
para ajudar o vizinho.
Desde 2003, Lula assinou 23
acordos de cooperação com a
Bolívia, sete na última visita do
boliviano a Brasília, em fevereiro.
Esses convênios vão ficar
congelados até que os dois governos cheguem a um entendimento. Entre outros, será suspenso o convênio que prevê a
construção de uma ponte sobre
o rio Acre que seria paga com
recursos do governo do Acre e
assistência do governo federal.
Por enquanto, o governo não
definiu se pretende adotar alguma retaliação comercial, como tarifas. Hoje cerca de 90%
do comércio com a Bolívia é livre de taxas, já que o país é
membro associado do Mercosul e pediu a adesão plena.
O Brasil avalia, porém, que o
endurecimento em seu discurso pode levar a uma solução negociada. Está prevista para hoje
reunião em La Paz entre representantes da YPFB (estatal boliviana) e da Petrobras.
Ao contrário de outras crises,
quando Lula negociava direto
com Morales, o brasileiro evita
agora contato com o colega para sinalizar sua contrariedade.
Ontem, Lula endossou declarações da véspera do presidente da Petrobras, José Sérgio
Gabrielli, e disse que o Brasil
poderá recorrer à Justiça internacional caso não haja acordo
sobre o pagamento de duas refinarias da estatal na Bolívia.
"Se não for pago, nós temos
que ir à Justiça internacional
para rever os direitos da empresa", disse Lula. Segundo ele,
a Petrobras quer apenas um
"preço justo" pelas refinarias.
A Bolívia quer pagar US$ 70
milhões, mas a Petrobras acha
que valem US$ 215 milhões,
embora deva aceitar menos.
No final de semana, o governo brasileiro foi surpreendido
com um decreto boliviano que
retira da Petrobras o direito de
exportação do petróleo cru reconstituído e fixa o preço do
barril desse produto abaixo do
mercado. Na prática, a medida
tira a rentabilidade das duas refinarias da Petrobras no país.
O agendamento da reunião
de hoje entre Petrobras e YPFB
fez o Brasil moderar o tom. O
que anteontem mereceu uma
reação de "consternação e desapontamento" foi tratado ontem como mera questão comercial. Segundo o ministro
Silas Rondeau (Minas e Energia), na reunião será esclarecida a posição da Petrobras em
relação à indenização que deverá ser paga pelo governo boliviano para nacionalizar as
duas refinarias.
Colaboraram EDUARDO SCOLESE e HUMBERTO MEDINA, da Sucursal de Brasília
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