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VINICIUS TORRES FREIRE
O PAC inexiste, mas não vai mal
Plano luliano é programa administrativo que começa quase bem, mas não vem a ser indutor de crescimento
O GOVERNO LULA é vítima da
própria marquetagem no caso do PAC. Anunciou um plano de crescimento, mas apresentou
um simples, porém necessário, programa administrativo, embrulhado
em papel de presente e fita, não muito diferente do "Avança Brasil" de
FHC, embora mais tardio. Espera-se que seja mais bem-sucedido.
Lula o fez depois de quatro anos,
período em que tomou alguma
consciência do que seja governar.
Melhor dizer, enfim, que, além da
marquetice, o rótulo e a festa do
PAC demonstram ainda um genuíno e tolo autocontentamento luliano, decorrente da autocomplacência da ignorância. Quando descobriu
a existência de programas de governo, imaginou ter achado a América,
mais um de seus "nunca antes".
Ora, vivas, de qualquer modo, pois
o governo se compromete com metas, presta contas e se submete ao escrutínio público de modo objetivo.
Mas, primeiro, essa história de sinalzinho verde, amarelo ou fúcsia,
de 51% ou 48,6% de metas cumpridas etc, é outra lambança publicitária e analítica. 50% do quê? De dinheiros, de metros cúbicos de cimento, de decretos, de isenções fiscais? Se o governo cumprir 70% dos
projetos de menor impacto vai ser
bom? E se cumprir só 30% da lista
nominal e isso for mais relevante? E
se correr para gastar dinheiro e fizer
porcaria, corrupção, desperdício?
Segundo, metas são mais um modo de identificar e resolver problemas do que um alvo exato. Mais, inícios de programas são lentos. E muito dinheiro não se gasta porque não
há competência para gastá-lo. Prefeituras, estatais regionais e alguns
Estados simplesmente não sabem
fazer um projeto, vide os dinheiros
de fundos internacionais que morrem no caixa por falta de gerência.
Terceiro, obras e rotina de manutenção da oferta de infra-estrutura,
em si, não aceleram crescimento
-impedem ruínas e regressão. Mais
essencial é criar condições econômicas e institucionais para que o investimento desembeste, tanto no
setor privado como no Estado.
No caso do PACote, de mais importante a esse respeito é o limite de
gasto com o funcionalismo, com o
INSS e outros problemas fiscais, o
que anda mal parado. Ou o problema da governança das estatais, como a Eletrobras, que poderia ser
uma indutora do investimento em
energia, o que parece esquecido. Ou
a revisão das instituições e das leis
ambientais. É nisso que as obras emperram? Ou se trata apenas de picaretagem ou mau planejamento empresarial? E o que está sendo feito
do pandemônio das leis tributárias?
Das leis de abertura de empresas?
O país desemperrou porque ficou
mais estável, porque há mais crédito
-há muito dinheiro no mundo e os
juros são algo mais baixos. Mas crescimento contínuo exige mais.
Onde está o plano de criação de
"novas Embrapas"? Ou daqui a uma
década o país será uma "plantation"
de cana, com a bioquímica e as máquinas do negócio sendo feitas alhures? Onde está um corte linear de
impostos para empresas? Qual o
motivo de não privatizar portos e estradas, além de empregar apaniguados de má catadura? Sim, o Estado
tem o que fazer na economia, mas na
ponta em que o setor privado não vai
por medo, inépcia ou falta de dinheiro. Para isso, falta um PAC.
vinit@uol.com.br
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