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China busca mais terra para elevar segurança alimentar
Proposta, que deve ser aprovada em breve, tende a sofrer oposição de outros países
Alimentos subiram 25% no 1º tri do ano no país, que, mais rico, troca arroz por carne, o que requer grande volume de ração importada
Edson Silva/Folha Imagem
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Plantação de cana-de-açúcar na região de Ribeirão Preto, nordeste do Estado de São Paulo, uma das terras mais caras do país
JAMIL ANDERLINI
DO "FINANCIAL TIMES", EM PEQUIM
Empresas chinesas serão encorajadas a adquirir terras aráveis no exterior, especialmente
na África e na América do Sul, a
fim de ajudar a garantir a segurança alimentar da China, nos
termos de um plano que está
em estudos em Pequim.
Uma proposta preparada pelo Ministério da Agricultura dá
posição central na política do
governo a um programa de
apoio à aquisição de terras agrícolas no exterior por empresas
agrícolas chinesas. Pequim já
tem programas semelhantes
para estimular o investimento
de bancos estatais, indústrias e
empresas petroleiras, mas os
investimentos agrícolas externos até agora se limitavam a alguns pequenos projetos.
Caso aprovado, o plano poderia enfrentar intensa oposição
externa, devido à disparada nos
preços mundiais dos alimentos
e ao temor de desflorestamento. No entanto, um funcionário
próximo às deliberações disse
que a aprovação é provável.
"Não deve haver problema
na aprovação desta política. O
problema poderia vir de governos estrangeiros que estejam
indispostos a abrir mão de
grandes áreas de terra", disse o
funcionário.
A medida surge no momento
em que países ricos em petróleo, mas pobres em terras aráveis do Oriente Médio e da África do Norte, começam a explorar possibilidades semelhantes.
A Líbia está negociando com a
Ucrânia o cultivo de trigo na
antiga república soviética, enquanto a Arábia Saudita anunciou que investiria em projetos
de agricultura e pecuária no exterior a fim de garantir sua segurança alimentar e controlar
os preços das commodities.
A China está perdendo sua
auto-suficiência alimentar porque sua riqueza crescente vem
gerando alteração na dieta básica do país, com a substituição
de arroz pela carne, que requer
grande volume de ração importada.
Segurança alimentar
A China abriga cerca de 40%
dos agricultores do mundo mas
só 9% das terras aráveis. Alguns
estudiosos chineses argumentam que as empresas agrícolas
nacionais devem se expandir
no exterior, caso o país deseje
garantir sua segurança alimentar e reduzir sua exposição às
flutuações no mercado global.
"A China precisa sair porque
temos recursos limitados em
termos de terras", disse Jiang
Wenlai, do Instituto de Ciências Agrícolas da China. "A solução seria vantajosa para as
duas partes, porque aproveitaria ao máximo as vantagens de
ambas".
No primeiro trimestre do
ano, os preços dos alimentos
subiram 25% na China, ante o
mesmo período de 2007, o que
representa a maior taxa de inflação agrícola desde o começo
dos anos 1990, segundo o banco
UBS.
A China continua a ser exportadora de commodities
agrícolas, em termos líquidos,
mas depende cada vez mais da
importação de soja. E em breve
se tornará importadora de milho.
O país importou 60% da soja
consumida no ano passado, e o
produto pode ser foco de apoio
público a empresas que adquiram terras no exterior, na companhias de bananas, legumes e
óleos vegetais, disse um funcionário que conhece a proposta
do ministério. O governo já está
conversando com o Brasil sobre a possível aquisição de terra
para soja, de acordo com esse
funcionário.
Alguns países considerariam
especialmente problemático
que Pequim apóie empresas
chinesas para o uso de mão-de-obra chinesa em terras adquiridas ou arrendadas no exterior,
uma prática comum entre as
empresas chinesas que operam
fora do país.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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