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Após dois anos, saque da poupança supera depósito
Saldo em abril fica negativo em R$ 1,85 bi, o que não ocorria desde agosto de 2006
Analistas creditam menor
procura ao interesse dos
bancos em atrair investidores
para o CDB e à alta dos juros,
que eleva ganhos de fundos
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Pela primeira vez em quase
dois anos, os saques feitos na
caderneta de poupança superaram os depósitos. No mês passado, de acordo com dados do
Banco Central, o saldo de aplicações ficou negativo em R$
1,848 bilhão, o que não acontecia desde agosto de 2006.
No final de abril, o saldo total
da caderneta estava em R$ 242
bilhões. No acumulado do ano,
a captação ainda é positiva em
R$ 1,809 bilhão, mas é 64% menor do que o valor registrado
nos primeiros quatro meses do
ano passado.
Na opinião de Ricardo Humberto Rocha, professor de finanças do Ibmec São Paulo, a
menor procura pela caderneta
reflete o maior interesse dos
bancos, nas últimas semanas,
em atrair investidores para os
CDBs (Certificados de Depósito Bancário).
"Com a crise norte-americana, muitos recursos que o setor
bancário brasileiro captava no
mercado externo desapareceram. O dinheiro sumiu", diz
Rocha, numa referência às dificuldades que instituições financeiras dos Estados Unidos
estão enfrentando devido a calotes em créditos imobiliários.
Sem poder contar com o dinheiro captado no exterior, as
instituições financeiras brasileiras passaram a buscar recursos nos CDBs, que, em relação à
poupança, apresentam a vantagem de poderem ser aplicados
livremente pelas instituições
financeiras -no caso da caderneta, 65% dos depósitos precisam, obrigatoriamente, ser
usados em financiamentos habitacionais.
Procura por empréstimos
Num momento em que o crédito no Brasil está crescendo a
taxas elevadas, afirma Rocha,
os bancos precisam captar recursos para atender toda a demanda por empréstimos. Em
abril, de acordo com o Banco
Central, o saldo das aplicações
em CDB corrigidos pela Selic
cresceu 11,8% e chegou a R$
309 bilhões.
Já Domingos Pandeló Júnior, também professor do Ibmec São Paulo, diz que outros
dois fatores podem ter afetado
a captação da poupança em
abril. Um é o aumento da taxa
de juros (Selic) promovido pelo
Banco Central, a primeira elevação em dois anos (de 0,5 ponto percentual, para 11,75%), que
torna outras aplicações -como
o próprio CDB e os fundos DI e
de renda fixa- mais rentáveis
do que a poupança.
Além disso, o professor afirma que muitas pessoas que tomaram empréstimos nos últimos anos podem estar começando a recorrer ao dinheiro
guardado na poupança para
honrar seus compromissos.
"Muita gente pode ter gastado
demais no começo de ano e
agora, que estão muito endividadas, usam o que está guardado na caderneta para resolver
essa situação."
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