São Paulo, sexta-feira, 09 de maio de 2008

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Após dois anos, saque da poupança supera depósito

Saldo em abril fica negativo em R$ 1,85 bi, o que não ocorria desde agosto de 2006

Analistas creditam menor procura ao interesse dos bancos em atrair investidores para o CDB e à alta dos juros, que eleva ganhos de fundos


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pela primeira vez em quase dois anos, os saques feitos na caderneta de poupança superaram os depósitos. No mês passado, de acordo com dados do Banco Central, o saldo de aplicações ficou negativo em R$ 1,848 bilhão, o que não acontecia desde agosto de 2006.
No final de abril, o saldo total da caderneta estava em R$ 242 bilhões. No acumulado do ano, a captação ainda é positiva em R$ 1,809 bilhão, mas é 64% menor do que o valor registrado nos primeiros quatro meses do ano passado.
Na opinião de Ricardo Humberto Rocha, professor de finanças do Ibmec São Paulo, a menor procura pela caderneta reflete o maior interesse dos bancos, nas últimas semanas, em atrair investidores para os CDBs (Certificados de Depósito Bancário).
"Com a crise norte-americana, muitos recursos que o setor bancário brasileiro captava no mercado externo desapareceram. O dinheiro sumiu", diz Rocha, numa referência às dificuldades que instituições financeiras dos Estados Unidos estão enfrentando devido a calotes em créditos imobiliários.
Sem poder contar com o dinheiro captado no exterior, as instituições financeiras brasileiras passaram a buscar recursos nos CDBs, que, em relação à poupança, apresentam a vantagem de poderem ser aplicados livremente pelas instituições financeiras -no caso da caderneta, 65% dos depósitos precisam, obrigatoriamente, ser usados em financiamentos habitacionais.

Procura por empréstimos
Num momento em que o crédito no Brasil está crescendo a taxas elevadas, afirma Rocha, os bancos precisam captar recursos para atender toda a demanda por empréstimos. Em abril, de acordo com o Banco Central, o saldo das aplicações em CDB corrigidos pela Selic cresceu 11,8% e chegou a R$ 309 bilhões.
Já Domingos Pandeló Júnior, também professor do Ibmec São Paulo, diz que outros dois fatores podem ter afetado a captação da poupança em abril. Um é o aumento da taxa de juros (Selic) promovido pelo Banco Central, a primeira elevação em dois anos (de 0,5 ponto percentual, para 11,75%), que torna outras aplicações -como o próprio CDB e os fundos DI e de renda fixa- mais rentáveis do que a poupança.
Além disso, o professor afirma que muitas pessoas que tomaram empréstimos nos últimos anos podem estar começando a recorrer ao dinheiro guardado na poupança para honrar seus compromissos. "Muita gente pode ter gastado demais no começo de ano e agora, que estão muito endividadas, usam o que está guardado na caderneta para resolver essa situação."


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