São Paulo, domingo, 09 de maio de 2010 |
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Mercado Aberto MARIA CRISTINA FRIAS - cristina.frias@uol.com.br Sob a nuvem vulcânica
Como ficam os investimentos no Brasil com o agravamento da crise europeia?
"O Brasil pode se tornar beneficiário de uma certa "fuga para a qualidade". Apesar das incertezas que
ainda rondam a economia europeia e que podem
nos afetar via commodities, confiança e financiamentos externos, o país tem grandes chances de seguir como "darling" dos mercados. Os vasos comunicantes abalam todos os mercados, mas a volta pode
ser bem favorável ao Brasil se autoridades do G7 derem a resposta adequada a essa crise. Seria fantástico se mostrássemos que somos capazes de avançar
no plano fiscal e que não deixaremos que retrocessos nos joguem na vala comum dos países desajustados fiscalmente. Nossa situação fiscal não pode
depender só do crescimento econômico forte como
o deste ano porque, em fases de vacas magras, as
fraturas ficarão expostas. Se déssemos sinais de
austeridade, aí, sim, o Brasil poderia ter um extraordinário benefício na disputa por investimentos."
"O Brasil tem sido procurado mais pelos
seus méritos do que pelos deméritos dos demais países. Tenho restrições, mas não há
como não reconhecer que o Brasil está se
dando melhor que outros países, pela atitude que adotou há anos, de responsabilidade
fiscal e de preocupação em manter a inflação
sob controle. Há problemas: o país tributa
demais e gasta demais; há também preocupação com o lado fiscal, mas não como a Grécia, de insolvência. O problema fiscal é um
obstáculo à nossa capacidade de crescimento, mas não como em alguns países da Europa, em que se questiona a capacidade de pagamento dos governos. O Brasil poderia melhorar a sua política fiscal, mas o fato de ter
adotado uma política de redução da dívida
em relação ao PIB é um mérito."
"Tudo dependerá do tamanho da crise, se vai
reduzir a atratividade dos emergentes, sem
elevar muito a aversão ao risco. O Brasil é um
dos mais bem alocados. Mas, se a crise aumentar, isso pode mudar. O BCE parece pouco afeito ao problema. Vão ter que chamar o Brasil
para entender como trabalhar. É banco de estirpe alemã, tendo que lidar com problema ao
qual não está acostumado, que parece de latino-americano. São 15 Tesouros que não têm
necessariamente o mesmo entendimento de
como ajudar a Grécia. O Brasil acaba sendo
destino para o dólar. O país vinha sendo favorecido pelas incertezas causadas pela crise europeia. Nos últimos dois meses, quando já havia sinais da Grécia, havia lista de espera para
emissões. O risco-país, medido pelo CDS, estava baixo. Mas acabou subindo."
"O Brasil não tem problema de solvência, como a Grécia, e tem a perspectiva de manter a relação dívida líquida sobre o PIB. No longo prazo,
deve ter crescimento em torno de 5%. Se o Brasil
entregar superavit primário de 2,5%, conseguirá
reduzir a dívida líquida como proporção do PIB
e, talvez, zerar o deficit nominal até 2020. Mas
há riscos no radar: a previdência preocupa e, com
a incerteza relativa ao fator previdenciário, ficou
ainda pior. É preciso também ficar atento ao endividamento bruto, em razão de empréstimos a
bancos públicos. Sem entrar no mérito, a perspectiva é boa, mas não pode exagerar. Apesar da
redução do superavit primário, a situação brasileira é mais fácil do que a de alguns países desenvolvidos. O investidor estrangeiro não está
olhando com atenção para o deficit brasileiro.
Nem muitos de nós." |
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