São Paulo, Domingo, 09 de Maio de 1999
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TELEVISÃO
Emissora e comprador se reúnem com ministro das Comunicações; renovação da concessão deve ser pedida
Venda da Manchete será definida amanhã

ALINE SORDILI
da Reportagem Local

A Manchete e o eventual comprador da emissora, Amílcare Dallevo Júnior, dono do grupo TeleTV, entregam amanhã o contrato de compra da rede ao ministro Pimenta da Veiga (Comunicações), às 11h. A informação foi dada à Folha por Dallevo e confirmada pelo ministério.
Após a aprovação da compra por parte do governo, operação ainda sem prazo definido, mas que pode acontecer amanhã mesmo, Dallevo receberá a transferência da emissora e deverá pedir a renovação da concessão dos canais ao governo federal.
Essa renovação precisa ser aprovada pelo Congresso. Durante esse período, a Manchete será comandada pela TeleTV. O presidente da TeleTV receberá uma rede formada por cinco concessões, além das retransmissoras.
A compra da Manchete por Dallevo acontece depois de 3.000 horas de auditoria na rede. "Checamos todas as minúcias da emissora", afirma o empresário.
Apesar de saber que corre o risco de comprar uma rede que pode sofrer ainda um processo judicial no Superior Tribunal de Justiça por parte do antigo dono da Manchete, Hamilton Lucas de Oliveira, Dallevo disse estar despreocupado: "Se isso acontecer antes da aprovação do governo, tudo pára novamente. Mas, se acontecer depois, é um problema inerente ao negócio".
Lucas de Oliveira foi proprietário da Manchete entre junho de 1992 e abril de 1993, quando o então presidente Itamar Franco cancelou a venda da emissora por evidências de irregularidades.
Questionado sobre o passivo da emissora que irá assumir, Dallevo afirmou que, por cláusulas contratuais, não pode revelar o valor antes de a compra ser aprovada. O gasto com a compra da rede também não foi revelado.
A Folha apurou que são necessários cerca de oito anos de faturamento da Manchete para que a emissora volte a ser lucrativa, além dos investimentos em programação. Estima-se que, em 1996, o faturamento da emissora tenha sido de US$ 250 milhões, caindo para US$ 120 milhões no ano seguinte.
"Vamos investir em programação. Faremos um grande investimento em tecnologia. Será uma emissora muito bem equipada, competitiva e com uma programação de bom gosto, direcionada para o jornalismo", afirmou.
Tecnologia é a especialidade do "virtual" dono da Manchete. A TeleTV é um grupo especializado em tecnologia. As três principais empresas são a Tecplan (de recebimentos de ligações e sistemas de interatividade), a Tecnet (automação em telecomunicações e sistema bancário) e a Ômega (uma produtora de TV). O grupo tem uma empresa de plataforma de recebimento de ligações na Argentina.
Foi a Ômega que levou Dallevo até a Manchete. A produtora cuidava da programação de domingo da emissora em meados de 1997.
Quanto ao investimento em jornalismo, o empresário acredita que esse é um bom filão a ser explorado. "Acredito na credibilidade da marca Manchete. É um jornalismo que, apesar de todas as dificuldades, tem credibilidade junto aos telespectadores."
Antes de assinar o contrato, o empresário afirma que analisou "cuidadosamente" cada cenário: o de assumir o passivo e os salários, além dos investimentos futuros. "É um investimento consciente. Não temos ligação com nenhuma igreja ou partido político." Questionado pela Folha se a empresa tem suporte de algum grupo financeiro, Dallevo negou.
"Vamos ter muito trabalho para revitalizar a Manchete", admitiu. Mas, ao ser perguntado se todo o investimento vai valer a pena, afirmou: "O tempo dirá".


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