São Paulo, terça-feira, 09 de julho de 2002

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TECNOLOGIA

Empresa monitora via satélite o uso das terras em todo o país e pode fazer relatório completo a cada 16 dias

Embrapa faz controle aéreo de queimadas

JOSÉ SERGIO OSSE
DA REPORTAGEM LOCAL

O trabalho realizado pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) Monitoramento por Satélites desenvolveu uma tecnologia para o controle orbital do uso das terras do país.
Utilizando os satélites americanos da família Landsat, os técnicos da empresa poderiam fazer o levantamento do uso das terras em todo o país a cada 16 dias.
De acordo com o pesquisador João Mangabeira, um dos responsáveis pelo monitoramento da Embrapa, o satélite proporciona um controle bastante eficaz das áreas plantadas do país. Com a ajuda de lentes calibradas eletronicamente para "ver" o que está plantado, é possível, entre outras coisas, fazer o levantamento da previsão de safra do país.
"Esse monitoramento é importante por diversos aspectos, mas, principalmente, pela possibilidade que nos dá de certificar os dados da produção. Assim, não precisamos ficar sabendo pelos americanos qual será o tamanho da nossa safra", diz Mangabeira.
"E, além disso, podemos apontar quais as áreas plantadas com problemas e sugerir possíveis rumos para o avanço da fronteira produtiva", afirma.
Segundo ele, porém, esse trabalho não é realizado sistematicamente pela Embrapa, principalmente por causa dos elevados custos do processo. A empresa realiza o monitoramento de acordo com a demanda por informações do governo e dos diversos órgãos públicos.
Segundo o pesquisador, o papel da Embrapa é apenas o de fornecer dados sobre o uso das terras para o governo -e apenas quando é pedido- e desenvolver programas para a disseminação desse mecanismo de monitoramento.
"Por exemplo, um banco que queira verificar se as plantações que financiou realmente existem precisa criar sua própria equipe de monitoramento. Nós podemos apenas treiná-los", afirmou o pesquisador.
"Mas o ideal, claro, seria fazer como nos EUA, onde o monitoramento oficial da agricultura é feito totalmente por satélites semanalmente, como fazemos com as queimadas aqui no Brasil."

Queimadas
O registro de queimadas no Brasil deste ano já começou a ser realizado pela Embrapa Monitoramento. Importante para o controle ambiental e para o controle de uso da terra, o programa faz levantamentos semanais da situação das queimadas em todo o país.
Utilizando o satélite americano NOAA 12, a Embrapa, em conjunto com o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisa Espacial), faz o levantamento, que é repassado ao Ministério da Agricultura e às diversas delegacias federais agrícolas do país para que os responsáveis pelas queimadas sejam punidos. O monitoramento é importante, pois funciona como arma de fiscalização para os órgãos oficiais.
Agentes das delegacias federais agrícolas vão a campo com os dados obtidos pelo satélite e fazem a inspeção das fazendas. Caso tenha havido alguma irregularidade, o fazendeiro é autuado.
Segundo o pesquisador Eduardo Caputi, um dos responsáveis pelo programa, a temporada de queimadas está começando. Ela afirma, porém, que já é possível prever que neste ano o número de queimadas deverá ser semelhante ao registrado em 2001.
"As condições climáticas estão ajudando e a previsão é que isso se mantenha nos próximos meses, os mais críticos do ano por causa da seca que atinge a maior parte do país", explica.
As queimadas são utilizadas principalmente para o rápido desmatamento de novas áreas para o plantio. Em alguns casos, porém, as queimadas são utilizadas para facilitar as atividades dos agricultores, como no caso da cana-de-açúcar. De acordo com Caputi, porém, o problema não são tanto as queimadas promovidas nos canaviais, dado que a maioria delas é bem controlada. "O perigo está nas queimadas sem controle, que podem se transformar em grandes incêndios", diz.
Esse tipo de fogo sem controle ocorre, principalmente, nas áreas de fronteira agropecuária, onde o desmatamento é complicado e, para agilizar o processo, é colocado fogo na mata para liberar o terreno. Esse tipo de prática é, hoje, muito comum em Mato Grosso, uma das mais importantes regiões de crescimento da agropecuária do país.



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