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Eletrobrás vê prejuízo em privatização de SP
Acionista da empresa de energia Cteep, estatal federal diz que governo paulista reduziu o preço mínimo para a venda em leilão
Diferença é calculada em
R$ 1,4 bi devido a pendência judicial sobre o pagamento de aposentadoria a
6.500 ex-funcionários
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
Para a Eletrobrás, a forma
como o governo do Estado de
São Paulo vendeu o controle
acionário da Cteep (Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista) lhe causou prejuízo. Ela afirma que o
Estado reduziu o preço mínimo
de venda e prejudicou os demais acionistas da companhia.
Estatal vinculada ao Ministério de Minas e Energia, a Eletrobrás é a segunda maior acionista da Cteep, com 35,3% do
capital total da empresa.
O leilão de privatização aconteceu na semana passada. A
empresa colombiana Isa (Interconexión Eléctrica S.A.) arrematou as ações por R$ 1,19 bilhão, o que correspondeu a um
ágio de 57,89% sobre o preço
mínimo estabelecido, de R$
755,6 milhões. A Eletrobrás
questiona a forma como o preço mínimo foi fixado.
A Folha obteve cópia de uma
carta do presidente da Eletrobrás, Aloisio Vasconcelos Novais, enviada ao secretário estadual de Energia, Mauro Arce,
duas semanas antes do leilão,
em que ele afirma que a companhia federal seria afetada.
A União tem participação direta no capital da Cteep, sendo
titular de 15,3% das ações ordinárias da empresa. Além disso,
o BNDESPar (subsidiária do
BNDES, que também pertence
à União) tem 2,9% das ações
preferenciais, e a Eletrobrás
tem 53,6% das ações preferenciais e 9,8% das ordinárias.
De acordo com a carta, o preço mínimo foi reduzido em razão da discussão judicial sobre
a responsabilidade pelo pagamento da aposentadoria de
6.500 ex-funcionários da Cesp
e da Cteep. A Cteep é originária
da divisão da Cesp (Companhia
Energética de São Paulo) no final dos anos 90.
Engenheiros do setor elétrico calculam que a redução tenha sido de R$ 1,4 bilhão. O secretário estadual de Energia,
Mauro Arce, diz que a redução
foi de cerca de R$ 300 milhões,
"em valor presente".
Benefícios
Uma lei de 1958 criou vantagens especiais para funcionários de empresas estaduais
paulistas, como a aposentadoria integral, e delegou ao Estado a responsabilidade por garantir as verbas para o pagamento. A Procuradoria Geral
do Estado entendeu que ele não
estava obrigado a pagar as vantagens especiais concedidas pelas empresas, mas apenas as
que são dadas aos funcionários
da administração direta. Assim,
parte dos pagamentos dos aposentados da Cesp e da Cteep foi
cortada.
Os aposentados obtiveram liminar da Justiça do Trabalho
para manter as aposentadorias,
e a Cteep passou a pagar os salários integrais, contando em
ser ressarcida pelo Estado. As
aposentadorias custam cerca
de R$ 200 milhões por ano, dos
quais cerca de R$ 130 milhões
estão sendo arcados pela Cteep.
Como a Justiça ainda não definiu de quem é a responsabilidade pelo ônus final, o Estado
incluiu no edital de venda um
""mecanismo de ajuste de preço
final do leilão" que levou à redução do preço mínimo de venda apontado pela Eletrobrás.
Foi feito um cálculo de quanto a empresa teria que desembolsar até 2015, se o quadro
atual continuasse inalterado. O
resultado apontou para um valor presente bruto de R$ 1,4 bilhão, que foi abatido do cálculo
do preço mínimo de venda.
Devolução
Pelo edital, se a Justiça concluir que a Cteep não tem responsabilidade em relação ao
pagamento dos aposentados, o
novo controlador terá de pagar
ao Estado de São Paulo o valor
que foi deduzido do preço mínimo de venda do bloco de controle, por ocasião do leilão. É aí
que começa a divergência da
Eletrobrás.
Na carta a Mauro Arce, o presidente da Eletrobrás afirma
que, ao descontar o custo dos
benefícios do preço das ações
do bloco de controle, o Estado
reduziu o valor da companhia
como um todo e, portanto, o
das ações dos minoritários, que
tiveram seus investimentos
aviltados.
A carta diz que o edital não
obriga o comprador a defender
a empresa na Justiça para desobrigá-la do compromisso com
as aposentadorias e ainda sugere que o novo controlador não
teria tal interesse, já que o sucesso de tal empreitada o obrigaria a fazer um pagamento
complementar ao Estado.
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