São Paulo, segunda-feira, 09 de julho de 2007

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Economista "pop" explica finanças diárias

Autor do best-seller "O Economista Clandestino" diz que força de vontade é maior para as decisões futuras do que para as imediatas

Os supermercados é que escolhem o produto para o cliente e carro usado bom nunca está a venda, diz o britânico Tim Harford

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Avesso ao economês, o economista britânico Tim Harford usa as leis da economia para afirmar que dificilmente alguém compra um carro usado em boas condições e que os supermercados determinam o que você compra e quanto paga. Segundo ele, os países pobres são roubados por seus dirigentes. Colunista do "Financial Times", Harford trabalha no Banco Mundial e tornou-se célebre após publicar o best-seller "O Economista Clandestino", editado no Brasil pela Record. Leia trechos da entrevista:

 

FOLHA - Por que os países pobres são pobres? Eles têm de dar duro e se esforçar para serem tão ruins?
TIM HARFORD -
Eu não diria que os países pobres dão duro para serem tão ruins. Eu diria que os dirigentes desses países dão duro pelo seu próprio benefício. Para se tornarem ricos, esses países precisam de um ambiente de negócios em que as pessoas tenham a oportunidade de criar riqueza -em vez de apenas de roubar as riquezas.

FOLHA - O que a China fez pela sua economia que o Brasil não fez?
HARFORD -
Não acho que a China seja tão única: o que é diferente é que o país foi impedido por um longo tempo [de se desenvolver]. A China é tão grande que o seu crescimento está mudando o mundo. O que Deng Xiaoping [líder que iniciou as reformas em 1978] fez foi permitir experiências em meio ao comunismo -as que funcionaram foram replicadas. Isso funciona em qualquer lugar.

FOLHA - Países emergentes sem passado autoritário conseguiriam poupar tanto quanto a China?
HARFORD -
Eu não acho que o desenvolvimento seja resultado de restrições, mas de bons projetos de investimentos. O problema não é falta de dinheiro, mas que ele é historicamente gasto de maneira ruim.

FOLHA - Por que as pessoas têm tanta dificuldade em economizar?
HARFORD -
Pesquisadores perguntaram a um grupo de pessoas se elas gostariam de comer agora uma fruta ou um doce -a maioria escolhia doce. Para outro grupo, fizeram a mesma pergunta, só que para a próxima semana. A maioria então queria fruta. A força de vontade é maior para decisões futuras. Empresas utilizaram isso nos fundos de pensão. No momento em que eram admitidos, os funcionários tinham de escolher quanto dos aumentos salariais futuros iria para o fundo. É como escolher a fruta para a próxima semana. Os fundos triplicaram nessas empresas.

FOLHA - O que uma pessoa não sabe quando vai ao supermercado?
HARFORD -
Os supermercados tentam sempre descobrir que tipo de consumidor você é. No supermercado que freqüento, há uma gama de produtos populares, com embalagem horrorosa, que mais parece doação humanitária para desabrigados. Isso é deliberado: eles querem que só os pobres comprem este produto. Esperam que os ricos fiquem com algo caro.

FOLHA - Por que economistas usam jargão que ninguém entende?
HARFORD -
Prefiro falar sobre coisas do dia-a-dia, como cafezinho e supermercados. Todas as pessoas têm uma opinião. Se você consegue explicar isso, então talvez possa falar porque a África é pobre e a China, rica.

FOLHA - Por que é tão difícil comprar um carro usado decente?
HARFORD -
É difícil porque o vendedor não pode provar que o produto é bom. Ele até consegue vender um carro ruim e barato, mas nunca um bom por um preço razoável. Então, fica com o carro bom até o final. Uma vez, eu comprei um carro do meu cunhado pensando que ele não iria me enganar. Depois de sete dias o carro pifou.


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