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Economista "pop" explica finanças diárias
Autor do best-seller "O Economista Clandestino" diz que força de vontade é maior para as decisões futuras do que para as imediatas
Os supermercados é que escolhem o produto para o cliente e carro usado bom nunca está a venda, diz o britânico Tim Harford
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Avesso ao economês, o economista britânico Tim Harford
usa as leis da economia para
afirmar que dificilmente alguém compra um carro usado
em boas condições e que os supermercados determinam o
que você compra e quanto paga.
Segundo ele, os países pobres
são roubados por seus dirigentes. Colunista do "Financial Times", Harford trabalha no Banco Mundial e tornou-se célebre
após publicar o best-seller "O
Economista Clandestino", editado no Brasil pela Record. Leia
trechos da entrevista:
FOLHA - Por que os países pobres
são pobres? Eles têm de dar duro e
se esforçar para serem tão ruins?
TIM HARFORD - Eu não diria que
os países pobres dão duro para
serem tão ruins. Eu diria que os
dirigentes desses países dão
duro pelo seu próprio benefício. Para se tornarem ricos, esses países precisam de um ambiente de negócios em que as
pessoas tenham a oportunidade de criar riqueza -em vez de
apenas de roubar as riquezas.
FOLHA - O que a China fez pela sua
economia que o Brasil não fez?
HARFORD - Não acho que a China seja tão única: o que é diferente é que o país foi impedido
por um longo tempo [de se desenvolver]. A China é tão grande que o seu crescimento está
mudando o mundo. O que Deng
Xiaoping [líder que iniciou as
reformas em 1978] fez foi permitir experiências em meio ao
comunismo -as que funcionaram foram replicadas. Isso funciona em qualquer lugar.
FOLHA - Países emergentes sem
passado autoritário conseguiriam
poupar tanto quanto a China?
HARFORD - Eu não acho que o
desenvolvimento seja resultado de restrições, mas de bons
projetos de investimentos. O
problema não é falta de dinheiro, mas que ele é historicamente gasto de maneira ruim.
FOLHA - Por que as pessoas têm
tanta dificuldade em economizar?
HARFORD - Pesquisadores perguntaram a um grupo de pessoas se elas gostariam de comer
agora uma fruta ou um doce -a
maioria escolhia doce. Para outro grupo, fizeram a mesma
pergunta, só que para a próxima semana. A maioria então
queria fruta. A força de vontade
é maior para decisões futuras.
Empresas utilizaram isso nos
fundos de pensão. No momento em que eram admitidos, os
funcionários tinham de escolher quanto dos aumentos salariais futuros iria para o fundo. É
como escolher a fruta para a
próxima semana. Os fundos triplicaram nessas empresas.
FOLHA - O que uma pessoa não sabe quando vai ao supermercado?
HARFORD - Os supermercados
tentam sempre descobrir que
tipo de consumidor você é. No
supermercado que freqüento,
há uma gama de produtos populares, com embalagem horrorosa, que mais parece doação
humanitária para desabrigados. Isso é deliberado: eles querem que só os pobres comprem
este produto. Esperam que os
ricos fiquem com algo caro.
FOLHA - Por que economistas
usam jargão que ninguém entende?
HARFORD - Prefiro falar sobre
coisas do dia-a-dia, como cafezinho e supermercados. Todas
as pessoas têm uma opinião. Se
você consegue explicar isso, então talvez possa falar porque a
África é pobre e a China, rica.
FOLHA - Por que é tão difícil comprar um carro usado decente?
HARFORD - É difícil porque o
vendedor não pode provar que
o produto é bom. Ele até consegue vender um carro ruim e barato, mas nunca um bom por
um preço razoável. Então, fica
com o carro bom até o final.
Uma vez, eu comprei um carro
do meu cunhado pensando que
ele não iria me enganar. Depois
de sete dias o carro pifou.
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