São Paulo, quarta-feira, 09 de agosto de 2006

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EUA interrompem alta de juros iniciada em 2004

Richard Drew/Associated Press
Operador no pregão da Bolsa de Nova York, que recuou 0,41%


Fed mantém taxa em 5,25%, como esperado, mas diz que pode retomar altas

Mercados fecham em baixa moderada; para analista, BC americano deixou todas as opções abertas para sua próxima reunião


VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DE NOVA YORK

O Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA) interrompeu ontem o ciclo de alta dos juros iniciados em junho de 2004 e manteve a taxa básica da economia americana em 5,25% ao ano. Mas deixou aberta a possibilidade de novos aumentos. A decisão foi adotada por nove votos a favor e um contra.
Foram 17 expansões consecutivas, que levaram a taxa de 1% ao ano (a menor desde 1958) para o patamar atual. O objetivo da autoridade monetária foi reativar a economia americana, que emitia sinais de recessão após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001.
A decisão deve beneficiar mercados emergentes como o Brasil. Investidores buscam taxas onde a remuneração seja melhor. Se os juros não sobem nos EUA, outros países ficam mais atrativos.
A continuidade do aperto monetário na maior economia do planeta poderia fazer ainda com que os EUA comprassem menos produtos de seus parceiros internacionais, e a queda das encomendas colocaria um freio em todo o mundo.
"Parece provável que a pressão inflacionária se modere, refletindo expectativas de uma inflação contida e os efeitos acumulados das decisões de política monetária e de outros fatores, restringindo a demanda agregada. Apesar disso, o comitê considera a existência de risco de inflação", diz o comunicado do Fed.
Esta última frase acendeu um sinal de alerta entre economistas. Analistas ouvidos pela Folha disseram esperar que o Fed promova um novo ciclo de aperto monetário, possibilidade acentuada pela falta de unanimidade da decisão (leia texto nesta página).
"A extensão e a oportunidade de ajustes adicionais que possam ser necessários para controlar esses riscos dependerão da evolução da inflação e do crescimento econômico, em função da informação recebida", completa o documento.
O economista do National City Corp Richard Dekaser avalia que o comunicado do Fed foi equilibrado e que "o banco está preparado para agir, se necessário". "Basicamente eles estão deixando todas as opções abertas", afirmou.
A taxa definida ontem vigora até 20 de setembro, data da próxima reunião do Fomc (sigla em inglês para Comitê Federal de Mercado Aberto).
A economia americana cresceu 2,5% no segundo trimestre, resultado abaixo dos 5,6% registrados nos três primeiros meses do ano. O Fed relacionou essa queda a uma desaceleração do mercado imobiliário e ao efeito de aumentos anteriores das taxas de juros (que não têm impacto imediato na economia como um todo) e nos preços da energia.
Outra preocupação do banco central americano é o aumento do núcleo da inflação - que exclui preços dos setores de alimentação e energia, itens mais voláteis. Até junho, o índice acumulou alta de 3,2%, contra 2,2% registrados para todo o ano passado.
Apesar de amplamente esperada, a decisão do Fed agitou o mercado. A Bolsa de Nova York oscilou para cima e para baixo ao longo do dia e fechou em baixa de 0,41%, para 11.173,59 pontos. A Nasdaq (que reúne ações de empresas de tecnologia) teve baixa de 0,56%, aos 2.060,85 pontos. O dólar fechou estável em relação ao euro e ao iene.
No Brasil, a Bovespa acompanhou a tendência dominante em Wall Street e fechou com uma queda de 0,25%, aos 37.600 pontos.
Investidores e analistas, que não esperavam a sinalização de novas altas, concentram agora as atenções para o CPI (sigla para Índice de Preços ao Consumidor), em uma semana.


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