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Jereissati ironiza o interesse da Portugal Telecom por Telemar
"Desde quando empresa portuguesa é nacional?, questiona ele, dizendo que falta "musculatura" à PT para o negócio
Empresário diz que é a favor da criação de uma supertele de capital nacional e reclama de rentabilidade
do setor de telefonia
EM SÃO PAULO
O empresário Carlos Jereissati rechaçou o interesse da
Portugal Telecom de se tornar
acionista da Telemar e da supertele nacional, que resultaria
da fusão da empresa com a Brasil Telecom (BrT).
"Desde quando uma empresa
portuguesa é nacional? Criaram um conceito jurídico novo? Isso é recíproco para brasileiros em Portugal?", indagou.
Para ele, o grupo português (sócio do Grupo Folha no UOL)
não tem "musculatura" para
comprar parte do controle da
Telemar.
(ELVIRA LOBATO)
FOLHA - O Conselho de Administração da Portugal Telecom autorizou seus executivos a fazer uma
oferta de compra de parte da Telemar, no final de maio. O presidente
da PT, Henrique Granadeiro, esteve
no Brasil na ocasião. Como o sr. vê
essa ação dos portugueses?
CARLOS JEREISSATI - Desde quando uma empresa portuguesa é
nacional? Isso é mutuamente
recíproco? Esse é um conceito
jurídico novo? Como acionista,
não posso imaginar a razão para a Telemar fazer sociedade
com a Portugal Telecom. Só se
fosse para promover uma venda disfarçada.
Alguma autoridade ingênua,
e outras não tão ingênuas, podem até tentar patrocinar uma
coisa dessa natureza, mas só
promove confusão dentro da
Telemar, que tem sócios privados. Se entrar um quarto sócio,
operador de telefonia, será o
desmonte da empresa. Excluam-me desse jogo!
Além disso, a PT não tem
musculatura financeira suficiente para ter participação relevante na Telemar.
FOLHA - E se eles venderem os 50%
que possuem da Vivo?
JEREISSATI - Se venderem, terão
caixa, mas acho que farão melhor se continuarem na Vivo
com os espanhóis, onde poderão viver novas e melhores
emoções. Se querem ser simples investidores na Telemar,
como os fundos de investimento estrangeiros o são, digo que
tem um monte de investidores
querendo investir na Telemar.
Mas do que estamos falando?
De uma empresa nacional ou
de um travesti luso-brasileiro?
Se é para ter um sócio desnecessário, com dinheiro, prefiro
os anglo-saxões. Se for para
acrescentar charme à companhia, prefiro os franceses.
FOLHA - Politicamente, o sr. acha
necessário o país uma tele com controle de capital nacional?
JEREISSATI - Acho. Temos informações de que existem países
da Europa em que a inteligência dos governos monitoram
grandes hotéis, para saber os
passos de alguns visitantes. É
algo que se diz, mas que não se
prova. Não estou dizendo que
precisamos de uma tele nacional para espionar os outros,
mas, em tempos de guerra ou
de ameaças, a existência da empresa nacional se justifica.
FOLHA - Nos EUA, as Baby Bells,
nascidas do desmembramento da
AT&T, estão se reagrupando. A tendência aqui também é a de fusão?
JEREISSATI - É razoável supor
que sim. Não há mercado no
Brasil para três companhias de
telefonia fixa local. O que a imprensa exagera é em dizer que
as partes estão prontas pra
conversar. É algo que pode
acontecer no futuro. Esse movimento já aconteceu na telefonia móvel, onde os pequenos
operadores desapareceram.
O processo passa por duas
precondições. A primeira é o
que pensa a nova diretoria da
Anatel sobre o assunto. Dos
cinco conselheiros da agência,
dois são recém-empossados [o
presidente, Ronaldo Sardenberg, e Antonio Bedran] e um
terceiro será substituído em
novembro. Como os assuntos
são aprovados por maioria, pode-se falar em nova Anatel. A
velha certamente seria contra.
FOLHA - E a segunda precondição?
JEREISSATI - É saber se a telefonia fixa continuará subsidiando a telefonia celular. Os 39 milhões de telefones fixos do Brasil subsidiam os 106 milhões de
telefones móveis. As teles fixas
ficam com 16% da receita gerada pelas chamadas de telefones
fixo para celular, e as celulares,
com 84%. Na Europa, a proporção é de 30% para as fixas.Temos feito representações na
Anatel para mudar isso, sem
sucesso.
FOLHA - Mas, como as operadoras
de telefonia fixa são também de telefonia celular, o dinheiro não sai de
um bolso para entrar no outro?
JEREISSATI - Não, porque a relação entre as empresas é desbalanceada. Os italianos, que controlam a TIM, venderam sua
participação na Brasil Telecom
para os fundos de pensão e saíram da telefonia fixa. A Telefônica só tem metade do capital
da Vivo. A Embratel é do mesmo grupo controlador da Claro, mas não perde receita para
a telefonia móvel, porque é de
longa distância, e a sangria se
dá na telefonia fixa local.
FOLHA - Uma crítica à criação da
supertele nacional é a de que seria
uma reestatização.
JEREISSATI - É um mito criado
pela imprensa. O BNDES tem
25% de participação na holding
que controla o capital votante,
mas sua participação no capital
total é de apenas 4,8%.
Há uma fragilidade do controle societário tanto na BrT
como na Telemar. Não que os
acionistas sejam fracos financeiramente, mas a participação
de cada um em relação ao capital total é pequena.
Os grandes acionistas da Telemar são os fundos de investimentos estrangeiros Brandes,
Capital, Templeton, e Genesis.
O Brandes tem participação
maior no capital total (16%) do
que a Previ e o BNDES juntos.
Se os sócios nacionais aumentarem sua participação acionária, está feita a empresa nacional.
FOLHA - Completaram-se nove
anos da privatização das telefônicas, no final de julho. O investimento foi lucrativo até agora?
JEREISSATI - O lucro do Bradesco, no primeiro semestre deste
ano, de R$ 4 bilhões, foi maior
do que o de todas as empresas
de telefonia fixa e celular juntas. A margem no setor é muito
estreita.
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