São Paulo, quinta-feira, 09 de agosto de 2007

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Jereissati ironiza o interesse da Portugal Telecom por Telemar

"Desde quando empresa portuguesa é nacional?, questiona ele, dizendo que falta "musculatura" à PT para o negócio

Empresário diz que é a favor da criação de uma supertele de capital nacional e reclama de rentabilidade do setor de telefonia

EM SÃO PAULO

O empresário Carlos Jereissati rechaçou o interesse da Portugal Telecom de se tornar acionista da Telemar e da supertele nacional, que resultaria da fusão da empresa com a Brasil Telecom (BrT). "Desde quando uma empresa portuguesa é nacional? Criaram um conceito jurídico novo? Isso é recíproco para brasileiros em Portugal?", indagou. Para ele, o grupo português (sócio do Grupo Folha no UOL) não tem "musculatura" para comprar parte do controle da Telemar. (ELVIRA LOBATO)

 

FOLHA - O Conselho de Administração da Portugal Telecom autorizou seus executivos a fazer uma oferta de compra de parte da Telemar, no final de maio. O presidente da PT, Henrique Granadeiro, esteve no Brasil na ocasião. Como o sr. vê essa ação dos portugueses?

CARLOS JEREISSATI -
Desde quando uma empresa portuguesa é nacional? Isso é mutuamente recíproco? Esse é um conceito jurídico novo? Como acionista, não posso imaginar a razão para a Telemar fazer sociedade com a Portugal Telecom. Só se fosse para promover uma venda disfarçada.
Alguma autoridade ingênua, e outras não tão ingênuas, podem até tentar patrocinar uma coisa dessa natureza, mas só promove confusão dentro da Telemar, que tem sócios privados. Se entrar um quarto sócio, operador de telefonia, será o desmonte da empresa. Excluam-me desse jogo! Além disso, a PT não tem musculatura financeira suficiente para ter participação relevante na Telemar.

FOLHA - E se eles venderem os 50% que possuem da Vivo?
JEREISSATI -
Se venderem, terão caixa, mas acho que farão melhor se continuarem na Vivo com os espanhóis, onde poderão viver novas e melhores emoções. Se querem ser simples investidores na Telemar, como os fundos de investimento estrangeiros o são, digo que tem um monte de investidores querendo investir na Telemar. Mas do que estamos falando?
De uma empresa nacional ou de um travesti luso-brasileiro? Se é para ter um sócio desnecessário, com dinheiro, prefiro os anglo-saxões. Se for para acrescentar charme à companhia, prefiro os franceses.

FOLHA - Politicamente, o sr. acha necessário o país uma tele com controle de capital nacional?
JEREISSATI -
Acho. Temos informações de que existem países da Europa em que a inteligência dos governos monitoram grandes hotéis, para saber os passos de alguns visitantes. É algo que se diz, mas que não se prova. Não estou dizendo que precisamos de uma tele nacional para espionar os outros, mas, em tempos de guerra ou de ameaças, a existência da empresa nacional se justifica.

FOLHA - Nos EUA, as Baby Bells, nascidas do desmembramento da AT&T, estão se reagrupando. A tendência aqui também é a de fusão?
JEREISSATI -
É razoável supor que sim. Não há mercado no Brasil para três companhias de telefonia fixa local. O que a imprensa exagera é em dizer que as partes estão prontas pra conversar. É algo que pode acontecer no futuro. Esse movimento já aconteceu na telefonia móvel, onde os pequenos operadores desapareceram.
O processo passa por duas precondições. A primeira é o que pensa a nova diretoria da Anatel sobre o assunto. Dos cinco conselheiros da agência, dois são recém-empossados [o presidente, Ronaldo Sardenberg, e Antonio Bedran] e um terceiro será substituído em novembro. Como os assuntos são aprovados por maioria, pode-se falar em nova Anatel. A velha certamente seria contra.

FOLHA - E a segunda precondição?
JEREISSATI -
É saber se a telefonia fixa continuará subsidiando a telefonia celular. Os 39 milhões de telefones fixos do Brasil subsidiam os 106 milhões de telefones móveis. As teles fixas ficam com 16% da receita gerada pelas chamadas de telefones fixo para celular, e as celulares, com 84%. Na Europa, a proporção é de 30% para as fixas.Temos feito representações na Anatel para mudar isso, sem sucesso.

FOLHA - Mas, como as operadoras de telefonia fixa são também de telefonia celular, o dinheiro não sai de um bolso para entrar no outro?
JEREISSATI -
Não, porque a relação entre as empresas é desbalanceada. Os italianos, que controlam a TIM, venderam sua participação na Brasil Telecom para os fundos de pensão e saíram da telefonia fixa. A Telefônica só tem metade do capital da Vivo. A Embratel é do mesmo grupo controlador da Claro, mas não perde receita para a telefonia móvel, porque é de longa distância, e a sangria se dá na telefonia fixa local.

FOLHA - Uma crítica à criação da supertele nacional é a de que seria uma reestatização.
JEREISSATI -
É um mito criado pela imprensa. O BNDES tem 25% de participação na holding que controla o capital votante, mas sua participação no capital total é de apenas 4,8%. Há uma fragilidade do controle societário tanto na BrT como na Telemar. Não que os acionistas sejam fracos financeiramente, mas a participação de cada um em relação ao capital total é pequena. Os grandes acionistas da Telemar são os fundos de investimentos estrangeiros Brandes, Capital, Templeton, e Genesis. O Brandes tem participação maior no capital total (16%) do que a Previ e o BNDES juntos. Se os sócios nacionais aumentarem sua participação acionária, está feita a empresa nacional.

FOLHA - Completaram-se nove anos da privatização das telefônicas, no final de julho. O investimento foi lucrativo até agora?
JEREISSATI -
O lucro do Bradesco, no primeiro semestre deste ano, de R$ 4 bilhões, foi maior do que o de todas as empresas de telefonia fixa e celular juntas. A margem no setor é muito estreita.


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