São Paulo, quinta-feira, 09 de setembro de 2004

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RECEITA ORTODOXA

Segundo o ministro da Casa Civil, baixar ou subir a taxa em meio ponto não impedirá o crescimento

Para Dirceu, subir juro não afeta retomada

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

O ministro da Casa Civil, José Dirceu, disse ontem no Rio que o país continuará crescendo mesmo se o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) aumentar a taxa de juros.
"Essa é uma questão que o Copom vai analisar. A ata já sinalizou. O Copom considera que existem pressões inflacionárias, mas não acredito que baixar meio ponto ou subir o juro meio ponto [percentual] vá tirar o ímpeto do país e do crescimento. Não vejo como isso possa trazer uma reversão do crescimento", afirmou ele em entrevista na sede da Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro).
De acordo com o ministro o Brasil "está crescendo com esse juro e vai continuar crescendo".
Embora tenha defendido uma queda no valor dos juros ("precisa e tem que diminuir") de forma gradual, conforme disse em palestra proferida antes da entrevista, Dirceu afirmou que sua opinião não será levada aos integrantes do Copom, que se reúnem na próxima semana para debater os rumos da Selic (taxa básica).
Anteontem, o próprio BC e o Tesouro Nacional sinalizaram que a inflação segue como uma preocupação a ser combatida pelo governo, sinalizando uma possível alta nos juros.
"Isso é uma questão conjuntural que não está decidida ainda. O Copom é que vai decidir, não vou opinar sobre ela", disse o ministro, ao acrescentar que o governo já "trouxe o juro de 25% para 16%" e que o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, e o governo querem "que os juros baixem, até porque o país tem um serviço da dívida menor, tem mais crédito, mais investimento".
"O desafio é grande. Um país que tem juros reais de 10,5% tem um grande desafio pela frente, mas ele precisa renegociar uma dívida líquida de quase R$ 800 bilhões. Portanto, demanda e precisa da poupança de todos nós. Nós vamos ter que ter capacidade para, de maneira lenta, segura e gradual, compatibilizar este juro com 3% de investimento, que é o que o país precisa do setor público federal. Hoje não chega a 1%", afirmou Dirceu.
Na entrevista, o ministro da Casa Civil negou que tenha divergências com Palocci em relação à articulação de um pacto social entre a CUT (Central Única dos Trabalhadores) e a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). As divergências foram relatadas pela Folha ontem.
"Não existe nenhum problema entre mim e o ministro Palocci sobre pacto social, até porque nós não discutimos isso. Foi a CUT que levou essa discussão ao empresariado. No devido momento e na hora em que o presidente determinar, e se for o caso, o governo vai analisar. Não é fato que exista problema entre Palocci e mim sobre isso", disse.
O presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Carlos Lessa, defendeu o pacto social entre empresários e sindicatos para conter a inflação e conseqüentemente uma alta de juros. Disse que isso sempre foi um "sonho" pessoal e algo "fundamental" para o país, embora reconheça que a proposta possa causar o "temor" do Banco Central com o retorno da inflação.
"Eu sonho com a idéia de um acordo social para segurar a inflação. Claro que, com isso, a taxa de juros pode cair. Mas empresas e sindicatos têm de pactuar uma postura comprometida em conter o processo inflacionário", disse.


Colaborou Pedro Soares, da Sucursal do Rio

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