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RECEITA ORTODOXA
Segundo o ministro da Casa Civil, baixar ou subir a taxa em meio ponto não impedirá o crescimento
Para Dirceu, subir juro não afeta retomada
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
O ministro da Casa Civil, José
Dirceu, disse ontem no Rio que o
país continuará crescendo mesmo se o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central)
aumentar a taxa de juros.
"Essa é uma questão que o Copom vai analisar. A ata já sinalizou. O Copom considera que
existem pressões inflacionárias,
mas não acredito que baixar meio
ponto ou subir o juro meio ponto
[percentual] vá tirar o ímpeto do
país e do crescimento. Não vejo
como isso possa trazer uma reversão do crescimento", afirmou ele
em entrevista na sede da Firjan
(Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro).
De acordo com o ministro o
Brasil "está crescendo com esse
juro e vai continuar crescendo".
Embora tenha defendido uma
queda no valor dos juros ("precisa e tem que diminuir") de forma
gradual, conforme disse em palestra proferida antes da entrevista,
Dirceu afirmou que sua opinião
não será levada aos integrantes do
Copom, que se reúnem na próxima semana para debater os rumos da Selic (taxa básica).
Anteontem, o próprio BC e o
Tesouro Nacional sinalizaram
que a inflação segue como uma
preocupação a ser combatida pelo
governo, sinalizando uma possível alta nos juros.
"Isso é uma questão conjuntural que não está decidida ainda. O
Copom é que vai decidir, não vou
opinar sobre ela", disse o ministro, ao acrescentar que o governo
já "trouxe o juro de 25% para
16%" e que o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, e o governo querem "que os juros baixem, até porque o país tem um
serviço da dívida menor, tem
mais crédito, mais investimento".
"O desafio é grande. Um país
que tem juros reais de 10,5% tem
um grande desafio pela frente,
mas ele precisa renegociar uma
dívida líquida de quase R$ 800 bilhões. Portanto, demanda e precisa da poupança de todos nós. Nós
vamos ter que ter capacidade para, de maneira lenta, segura e gradual, compatibilizar este juro com
3% de investimento, que é o que o
país precisa do setor público federal. Hoje não chega a 1%", afirmou Dirceu.
Na entrevista, o ministro da Casa Civil negou que tenha divergências com Palocci em relação à
articulação de um pacto social entre a CUT (Central Única dos Trabalhadores) e a Fiesp (Federação
das Indústrias do Estado de São
Paulo). As divergências foram relatadas pela Folha ontem.
"Não existe nenhum problema
entre mim e o ministro Palocci sobre pacto social, até porque nós
não discutimos isso. Foi a CUT
que levou essa discussão ao empresariado. No devido momento
e na hora em que o presidente determinar, e se for o caso, o governo vai analisar. Não é fato que
exista problema entre Palocci e
mim sobre isso", disse.
O presidente do BNDES (Banco
Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social), Carlos Lessa, defendeu o pacto social entre
empresários e sindicatos para
conter a inflação e conseqüentemente uma alta de juros. Disse
que isso sempre foi um "sonho"
pessoal e algo "fundamental" para o país, embora reconheça que a
proposta possa causar o "temor"
do Banco Central com o retorno
da inflação.
"Eu sonho com a idéia de um
acordo social para segurar a inflação. Claro que, com isso, a taxa de
juros pode cair. Mas empresas e
sindicatos têm de pactuar uma
postura comprometida em conter
o processo inflacionário", disse.
Colaborou Pedro Soares,
da Sucursal do Rio
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