São Paulo, quinta-feira, 09 de setembro de 2004

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MERCOSUL

Ministro argentino traz lista ambiciosa de reivindicações; Kirchner confirma que não cumprirá prazo do setor automotivo

Lavagna chega para tentar mudar relações

CLÁUDIA DIANNI
DE BUENOS AIRES

O ministro da Economia da Argentina, Roberto Lavagna, chega hoje a Brasília acompanhado do secretário de Indústria, Alberto Dumont, e mais sete empresários. Quer discutir o que os argentinos consideram as causas dos atuais conflitos comerciais, as conseqüências do colapso de 2001 para a integração e as diferenças de escala econômica com o Brasil.
Mecanismos formais de proteção para a sua indústria, compensações para variações cambiais, investimentos da Petrobras e linhas de crédito são as principais demandas dos argentinos.
Lavagna se reúne com os ministros Antonio Palocci Filho (Fazenda), Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) e Celso Amorim (Exterior). Ontem, o presidente Néstor Kirchner anunciou formalmente que a Argentina não vai cumprir o prazo estabelecido pelo Mercosul de liberalizar o mercado de automóveis em 2006. "Queremos que a indústria automotiva se desenvolva no Brasil, mas também na Argentina. Estou seguro de que isso será compreendido pelo meu amigo, o presidente Lula", disse Kirchner.
Segundo a Folha apurou, Brasília vai concordar em mudar o cronograma. Tem interesse em que a Argentina tenha indústrias fortes não só para equilibrar o comércio, mas evitar inclinações liberais. Com indústrias para proteger na Argentina, assim como no Brasil, o vizinho não teria inclinações liberalizantes de comércio, como nos anos 90, que prejudiquem os planos de Lula de fortalecer a integração sul-americana para enfrentar o objetivo dos EUA de criar uma área de livre comércio no continente que poderia favorecer interesses americanos. Esse objetivo explicaria, em parte, as concessões do Brasil ao vizinho.
A Argentina também quer discutir a adoção de um mecanismo que estabeleça uma forma de compensação comercial atrelado à variação do câmbio para proteger suas indústrias. Quer salvaguardas automáticas a serem adotadas toda vez que o real valer menos do que o peso. Essa diferença de câmbio torna os produtos brasileiros mais baratos, aumentando as importações que os empresários argentinos entendem como "invasão" -o que ocorreu com os eletrodomésticos em julho.
Na pauta também devem entrar as queixas argentinas contra os incentivos fiscais dos Estados brasileiros, formas de acesso às linhas de crédito do BNDES e pedidos de intervenção para que a Petrobras faça investimentos em gás.

Pauta construtiva
Furlan não quer discutir com Lavagna as últimas pendências comerciais entre os dois países, como a imposição de barreiras às exportações brasileiras de geladeiras, fogões e TVs. Segundo a assessoria de imprensa do Desenvolvimento, o Brasil quer trabalhar sobre um pauta construtiva.
Ontem, Furlan se reuniu com seus secretários para acertar quais seriam os pontos apresentados pelo Brasil na reunião com Lavagna. Para Furlan, as pendências já estão sendo discutidas bilateralmente entre os empresários e o governo em fórum específico. Entre os assuntos que Furlan quer evitar está o acordo automotivo.


Colaborou a Sucursal de Brasília

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