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TECNOLOGIA
Apoiado por Argentina e Bolívia, país apresenta projeto que pede limites para o respeito à propriedade intelectual
Brasil abre uma nova batalha de patentes com Estados Unidos
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
O Brasil, com o apoio da Argentina e da Bolívia, está iniciando o
que promete se transformar em
mais uma complicada batalha comercial-ideológica com os Estados Unidos (e outros países desenvolvidos), em torno do respeito à propriedade intelectual.
Desta vez, o campo da batalha
não é a OMC (Organização Mundial do Comércio), mas a Ompi
(Organização Mundial de Propriedade Intelectual), também sediada em Genebra, como a OMC.
Brasil, Argentina e Bolívia apresentaram projeto pelo qual a Ompi deveria levar em conta em suas
regulamentações uma "agenda
do desenvolvimento", tal como,
ao menos retoricamente, foi assumido pela OMC e é a prática histórica da Unctad -o braço da
ONU para Comércio e Desenvolvimento.
A fundamentação para incorporar a "agenda do desenvolvimento" foi assim formulada, no
documento dos três países sul-americanos:
"A inovação tecnológica, a ciência e a atividade criativa em geral
são corretamente reconhecidas
como importantes fontes de progresso material e de bem-estar.
No entanto, apesar de importantes avanços científicos e tecnológicos, uma significativa brecha de
conhecimento, assim como uma
brecha digital, continua a separar
as nações ricas das pobres".
Até aí, é retórica, que dificilmente sofrerá reparos de quem
quer que seja. São constatações já
feitas em inúmeras reuniões internacionais, com concordância
generalizada.
O ponto para a polêmica futura
vem a seguir, quando o projeto
pede limites para o respeito à propriedade intelectual, ao dizer que
ela "não pode ser vista como um
fim em si mesmo" e que a harmonização das leis de propriedade
intelectual, que levaria a um padrão mais elevado de proteção em
todos os países, não pode deixar
de levar em conta os diferentes níveis de desenvolvimento.
"A proteção à propriedade intelectual é um instrumento político
cuja operação pode, de acordo
com a prática, produzir benefícios
assim como custos, que podem
variar de acordo com o nível de
desenvolvimento de um país."
Análise individual
Por isso, o trio de países do Sul
requer que, em vez de uma harmonização de regras, que levaria
os padrões mais altos dos países
ricos a servirem de parâmetro,
haja uma análise "caso a caso".
Traduzindo: países menos desenvolvidos teriam o direito de serem menos rígidos na proteção à
propriedade intelectual, tese que
provoca furor nos EUA e nos países em que há elevado nível de
inovação tecnológica. Todos eles
acusam países mais pobres ou
mesmo países médios como o
Brasil de praticar pirataria.
A nova batalha em torno da
propriedade intelectual tem um
antecedente próximo: na Conferência Ministerial da OMC em
Doha, há quase três anos, o Brasil
defendeu a tese de que o respeito
às patentes de medicamentos não
poderia sobrepor-se ao direito
dos países pobres de fabricarem
e/ou importarem medicamentos
a preços mais baixos, para atender "objetivos de saúde pública".
O antecedente, não por acaso,
está citado no projeto apresentado por Brasil, Argentina e Bolívia.
O texto diz que a Ompi está envolvida em discussões sobre normais em vários comitês técnicos e
acrescenta: "Algumas dessas atividades poderiam levar países em
desenvolvimento e países menos
desenvolvidos (LDCs, no jargão
diplomático) a concordar com
padrões de proteção à propriedade intelectual que excedam amplamente as obrigações existentes
no acordo Trips da OMC, embora
tais países ainda estejam lutando
com o custoso processo de implementação do próprio Trips" (sigla
em inglês para Acordo sobre aspectos da Propriedade Intelectual
Relativos ao Comércio).
O alvo central da crítica dos três
países é o SPLT (sigla em inglês
para Tratado de Lei Substantiva
sobre Patentes), que "aumentaria
consideravelmente os padrões de
proteção às patentes, criando novas obrigações que os países em
desenvolvimento dificilmente estariam em condições de implementar".
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