São Paulo, sábado, 09 de setembro de 2006

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Não há risco de falta de gás, diz Bolívia

Novo presidente da YPFB contesta Petrobras e afirma que país pode atender aos limites máximos do contratos atuais

Ex-funcionário da Petrobras Bolívia, Ortiz diz que o abastecimento do mercado brasileiro depende dos investimentos da empresa


FABIANO MAISONNAVE
DA REPORTAGEM LOCAL

A indústria do gás instalada na Bolívia tem condições de atender a todos os contratos nos próximos anos em vigor mesmo se os compradores -leiam-se Argentina e Brasil- exigirem os volumes máximos previstos, disse à Folha o recém-empossado presidente da YPFB (estatal petroleira), Juan Carlos Ortiz Banzer.
A afirmação contradiz declarações feitas nesta semana pelo presidente da Petrobras Bolívia, José Fernando de Freitas, de que haveria falta de produto se todos os compradores passassem a requerer o total previsto nos contratos.
Atualmente, o Brasil compra 26 milhões dos 30 milhões de metros cúbicos diários previstos, enquanto a Argentina importa 4,9 milhões dos 7,7 milhões de metros cúbicos/dia estabelecidos em seu contrato.
Economista, Ortiz, 38, é uma exceção na cúpula do governo Evo Morales: membro de famílias tradicionais, trabalhou no setor privado por 15 anos, inclusive na Petrobras Bolívia. Leia, a seguir, entrevista concedida à Folha, por telefone:
 

FOLHA - O sr. concorda com a avaliação da Petrobras Bolívia de que o país não tem condições de atender aos contratos vigentes?
JUAN CARLOS ORTIZ BANZER
- Neste momento, a Bolívia está cumprindo à perfeição todos os seus compromissos de exportação. Acredito que esse quadro se manterá para os próximos meses e anos. Sem dúvida, qualquer crescimento significativo da demanda terá de estar acompanhado por um crescimento significativo do desenvolvimento de campos. Assim que eu tomo a palavra de declarações anteriores de funcionários da Petrobras no sentido de que a empresa garante todos os investimentos necessários na Bolívia para abastecer o mercado brasileiro. Há outras companhias na Bolívia neste momento com as quais garantimos o abastecimento da Argentina.

FOLHA - Se Brasil e Argentina pedirem os volumes máximos previstos em contrato hoje, serão atendidos?
ORTIZ
- Podemos continuar durante os próximos meses e anos os contratos atuais. Os contratos atuais estabelecem volumes que estão ligeiramente acima dos volumes atuais, e estamos em condições de cumpri-los.

FOLHA - Quando o governo adiou parte da nacionalização por falta de dinheiro, foi anunciada a transferência de US$ 180 milhões do banco central à YPFB. Essa operação, porém, é ilegal pela atual lei boliviana. O governo a fará mesmo assim?
ORTIZ
- A refundação da YPFB efetivamente precisa de financiamento. O fato de esse financiamento não poder vir do BC não significa que não há outras fontes de financiamento sobre as quais estamos trabalhando.

FOLHA - Quais são essas fontes?
ORTIZ
- Eu gostaria de anunciar quando o tema estiver fechado.

FOLHA - A PDVSA é uma delas?
ORTIZ
- Anunciaremos quando o tema estiver fechado.

FOLHA - No dia em que o vice-presidente Álvaro García Linera se reuniu com Lula para melhorar o relacionamento, o ministro dos Hidrocarbonetos, Andrés Soliz Rada, acusou a empresa de sabotar a nacionalização. Qual dos dois representa a visão hegemônica do governo?
ORTIZ
- Aqui, há dez empresas operação no setor de exploração, e todas deram a sua contribuição ao desenvolvimento do setor. Há observações e críticas que levaram o meu país a fazer um referendo e a emitir um decreto de nacionalização do setor. Então há distintas opiniões. Agora, Soliz Rada é um político com firmes convicções nacionalistas e, nesse sentido, é o ator que tem impulsado, com o presidente, a nacionalização.


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