São Paulo, terça-feira, 09 de setembro de 2008

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Bovespa cai 2,3% após pacote dos EUA

Queda nas commodities leva Bolsa brasileira a menor nível desde 2007, enquanto nos EUA e na Europa dia é de ganhos

Recuo de Petrobras e Vale, vendidas por estrangeiros, derruba pregão; dólar sobe no mundo e ganha 0,9% diante do real


FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Em rota contrária à vivida pelas maiores Bolsas de Valores do mundo, a Bovespa encerrou ontem em queda forte de 2,35%. Enquanto isso, outros mercados tiveram ganhos na esteira do socorro bilionário às duas gigantes americanas de hipotecas anunciado no domingo pelo governo Bush.
A Bovespa até que ensaiou um resultado favorável, em consonância com o cenário internacional. Na primeira hora de pregão, a Bolsa paulista chegou a subir 3,4%. Mas, com o derretimento das ações de Petrobras e Vale, não conseguiu se sustentar.
Já os pregões nos EUA foram de ganhos. O índice Dow Jones subiu 2,58% e a Nasdaq, 0,62%. Na Europa, a Bolsa de Londres subiu 3,92%, seguida por Paris (3,42%) e Frankfurt (2,22%). Na Ásia, Tóquio subiu 3,38%.
Enquanto analistas esperam que o pacote americano contenha uma piora ainda maior no setor financeiro dos EUA, vêem um quadro incerto no mercado brasileiro. A ajuda às gigantes Fannie Mae e Freddie Mac pode alcançar US$ 200 bilhões. O temor de quebra das duas empresas vinha colaborando para a piora do mercado nos últimos meses.
O que estragou a possibilidade de a Bovespa se beneficiar do bom humor internacional foram as desvalorizações expressivas dos papéis da Petrobras e de siderúrgicas e mineradoras, todas atreladas aos preços das commodities. As ações de companhias dependentes do desempenho das commodities no exterior representam cerca de 43% do índice Ibovespa.
Nem mesmo a alta dos papéis dos maiores bancos do país -Bradesco PN subiu 2,14%, e Itaú PN, 1,01%- conseguiu evitar a queda, que fez com que a Bovespa passasse a acumular perdas de 8,91% no mês, ao marcar ontem 50.717 pontos -menor nível em mais de um ano.
A queda de Petrobras PN, a mais negociada do pregão, ficou em 5,02%; Gerdau PN teve baixa de 3,98%; CSN ON caiu 3,78%; e Vale PNA recuou 3,46%.
"Esse movimento serve de lição para quem está entrando no mercado acionário agora. A concentração da Bolsa em setores ligados a commodities acaba por torná-la ainda mais volátil nesses momentos de crise e incertezas", afirma o economista Francisco Pessoa Faria, da consultoria LCA.
Segundo profissionais do mercado, os investidores estrangeiros aceleraram a venda dos papéis de Petrobras e Vale na última hora de pregão, o que fez com que fechassem perto das mínimas do dia.
Desde junho, os estrangeiros mais têm vendido do que comprado ações, o que explica boa parte da queda da Bovespa no período.
Na Bolsa de Nova York, os papéis de companhias brasileiras também perderam valor. Os ADRs (recibos de ações de empresas estrangeiras negociados nos EUA) da Petrobras caíram 2,90%, e os da Vale, 2,94%.
Com as pesadas vendas de ações, o volume movimentado ontem alcançou os R$ 5,15 bilhões -montante 20% maior que a média de agosto.
"A queda forte das principais ações da Bovespa sinaliza venda mais expressiva de estrangeiros. O Brasil é um mercado de alta liquidez, buscado pelos investidores quando querem sair rapidamente [de ações]", disse Romeu Vidali, gerente de renda variável da corretora Concórdia.
Segundo Vidali, como as Bolsas têm caído muito nos últimos meses nos EUA e na Europa, é esperado que, num momento de menor tensão, os grandes investidores busquem esses mercados acionários primeiro, deixando os emergentes para um segundo momento. Além da Bolsa brasileira, outras que fecharam ontem em baixa foram China (-2,67%), Peru (-1,40%) e Argentina (-0,62%).
Já o dólar se recuperou nos principais mercados globais. Em relação ao euro, a moeda americana se apreciou 0,9%, alcançando sua mais elevada cotação em 11 meses.
No mercado de câmbio brasileiro, o dólar abriu em queda -foi vendido a R$ 1,697 na mínima-, mas acabou fechando em alta de 0,87%, a R$ 1,735.
"O mercado internacional viveu um dia de alívio, mas ainda é cedo para pensar em fim da crise", disse Nelson Carneiro, economista da consultoria Austin Rating.


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