São Paulo, segunda-feira, 09 de outubro de 2006

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Empresas apontam aumento da corrupção

Porcentagem de companhias brasileiras que afirmam ter sido prejudicadas por atos ilícitos cresceu nos últimos 12 meses, mostra pesquisa

Executivos também dizem que "imagem de país corrupto" afeta negócios no exterior; Hong Kong tem pior avaliação entre 7 locais

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DE LONDRES

Um relatório da consultoria de segurança Control Risks Group, com sede em Londres, afirma que a percepção da corrupção empresarial no Brasil se agravou nos últimos 12 meses.
O "Relatório da Corrupção", que será publicado hoje, mostra que 42% das empresas brasileiras entrevistadas dizem ter perdido negócios para competidores "corruptos" nesse período. Comparados com os 38% de empresas que se disseram vítimas de corrupção nos cinco anos anteriores, os números mostram que o cenário está piorando, de acordo com o empresariado.
O relatório é o quarto de uma série feita pela Control Risks nos últimos anos e foi baseado em entrevistas com 350 executivos seniores de companhias de grande porte, em seis países -Alemanha, Brasil, Estados Unidos, França, Holanda e Reino Unido-, além de Hong Kong (China).
Os entrevistados brasileiros, que não são identificados no relatório, afirmam que a imagem de país corrupto afeta drasticamente os negócios no exterior das empresas nacionais.
"Todos os parceiros com quem trabalhamos pensam que somos criminosos. Somos uma empresa farmacêutica de alta qualidade, mas essa imagem ruim persiste", disse um dos entrevistados.
Outro executivo brasileiro afirma que a imagem de país corrupto dificulta os empréstimos no exterior. "Tentamos conseguir financiamento de um banco estrangeiro, mas é impossível, ninguém confia", afirmou.
Segundo os dados coletados, apenas Hong Kong tem uma situação pior do que a brasileira, com 76% dos empresários afirmando terem perdido negócios por causa da corrupção.
Mas o Brasil tem o pior cenário quando se trata de conhecimento das leis anticorrupção -70% dos entrevistados declaram desconhecer completamente as legislações específicas de combate a esse crime.
O cenário interno nas empresas brasileiras também é negativo: apenas 12% das companhias entrevistadas revisaram suas políticas anticorrupção nos últimos três anos, e somente 18% têm programas de treinamento para ajudar os executivos a evitar tentativas de corrupção.

Custos para o negócio
O relatório também destaca, sem detalhar valores, o quanto a corrupção custa aos negócios: 10% dos executivos afirmaram que as propinas pagas podem responder por até metade do custo total de um projeto.
Outros 7% dos entrevistados disseram que o valor pode ser ainda maior, ultrapassando 50% do investimento total em um novo negócio.
John Bray, consultor da Control Risks, afirma que a pesquisa mostra que a corrupção ainda é um grave problema global. "Empresas honestas continuam perdendo para competidores corruptos em larga escala", diz Bray, no relatório.
As previsões para o futuro não são melhores: 32% dos entrevistados acreditam que o problema vá se agravar até o fim da década, contra 21% que prevêem uma melhora.
"As empresas estão começando a lutar contra práticas corruptas ao redor do mundo, mas ainda há muito o que ser feito", afirma Bray.
"O combate eficiente à corrupção requer ação dos governos na implementação de leis, ação das associações industriais para criar padrões comuns e iniciativas de cada companhia, para criar códigos de conduta anticorrupção", completa o consultor.


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