São Paulo, terça-feira, 09 de outubro de 2007

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Agrofolha

Seca compromete próxima safra de café

Estiagem, que já dura 70 dias no Estado de São Paulo, deverá provocar perdas de ao menos 5%, estimam produtores

Segundo pesquisador, com alta temperatura, produção ficará danificada, e a taxa de florescimento do café poderá cair ainda mais

Edson Silva/Folha Imagem
O produtor Manoel Oliveira Lima, que estima um prejuízo de 20% devido à seca no interior de SP


MARCELO TOLEDO
DA FOLHA RIBEIRÃO

O clima seco e a estiagem prolongada de até 70 dias na maior parte do Estado já comprometeram a safra de café do ano que vem em São Paulo.
A estimativa do setor é que a perda em 2008 já esteja em ao menos 5%, o que é considerado muito ruim, já que a próxima safra será grande (a cultura é bianual, e 2007 foi o ano de baixa produção). Alguns produtores na região de Franca (400 km ao norte da capital) já falam em perdas de 20%.
O problema é que, sem chuvas satisfatórias desde 26 de julho, os cafezais terão no próximo ano a mistura de frutos novos com velhos nos pés. Nem mesmo uma forte chuva hoje, por exemplo, poderia solucionar o problema. E isso vai acontecer justamente por causa dos efeitos de uma chuva forte ocorrida em julho.
"Com a chuva forte que houve em julho, seguida de uma elevação da temperatura, o café "pensou" que era época de florescer. A florada atrapalhou o ciclo do café. Ele vai florescer de novo e terá frutos misturados no pé, verdes e maduros. Isso atrapalha a qualidade do café e da bebida", afirmou Hilton Silveira Pinto, diretor do Cepagri (Centro de Ensino e Pesquisa em Agricultura), da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
O produtor Manoel Oliveira Lima, que também é administrador de uma fazenda de 1.040 hectares de café (o equivalente a 1.350 campos de futebol) em Ribeirão Corrente, na microrregião de Franca, está pessimista com a safra.
"Na média, a perda foi de 20%, mas há alguns cafezais em que o prejuízo atinge 50% porque alguns pés estão quase perdidos", afirmou Lima.
Segundo ele, a solução para os produtores é "rezar para chover". "Só assim conseguiremos salvar o que sobrou", disse ele. O agricultor estima que o prejuízo mínimo na propriedade de 2,7 milhões de pés de café será de R$ 1,5 milhão.
O produtor José Mário Marques afirmou que as perdas em seu cafezal de 50 hectares, em Ubiraci (MG), somam 15% até agora. "Os institutos de meteorologia não prevêem chuva nos próximos sete ou oito dias, o que é muito ruim para a maioria dos produtores", disse.
Seria preciso chover ao menos 50 mm para interromper os danos causados nos cafezais -para quebrar a estiagem agrícola, é necessária uma chuva de no mínimo 10 mm.
De acordo com o pesquisador da Unicamp, com o calor atual, a produção futura está danificada, e a taxa de florescimento do café pode cair ainda mais, o que já é esperado pelos cafeicultores.
"Lavouras mais novas, de sete ou oito meses, ou de um ano e meio, estão em uma situação crítica, de secamento de folhas", afirmou o engenheiro agrônomo Ricardo Lima de Andrade, diretor-secretário da Cocapec (Cooperativa dos Cafeicultores e Agropecuaristas de Franca), que tem 1.700 cooperados.
De acordo com Andrade, o déficit hídrico, com o esgotamento das reservas do solo, tem preocupado o setor, porque setembro e outubro compreendem o período de floração. "A qualidade não fica muito boa. Muita seca ou muita chuva, o que é diferente ou exagerado, causa problemas depois", afirmou Silveira Pinto.


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