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BC vende dólar após moeda bater R$ 2,48
Pela 1ª vez desde 2003, órgão oferece ao mercado dólares das reservas, e divisa fecha dia em queda de 1,34%, a R$ 2,28
Estimativa de operadores é
que montante negociado
tenha ficado entre US$ 1,3 bi
e US$ 1,7 bi; analistas
elogiam ação do banco
DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Pela primeira vez em mais de
cinco anos, o Banco Central
vendeu ao mercado dólares das
reservas internacionais a fim
de tentar conter a forte desvalorização do real. Ontem pela
manhã, enquanto a cotação da
moeda americana alcançava R$
2,48, o BC realizou três leilões
de divisas. Assim, conseguiu
que o dólar terminasse o dia de
ontem em queda de 1,34%, vendido a R$ 2,28.
O movimento foi amplamente aprovado por especialistas.
"O BC está cumprindo muito
bem a sua função", afirma Mário Paiva, analista de câmbio da
corretora Liquidez. "Antes,
quando existia excesso de dólares no mercado, comprava. Nada mais natural do que voltar a
oferecer moeda se há um desequilíbrio. Não é bom para o país
uma instabilidade que impede
as empresas de se planejarem."
Até anteontem, o que o BC
vinha fazendo para tentar amenizar o problema de falta de liquidez do mercado eram leilões casados de compra e venda: os dólares eram vendidos
em um dia e recomprados pelo
BC depois de um mês.
Nas operações de ontem, a
venda foi definitiva, o que tem
impacto sobre as reservas internacionais do país, atualmente em US$ 208 bilhões. "As reservas estão aí para isso", afirma Silvio Campos Neto, economista-chefe do banco Schahin.
O BC não costuma divulgar oficialmente o valor dos leilões,
mas, segundo estimativas de
operadores, o montante negociado ficou entre US$ 1,3 bilhão
e US$ 1,7 bilhão.
Além disso, o BC vendeu
mais US$ 1,3 bilhão em contratos de "swap" cambial, numa
transação que equivale a uma
venda de dólares no mercado
futuro. O papel paga a variação
cambial em determinado período, e em troca o seu comprador remunera o BC com juros.
As instituições financeiras, no
entanto, não estavam satisfeitas com esses contratos e pressionavam para que o BC liberasse dinheiro de verdade.
A retomada dos leilões de
moeda à vista só não surtiu
efeito imediato durante o dia
por causa da greve nos bancos e
pela extrema desconfiança que
paira sobre o mercado, reduzindo o número de transações.
Os importadores não querem
comprar dólares para quitar
suas obrigações porque têm esperança de que o preço baixe.
Os exportadores não têm muito o que vender, já que as suas
linhas de crédito secaram, e
acabam segurando o que resta
para tentar obter cotações
maiores.
Outra fonte de pressão sobre
a moeda americana vem de empresas que fizeram operações
muito arriscadas no câmbio futuro contando que a divisa continuaria oscilando entre R$
1,60 e R$ 1,70 e foram surpreendidas pela rápida e ampla
desvalorização do real. Por
meio de mecanismos bastante
complexos, elas haviam se
comprometido a vender dólares para bancos em uma quantidade que na verdade não possuíam e agora precisam correr
para comprar a moeda e honrar
os compromissos. A expectativa é que até o fim da semana
mais companhias, a exemplo da
Sadia e da Aracruz, revelem ter
sofrido prejuízos de maneira
semelhante. Acredita-se que as
perdas cheguem, no total, a
US$ 40 bilhões.
Projeções
É impossível prever até
quando a instabilidade vai durar. "Não há fundamentos que
justifiquem. A situação de hoje
não é sustentável, porém não se
sabe por quanto tempo vai se
manter", diz Roberto Padovani,
diretor para a América Latina
do banco WestLB. "Isso é efeito
da aversão a risco de estrangeiros, que estão batendo em retirada do Brasil", afirma Campos
Neto. Em um cenário externo
incerto, os investidores estão
cada vez mais cautelosos na
aplicação de seus recursos.
O Banco Central já anunciou
mais uma venda de "swap"
cambial para hoje e os bancos e
corretoras prevêem que também haverá novos leilões de
moeda à vista.
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