São Paulo, quinta-feira, 09 de outubro de 2008

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BC vende dólar após moeda bater R$ 2,48

Pela 1ª vez desde 2003, órgão oferece ao mercado dólares das reservas, e divisa fecha dia em queda de 1,34%, a R$ 2,28

Estimativa de operadores é que montante negociado tenha ficado entre US$ 1,3 bi e US$ 1,7 bi; analistas elogiam ação do banco


DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pela primeira vez em mais de cinco anos, o Banco Central vendeu ao mercado dólares das reservas internacionais a fim de tentar conter a forte desvalorização do real. Ontem pela manhã, enquanto a cotação da moeda americana alcançava R$ 2,48, o BC realizou três leilões de divisas. Assim, conseguiu que o dólar terminasse o dia de ontem em queda de 1,34%, vendido a R$ 2,28.
O movimento foi amplamente aprovado por especialistas. "O BC está cumprindo muito bem a sua função", afirma Mário Paiva, analista de câmbio da corretora Liquidez. "Antes, quando existia excesso de dólares no mercado, comprava. Nada mais natural do que voltar a oferecer moeda se há um desequilíbrio. Não é bom para o país uma instabilidade que impede as empresas de se planejarem."
Até anteontem, o que o BC vinha fazendo para tentar amenizar o problema de falta de liquidez do mercado eram leilões casados de compra e venda: os dólares eram vendidos em um dia e recomprados pelo BC depois de um mês.
Nas operações de ontem, a venda foi definitiva, o que tem impacto sobre as reservas internacionais do país, atualmente em US$ 208 bilhões. "As reservas estão aí para isso", afirma Silvio Campos Neto, economista-chefe do banco Schahin. O BC não costuma divulgar oficialmente o valor dos leilões, mas, segundo estimativas de operadores, o montante negociado ficou entre US$ 1,3 bilhão e US$ 1,7 bilhão.
Além disso, o BC vendeu mais US$ 1,3 bilhão em contratos de "swap" cambial, numa transação que equivale a uma venda de dólares no mercado futuro. O papel paga a variação cambial em determinado período, e em troca o seu comprador remunera o BC com juros. As instituições financeiras, no entanto, não estavam satisfeitas com esses contratos e pressionavam para que o BC liberasse dinheiro de verdade.
A retomada dos leilões de moeda à vista só não surtiu efeito imediato durante o dia por causa da greve nos bancos e pela extrema desconfiança que paira sobre o mercado, reduzindo o número de transações. Os importadores não querem comprar dólares para quitar suas obrigações porque têm esperança de que o preço baixe. Os exportadores não têm muito o que vender, já que as suas linhas de crédito secaram, e acabam segurando o que resta para tentar obter cotações maiores.
Outra fonte de pressão sobre a moeda americana vem de empresas que fizeram operações muito arriscadas no câmbio futuro contando que a divisa continuaria oscilando entre R$ 1,60 e R$ 1,70 e foram surpreendidas pela rápida e ampla desvalorização do real. Por meio de mecanismos bastante complexos, elas haviam se comprometido a vender dólares para bancos em uma quantidade que na verdade não possuíam e agora precisam correr para comprar a moeda e honrar os compromissos. A expectativa é que até o fim da semana mais companhias, a exemplo da Sadia e da Aracruz, revelem ter sofrido prejuízos de maneira semelhante. Acredita-se que as perdas cheguem, no total, a US$ 40 bilhões.

Projeções
É impossível prever até quando a instabilidade vai durar. "Não há fundamentos que justifiquem. A situação de hoje não é sustentável, porém não se sabe por quanto tempo vai se manter", diz Roberto Padovani, diretor para a América Latina do banco WestLB. "Isso é efeito da aversão a risco de estrangeiros, que estão batendo em retirada do Brasil", afirma Campos Neto. Em um cenário externo incerto, os investidores estão cada vez mais cautelosos na aplicação de seus recursos.
O Banco Central já anunciou mais uma venda de "swap" cambial para hoje e os bancos e corretoras prevêem que também haverá novos leilões de moeda à vista.


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