São Paulo, quinta-feira, 09 de outubro de 2008

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Fundo da gestora GWI fecha para resgates

Após acumular perdas de quase 90% no ano em um de seus fundos de ações, gestora independente "congela" aplicações e resgates

Analistas vêem caso isolado; CVM afirma que "não há evidência de que setor esteja sendo afetado de forma significativa pela crise"


FABRICIO VIEIRA
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

A crise nos mercados fez ontem sua primeira vítima entre os fundos de investimento no Brasil. A gestora GWI, que tem como principal executivo Mu Hak You, popular entre a comunidade coreana de São Paulo, decidiu fechar para resgates e aplicações dois de seus quatro fundos de investimento -o GWI FIA e o GWI Classic.
Comunicado ontem ao mercado, o fechamento a resgates funciona como um "congelamento", mas pode levar à extinção completa de ambos os fundos. Segundo o Banco BNY Mellon, que faz a administração da burocracia do fundo, o objetivo é evitar que a saída de cotistas aconteça de forma desordenada, prejudicando os investidores que permaneçam.
"Tal decisão deve-se ao agravamento das condições do mercado nos últimos cinco dias, que levaram o fundo a uma situação delicada de liquidez", informaram os gestores.
De acordo com o BNY Mellon, a decisão sobre o eventual fechamento ou troca de gestores e administradores será dos cotistas do fundo, que serão reunidos no dia 23.
Fundo de ações agressivo e alavancado, o GWI FIA era aberto apenas a investidores qualificados com capital mínimo de R$ 250 mil e que se dispusessem a fazer resgates com carência mínima de 60 dias. A aplicação chegou a figurar na lista de fundos de maior retorno em 2007. Os fundos alavancados representam riscos elevados e podem fazer operações financeiras complexas que, em um momento crítico, dêem perdas maiores que seu patrimônio. É como se o fundo perdesse todos os seus recursos e ainda ficasse devendo.
Com a piora do mercado e as arriscadas apostas que fez, as perdas se intensificaram e chegaram, segunda-feira, a 89,04% de desvalorização no ano.
Os problemas com o GWI FIA foram tão graves que prejudicaram também o andamento do fundo GWI Classic, que não opera alavancado, mas passou a ter um forte pedido de resgate dos cotistas. O fundo também foi fechado.
Carlos Alberto Rebello Sobrinho, superintendente de relações com investidores institucionais da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), diz que a autarquia sempre está acompanhando os movimentos das carteiras. "E não temos nenhuma evidência de que a indústria de fundos esteja sendo afetada de forma significativa", diz.
O GWI FIA conta com um número pequeno de cotistas, apenas 627. O GWI Classic concentra um número menor ainda de aplicadores, contando apenas com 205 cotistas.
Com a desvalorização e os resgates sofridos, o patrimônio líquido do GWI FIA encolheu de R$ 385 milhões no mês de junho para R$ 68,47 milhões nesta semana. O patrimônio do GWI Classic é ainda menor, de R$ 55,38 milhões.
Esses fundos são muito pequenos em relação ao total do mercado, que soma patrimônio de R$ 1,12 trilhão. Assim, analistas avaliam que os fundos da GWI são um caso isolado.
Para André Oda, especialista em fundos da Fundação Instituto de Administração, o fechamento dos fundos da GWI não é motivo de pânico, mas um caso isolado. Afirma, porém, que o investidor em fundo tem de estar atento para o fato de que o comportamento de outros cotistas afeta a sua aplicação.


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