São Paulo, sexta-feira, 09 de outubro de 2009

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Lula pressiona por troca de diretores da Vale

Presidente apoia articulação de fundos de pensão de estatais por mudanças na empresa e mira executivos ligados ao PSDB

Atritos entre governo e maior empresa privada do país começaram após a mineradora demitir e cortar investimentos na crise

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Lula pressiona por mudanças na diretoria da Vale. Segundo a Folha apurou, Lula decidiu apoiar articulação de fundos de pensão que desejam mudanças na cúpula e nas diretrizes da empresas.
Três fundos de pensão de funcionários de estatais federais têm participação na Vale: Previ (Banco do Brasil), Petros (Petrobras) e Funcef (Caixa Econômica Federal). A pressão maior é para derrubar pelo menos dois diretores nomeados durante o segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso (1999-2002), vistos pelos fundos e pelo Planalto como ligados ao PSDB.
Os fundos entregaram a Lula uma radiografia do que julgam falhas na governança da Vale. Ontem, os presidentes da Previ e da Funcef fizeram ataques públicos à gestão da empresa, a segunda maior do país, privatizada por FHC em 1997. A Funcef inclusive mostrou disposição de se desfazer de sua participação na mineradora.
Os dois diretores na mira dos fundos são Carla Grasso (Recursos Humanos e Serviços Corporativos), ex-secretária de Previdência Complementar do Ministério da Previdência no governo FHC, e Fábio Barbosa (Finanças e Relações com Investidores), ex-secretário do Tesouro Nacional quando Pedro Malan era ministro da Fazenda. Grasso foi nomeada em 2001; Barbosa, em 2002.
O diretor-presidente da Vale, Roger Agnelli, resiste à pressão do governo e dos fundos. Mas pode ser obrigado a aceitar trocas para manter o apoio político de Lula a ele próprio.

Ação na crise
Lula reprovou a ação da Vale na crise. Ameaçou usar a influência do governo sobre os fundos de pensão e a participação da União na empresa a fim de levar o Bradesco, que indicou Agnelli, a trocar o comando da mineradora.
O ápice da pressão contra Agnelli aconteceu em julho. Em agosto, Lula e ele acertaram os ponteiros, mas o presidente vive criticando a Vale pública e reservadamente. O presidente reclama que, no auge da crise, a Vale cortou US$ 3 bilhões em investimentos e demitiu mais de mil sem aviso ao governo. Para Lula, a maior empresa privada do país transmitiu expectativa negativa enquanto o governo se esforçava para conter a crise.
Os fundos contam com apoio do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que tem bombardeado Agnelli nos bastidores do governo. Mantega ficou contrariado com a saída de Demian Fiocca da diretoria da Vale (Gestão e Sustentabilidade) em abril. Ex-assessor de Mantega, Fiocca foi nomeado depois presidente da Nossa Caixa, comprada pelo Banco do Brasil do governo paulista.
A Vale tem estado sob forte pressão política e empresarial. Com estímulo de uma ala do governo, o empresário Eike Batista fez oferta ao Bradesco pela participação na Vale. O banco não quis vender. No mercado, circulou a versão de que o Bradesco não tem interesse em vender sua participação. No governo, existem essa versão e um rumor: o Bradesco avaliaria que não é bom momento para vender e que, no futuro, poderia aceitar uma oferta de Eike.
O próprio Lula deu sinal verde político para Eike tentar negociar a compra de parte da fatia que os fundos têm na Vale. No governo, há três versões sobre esse movimento. Os fundos não teriam interesse em se desfazer. Lula teria interesse em que eles dessem uma parte a Eike. E o empresário desejaria uma parte que lhe desse controle da gestão da empresa, não apenas algo para ser cotista.
A Vale é controlada pela Valepar, que tem 53% do capital votante da companhia. Na Valepar, o consórcio de fundos de pensão -incluindo a Fundação Cesp (Cesp)- detém 49% das ações. A BNDESPar tem 11,5%. O Bradesco, 21%. E o grupo japonês Mitsui, 18%. Ou seja, o governo tem força para influenciar os rumos da empresa e a composição da diretoria.
O Bradesco indicou Agnelli por um acordo de acionistas.


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