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Lula pressiona por troca de diretores da Vale
Presidente apoia articulação de fundos de pensão de estatais por mudanças na empresa e mira executivos ligados ao PSDB
Atritos entre governo e maior empresa privada do país começaram após a mineradora demitir e cortar investimentos na crise
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Lula pressiona
por mudanças na diretoria da
Vale. Segundo a Folha apurou,
Lula decidiu apoiar articulação
de fundos de pensão que desejam mudanças na cúpula e nas
diretrizes da empresas.
Três fundos de pensão de
funcionários de estatais federais têm participação na Vale:
Previ (Banco do Brasil), Petros
(Petrobras) e Funcef (Caixa
Econômica Federal). A pressão
maior é para derrubar pelo menos dois diretores nomeados
durante o segundo mandato de
Fernando Henrique Cardoso
(1999-2002), vistos pelos fundos e pelo Planalto como ligados ao PSDB.
Os fundos entregaram a Lula
uma radiografia do que julgam
falhas na governança da Vale.
Ontem, os presidentes da Previ
e da Funcef fizeram ataques
públicos à gestão da empresa, a
segunda maior do país, privatizada por FHC em 1997. A Funcef inclusive mostrou disposição de se desfazer de sua participação na mineradora.
Os dois diretores na mira dos
fundos são Carla Grasso (Recursos Humanos e Serviços
Corporativos), ex-secretária de
Previdência Complementar do
Ministério da Previdência no
governo FHC, e Fábio Barbosa
(Finanças e Relações com Investidores), ex-secretário do
Tesouro Nacional quando Pedro Malan era ministro da Fazenda. Grasso foi nomeada em
2001; Barbosa, em 2002.
O diretor-presidente da Vale,
Roger Agnelli, resiste à pressão
do governo e dos fundos. Mas
pode ser obrigado a aceitar trocas para manter o apoio político de Lula a ele próprio.
Ação na crise
Lula reprovou a ação da Vale
na crise. Ameaçou usar a influência do governo sobre os
fundos de pensão e a participação da União na empresa a fim
de levar o Bradesco, que indicou Agnelli, a trocar o comando
da mineradora.
O ápice da pressão contra Agnelli aconteceu em julho. Em
agosto, Lula e ele acertaram os
ponteiros, mas o presidente vive criticando a Vale pública e
reservadamente. O presidente
reclama que, no auge da crise, a
Vale cortou US$ 3 bilhões em
investimentos e demitiu mais
de mil sem aviso ao governo.
Para Lula, a maior empresa privada do país transmitiu expectativa negativa enquanto o governo se esforçava para conter
a crise.
Os fundos contam com apoio
do ministro da Fazenda, Guido
Mantega, que tem bombardeado Agnelli nos bastidores do governo. Mantega ficou contrariado com a saída de Demian
Fiocca da diretoria da Vale
(Gestão e Sustentabilidade) em
abril. Ex-assessor de Mantega,
Fiocca foi nomeado depois presidente da Nossa Caixa, comprada pelo Banco do Brasil do
governo paulista.
A Vale tem estado sob forte
pressão política e empresarial.
Com estímulo de uma ala do
governo, o empresário Eike Batista fez oferta ao Bradesco pela
participação na Vale. O banco
não quis vender. No mercado,
circulou a versão de que o Bradesco não tem interesse em
vender sua participação. No governo, existem essa versão e
um rumor: o Bradesco avaliaria
que não é bom momento para
vender e que, no futuro, poderia aceitar uma oferta de Eike.
O próprio Lula deu sinal verde político para Eike tentar negociar a compra de parte da fatia que os fundos têm na Vale.
No governo, há três versões sobre esse movimento. Os fundos
não teriam interesse em se desfazer. Lula teria interesse em
que eles dessem uma parte a
Eike. E o empresário desejaria
uma parte que lhe desse controle da gestão da empresa, não
apenas algo para ser cotista.
A Vale é controlada pela Valepar, que tem 53% do capital
votante da companhia. Na Valepar, o consórcio de fundos de
pensão -incluindo a Fundação
Cesp (Cesp)- detém 49% das
ações. A BNDESPar tem 11,5%.
O Bradesco, 21%. E o grupo japonês Mitsui, 18%. Ou seja, o
governo tem força para influenciar os rumos da empresa
e a composição da diretoria.
O Bradesco indicou Agnelli
por um acordo de acionistas.
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