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VINICIUS TORRES FREIRE
Mais PIB potencial ou impotente?
Estudo de economista diz que investimento recente vai permitir que país cresça mais e mantenha inflação estável
O PRESIDENTE LULA disse ontem que não está preocupado com a indústria, que vem
capengando e crescendo cada vez
mais devagar desde o início do ano.
O presidente do Banco Central,
Henrique Meirelles, também solicitou ao público que não prestasse
muita atenção ao número da produção industrial que saiu na terça-feira
e foi horrível. O Brasil, dizem nossas
autoridades econômicas e políticas,
está preparado para crescer de maneira segura (lenta e gradual também?). Dá para acreditar?
Bem, o economista Alexandre
Schwartsman, também colunista
desta Folha, acha que sim, em termos, ao menos no que diz respeito
ao nível atual de utilização da capacidade produtiva da indústria. Pode-se dizer que Schwartsman é
suspeito. Além de ser classificado
na taxonomia pop-econômica brasileira como "Homo ortodoxus liberalensis", variante "monetarista", integrantes de outros ramos da
árvore evolutiva do pensamento
econômico brasileiro dizem ter
visto Schwartsman na cena do crime do crescimento medíocre deste
ano, com uma faca suja de sangue
na mão e o PIB estrebuchando a
seus pés: Schwartsman foi diretor
do Banco Central de Lula.
Mas os argumentos do economista enriquecem um debate central. A partir de meados deste ano
começou a ficar evidente que "sobra" capacidade produtiva na indústria brasileira. Isto é, o país teria mais capacidade de crescer sem
pressões inflacionárias.
Mas está sobrando capacidade
apenas devido ao fato de o país
crescer muito pouco? Ou os empresários têm sido capazes de adicionar mais máquinas e equipamentos à economia, em ritmo
maior que o de períodos anteriores
e com mais velocidade que o crescimento da produção real? Um
pouco por causa de cada um dos
dois motivos, provavelmente.
As medidas de produto potencial
são muito imprecisas, mas são influentes. Os modelos de previsão
econômica do mercado as levam
em conta para estimar a inflação, o
que por sua vez influencia o comportamento do BC em relação a juros. Muitos economistas acham,
com razões importantes, que tal
medida de produto potencial é tão
imprecisa e a capacidade produtiva
pode se comportar de maneira tão
elástica que, ao confiar demais em
tais números, o país fica amarrado
ao medo de inflação e desperdiça
crescimento.
Segundo os dados obtidos pelo
exercício de Schwatsman, a capacidade produtiva está crescendo de
maneira mais veloz do que em outros períodos de recuperação econômica. Desde novembro de 2005
a produção industrial cresceu à velocidade média de 4% e o nível de
utilização da capacidade da indústria aumentou 0,3%. No período de
de 12 meses encerrado em setembro deste ano, o economista estima
que o investimento produtivo cresceu 5,9%; em setembro de 2005, o
crescimento havia sido de 2,2%.
O economista admite que as importações permitem que o país
cresça com mais folga, sem inflação, embora seu argumento não se
limite ao efeito da taxa de câmbio
sobre os preços. Mas o essencial, e
a se provar nos próximos seis meses, digamos, é se tal "sobra" de capacidade produtiva não foi apenas
uma subestimação do potencial já
instalado no país, subutilizado devido a uma política monetária muito dura. Ou Lula está certo?
vinit@uol.com.br
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