São Paulo, quinta-feira, 09 de novembro de 2006

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VINICIUS TORRES FREIRE

Mais PIB potencial ou impotente?

Estudo de economista diz que investimento recente vai permitir que país cresça mais e mantenha inflação estável

O PRESIDENTE LULA disse ontem que não está preocupado com a indústria, que vem capengando e crescendo cada vez mais devagar desde o início do ano.
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, também solicitou ao público que não prestasse muita atenção ao número da produção industrial que saiu na terça-feira e foi horrível. O Brasil, dizem nossas autoridades econômicas e políticas, está preparado para crescer de maneira segura (lenta e gradual também?). Dá para acreditar?
Bem, o economista Alexandre Schwartsman, também colunista desta Folha, acha que sim, em termos, ao menos no que diz respeito ao nível atual de utilização da capacidade produtiva da indústria. Pode-se dizer que Schwartsman é suspeito. Além de ser classificado na taxonomia pop-econômica brasileira como "Homo ortodoxus liberalensis", variante "monetarista", integrantes de outros ramos da árvore evolutiva do pensamento econômico brasileiro dizem ter visto Schwartsman na cena do crime do crescimento medíocre deste ano, com uma faca suja de sangue na mão e o PIB estrebuchando a seus pés: Schwartsman foi diretor do Banco Central de Lula.
Mas os argumentos do economista enriquecem um debate central. A partir de meados deste ano começou a ficar evidente que "sobra" capacidade produtiva na indústria brasileira. Isto é, o país teria mais capacidade de crescer sem pressões inflacionárias.
Mas está sobrando capacidade apenas devido ao fato de o país crescer muito pouco? Ou os empresários têm sido capazes de adicionar mais máquinas e equipamentos à economia, em ritmo maior que o de períodos anteriores e com mais velocidade que o crescimento da produção real? Um pouco por causa de cada um dos dois motivos, provavelmente.
As medidas de produto potencial são muito imprecisas, mas são influentes. Os modelos de previsão econômica do mercado as levam em conta para estimar a inflação, o que por sua vez influencia o comportamento do BC em relação a juros. Muitos economistas acham, com razões importantes, que tal medida de produto potencial é tão imprecisa e a capacidade produtiva pode se comportar de maneira tão elástica que, ao confiar demais em tais números, o país fica amarrado ao medo de inflação e desperdiça crescimento.
Segundo os dados obtidos pelo exercício de Schwatsman, a capacidade produtiva está crescendo de maneira mais veloz do que em outros períodos de recuperação econômica. Desde novembro de 2005 a produção industrial cresceu à velocidade média de 4% e o nível de utilização da capacidade da indústria aumentou 0,3%. No período de de 12 meses encerrado em setembro deste ano, o economista estima que o investimento produtivo cresceu 5,9%; em setembro de 2005, o crescimento havia sido de 2,2%.
O economista admite que as importações permitem que o país cresça com mais folga, sem inflação, embora seu argumento não se limite ao efeito da taxa de câmbio sobre os preços. Mas o essencial, e a se provar nos próximos seis meses, digamos, é se tal "sobra" de capacidade produtiva não foi apenas uma subestimação do potencial já instalado no país, subutilizado devido a uma política monetária muito dura. Ou Lula está certo?


vinit@uol.com.br

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