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VINICIUS TORRES FREIRE
Petróleo tupiniquim na Copa 2014
As novas reservas de petróleo são mesmo um feito, mas há planejamento econômico para lidar com o "emirado tupi"?
O PETRÓLEO dos novos campos
gigantes da Petrobras pode
entrar nos canos quando rolar a bola da Copa de 2014. Os testes
feitos a fim de verificar a viabilidade
do campo já são bem avançados,
mas o poço ainda experimental, "piloto", deve verter óleo entre 2010 e
2011. A extração comercial pode ter
de esperar até a Copa de 2014.
Nada de anormal. Nem é anormal
uma euforia temporária, pois se
confirma uma descoberta de fato de
escala global e um feito tecnológico
importante. Sempre é bom relembrar que iniciativas do Estado, como
pesquisa agrícola em região tropical
e de petróleo nas profundas do mar,
projetos caros, de risco e hoje pilares
da economia do país, jamais foram,
seriam e, pelo andar da carruagem,
serão assumidas pelo mercado.
A euforia foi, claro, vitaminada,
dados os vexames recentes no gás.
Entre piadas e marketing euforizante oficial, a gente ouvia ontem coisas
como "Opep", "aumento do poderio
estratégico nacional" e outras tigradas a respeito da "área" de petróleo
Tupi. Mas é sempre bom ressaltar
que combustíveis são mesmo estratégicos. A Petrobras é um regulador
importante de preços no país. As reservas mais promissoras do planeta
ficam em áreas de guerra e golpes,
na Ásia e na África, as mais antigas
são a confusão conhecida.
Mas a bobice da euforia pode ser
medida, para começar, pelos tropeços ridículos desta semana no gás.
Ou o da auto-suficiência. Faz tempo
que o país tem mais gás disponível
do que gás nos canos. Faltam planejamento de gasodutos, organização
do mercado, de normas mais livres e
estáveis para quem quiser investir,
afora a Petrobras. Petróleo no chão é
como terra nua. Como será extraído,
em qual volume, refinado onde, por
quem, para quê? E o gás? Já havia
gente ontem na Petrobras a falar em
termelétricas flutuantes. Mas vai se
mudar de vez a dita matriz energética, vai se investir em massa em térmicas em vez de hidrelétricas?
O governo ontem deu um sinal relevante, limitando a concessão de
novas áreas de exploração nesse
campo boca-rica, de petróleo leve
(mais raro, por aqui) e aparentemente vasto. Haverá choramingas
"de mercado" sobre estatismo etc.
Mas, uma vez concedida a exploração, perde-se algo do controle sobre
as reservas -se sobrar petróleo, ele
será vendido. Mas qual o ritmo interessante de exportação das reservas? Vale a pena o país brincar de
"Opep" ou "Opep do B" durante alguns anos e esgotar o combustível?
Combustíveis já são quase 9% do
valor das exportações brasileiras. A indústria de combustíveis é a que mais cresceu, em termos
relativos, no parque produtivo brasileiro na última década. Mas qual é
o plano para criar mais valor por
meio dessa cadeia industrial, petróleo e álcool? Vamos ter uma indústria petroquímica avançada ou o
país vai se tornar um exportador
brucutu de produtos primários?
vinit@uol.com.br
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