São Paulo, sexta-feira, 09 de novembro de 2007

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Presidente do Fed prevê desaceleração da economia dos EUA neste ano e em 2008

EDWARD L. ANDREWS
DO "NEW YORK TIMES", EM WASHINGTON

Ben Bernanke, o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), afirmou ontem que é provável que a economia se desacelere de maneira perceptível nos próximos meses. Mas ele não ofereceu indicação de que o banco central poderá cortar a taxa de juros pela terceira vez neste ano.
Em depoimento escrito apresentado ao Comitê Econômico Conjunto do Congresso dos EUA, Bernanke disse que a economia está sendo prejudicada pelo colapso do mercado imobiliário, que ainda não chegou ao fundo do poço, bem como pelas condições de crédito mais apertadas e pela disparada nos preços do petróleo.
Quando o Fed reduziu a taxa básica de juros em 0,25 ponto, para 4,25% ao ano, na semana passada, Bernanke disse que as autoridades monetárias "antecipavam que o crescimento da atividade econômica se desaceleraria de maneira perceptível no quarto trimestre" e se manteria lento nos primeiros meses do ano seguinte.
Mas Bernanke sugeriu que os dois cortes dos juros promovidos em setembro e outubro devem bastar para impedir uma recessão. E acrescentou que o Fed estará de olho em novos sinais de problemas.
Os mais recentes dados econômicos, desde que o Fed anunciou o corte dos juros na última semana, "continuam a sugerir que a economia mais ampla manteve a resistência, nos meses mais recentes", afirmou o dirigente. Ao mesmo tempo, ele disse que o medo dos investidores quanto a maus empréstimos hipotecários se intensificou e pode gerar condições de crédito mais desfavoráveis.
Além disso, acrescentou, "novos aumentos acentuados nos preços do petróleo renovaram as pressões de alta sobre a inflação e podem impor restrições ainda maiores ao nível de atividade econômica".
Questionado sobre os riscos de recessão, Bernanke hesitou.
Ressaltando que "pontos de inflexão" são extremamente difíceis de prever, afirmou que o Fed não estava antecipando uma contração econômica real.
"Não calculamos a probabilidade de recessão. Nossa avaliação é a de que o crescimento será mais lento, mas ainda positivo. As autoridades monetárias continuarão a avaliar cuidadosamente as implicações dos dados econômicos e financeiros mais recentes para o panorama geral e agirão da maneira necessária a fomentar a estabilidade de preços e o crescimento econômico sustentável".
Analistas de Wall Street, onde a expectativa era a de que o Fed demonstrasse mais disposição para cortar de novo os juros, não se reconfortaram muito com o pronunciamento.
"Bernanke não ofereceu indicações de que a esperança do mercado quanto a um novo corte será realizada", escreveu Ian Shepherdson, economista-chefe para o mercado dos EUA da High Frequency Economics. O cuidado de Bernanke ao formular sua mensagem quanto ao acompanhamento dos dados econômicos serve como lembrete de que os funcionários do Fed não estão preocupados apenas com as conseqüências dos colapsos no mercado habitacional e do crédito imobiliário, mas com a inflação. De fato, Bernanke mencionou primeiro a atenção do Fed à estabilidade de preços e só depois o interesse da instituição pelo crescimento sustentável.
Mas, ao alegar que o Fed estava acompanhando os desdobramentos "financeiros", além dos "econômicos", Bernanke não fechou as portas a um novo corte dos juros, motivado essencialmente pelo tumulto que continua a abalar Wall Street. Funcionários do Fed e analistas do setor privado alertaram que o crescimento poderia se reduzir a um mínimo, talvez 1% ao ano em termos anualizados, nos meses finais de 2007. Isso representaria dramática desaceleração ante o ritmo anualizado de 4% estimado para o terceiro trimestre.
Mas, ao reiterar que os dois recentes cortes de juros do Fed "devem" prevenir uma desaceleração severa, Bernanke sugeriu que as autoridades monetárias não desejam agir, a menos que acreditem que o crescimento se reduzirá além do ritmo lento já esperado. Alguns analistas previram que o crescimento econômico cairá a zero até o final deste ano, o que poderia forçar o BC dos EUA a fazer um novo corte nos juros.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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