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Para analista, regulação não seguiu ritmo de consolidação
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
A indústria bancária mudou
sua cara nos últimos sete anos,
quando 20% das instituições financeiras desapareceram, mas
a regulação continua a mesma.
Segundo o economista Armando Castelar Pinheiro, professor da UFRJ e analista da
Gávea Investimentos, está na
hora de voltar a discutir o marco regulatório, que não acompanhou o ritmo da consolidação bancária, movimento que
diminui a concorrência.
Ex-Ipea, ele é crítico do subsídio público para os bancos estatais fazerem o mesmo que os
privados, caminho que o Banco
do Brasil teria tomado.
FOLHA - Qual o impacto da fusão
Itaú-Unibanco na concorrência?
ARMANDO CASTELAR - É pequeno.
Apesar de não ter uma pulverização grande, o sistema financeiro não chega a ser concentrado. Mas, quando você tira
um "player", a concorrência diminui. Não acredito que consolidação acirre a concorrência.
FOLHA - A consolidação aumenta a
responsabilidade do regulador? A
estrutura atual está preparada?
CASTELAR - Sim, e essa é uma
discussão que está atrasada. As
agências de defesa da concorrência têm um entendimento
de que [as regras] não excluem
nenhum setor da economia. O
entendimento do BC foi diferente, de que a legislação dá alguma exclusividade na regulação de instituições financeiras.
A preocupação maior do BC foi
com a velocidade de poder resolver um problema de um
banco em dificuldades. É diferente de um banco saudável
comprar outro saudável. Quando o sistema fica mais consolidado, esse debate fica mais importante. Não é urgente, mas
merece ser debatido pelo caminho que o setor toma.
FOLHA - Como seria o foco?
CASTELAR - Imagino que vai haver um convênio entre o BC e o
Cade. Efetivamente, o ritmo
dessas fusões é muito rápido
para o tipo de procedimento
que existe na defesa da concorrência. Então, a análise no BC é
realmente adequada. Mas o BC
já tem milhões de outras atribuições, e isso pode receber
atenção de menos. O ideal é alterar a lei da concorrência.
FOLHA - Por que o sistema financeiro merece regulação própria?
CASTELAR - No sistema financeiro, há uma série de problemas de confiança que não existe em uma empresa industrial.
Se você anuncia uma fusão, pode gerar uma desconfiança sobre a solvência do banco que está sendo comprado e gerar problemas mais sérios do que em
outros setores da economia.
FOLHA - Como fica a concorrência?
CASTELAR - Não acho que os
bancos pequenos e médios vão
desaparecer. Os pequenos hoje
são bancos de nicho. Eles têm
um papel complementar ao dos
grandes bancos. Originam crédito e passam para a frente. O
fato é que eles vão encolher nos
próximos dois anos. Agora,
aconteceu uma coisa boa em
termos de concorrência. Conforme o crédito cresceu, todos
os bancos abriram mais agências e buscaram correntistas.
Foi uma disputa pelo cliente.
FOLHA - Como estão os bancos públicos na disputa pelo cliente?
CASTELAR - Existe uma questão
ideológica muito forte envolvendo o banco público. A defesa
do banco público tende a ocorrer em razão de um papel que
ele cumpriria e que não seria de
interesse das instituições privadas, como o acesso a cidades
menores. Isso não se justifica
mais. Outra discussão é que
banco público não quebra. Não
é mais uma justificativa porque
os bancos são sólidos. O que a
gente vê no Brasil é o banco público querendo fazer o que o
privado faz. Ele recebe subsídio. O BB já quebrou quatro vezes, e a Caixa recebeu uma infusão de capital gigantesca. O saneamento dos bancos estatais
foi várias vezes maior do que os
dos privados. A discussão é se
vale a pena subsidiar o banco
público para concorrer com o
privado e fazer o que ele já faz.
FOLHA - Qual o futuro do crédito?
CASTELAR - A tendência é de desaceleração. O mercado fala em
avanço de 15% em 2009, mas a
sensação de desaceleração vai
ser ainda mais forte. Até bem
pouco tempo atrás, muitas empresas se financiavam no exterior. Parte desse crédito que vai
ser direcionado aqui será para
essas empresas. Para quem vinha se financiando no mercado
doméstico, a sensação de redução do crédito será maior do
que esses 15%. Vai ter menos
dinheiro e competição maior.
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