São Paulo, segunda-feira, 09 de novembro de 2009

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iPhone decepcionou no Brasil, diz Nokia

Executivo afirma que competição com Apple não trouxe impactos e que maior preocupação são os impostos

Leonardo Wen/Folha Imagem
O presidente da Nokia do Brasil, Almir Narcizo; país representa o 8º maior faturamento do grupo finlandês, com ð 1,9 bilhão

JULIO WIZIACK
DA REPORTAGEM LOCAL

Líder mundial na fabricação de celulares, com 38% de participação, a finlandesa Nokia viu sua posição de empresa inovadora ameaçada há dois anos, com o crescimento das vendas do iPhone, o celular da Apple que navega pela internet, e do BlackBerry, da canadense RIM. Ambos são aparelhos "inteligentes", conhecidos como smartphones, uma classe de celulares criada pela Nokia.
Hoje, o iPhone representa 2,5% dos celulares em uso no mundo. Mas, de acordo com o presidente da Nokia do Brasil, Almir Narcizo, o fenômeno iPhone no país não foi o que a Apple, os operadores e os consumidores esperavam.
Para a Nokia, o que mais preocupa hoje são os impostos elevados e os investimentos na rede de 3G (de terceira geração), que impulsionam o novo modelo de negócio estabelecido na venda de conteúdos pela internet.

 

FOLHA - Existe a ideia de que a Apple tomou o lugar da Nokia em inovação. Como a empresa pretende reagir ao iPhone?
ALMIR NARCIZO -
Reconhecemos o sucesso da Apple e respeitamos todos os nossos concorrentes, mas, somando os investimentos em pesquisa e desenvolvimento dos cinco maiores fabricantes, com exceção da Apple -que tem um modelo de negócio diferente-, não dá o que a Nokia investiu no ano passado. Foram 6 bilhões, o que representa 11% das vendas globais. Somos a empresa de tecnologia que mais investe em inovação.

FOLHA - Mas, em dois anos, o iPhone já representa 2,5% das vendas globais de celulares.
NARCIZO -
É um sucesso, sem dúvida, especialmente devido à interface, com aquela brincadeira de fazer zoom com os dedos na tela. Deixou a navegação divertida. Mas a escala não tem comparação. Temos 35% do mercado de smartphones.

FOLHA - Mas com a crise vocês perderam participação, não?
NARCIZO -
Caímos 1%, se olhar só smartphones, ficou um pouco mais apertado, mas temos ainda uma folga, principalmente no Brasil. Tanto a canadense [RIM] quanto a Apple têm uma participação infinitamente menor, na casa de um dígito, mas um dígito muito pobre.

FOLHA - Mesmo com o iPhone?
NARCIZO -
O fenômeno iPhone no Brasil não foi o que a Apple, as operadoras e os consumidores esperavam. Até porque as pessoas que queriam ter um iPhone já tinham comprado no exterior.

FOLHA - Mas a competição lá fora não é mais acirrada?
NARCIZO -
Já foi bem pior. Em 2003, quando entrei para a Nokia, havia 22 competidores globais. Muitos nem existem mais. Era uma época em que as margens de lucro eram muito elevadas, porque o celular não era uma commodity. Hoje são seis grandes, mas a maioria atua em nichos de mercado.
A Nokia não deixou de investir em nenhum produto. Não cortou de seu cardápio os produtos de baixo custo, para consumidores de menor poder aquisitivo, nem focou somente nos top de linha. Não produzimos apenas celulares que custam mais de US$ 250 [cerca de R$ 430]. Quando se comparam os números da canadense [RIM] ou os da Apple com os 500 milhões de aparelhos vendidos só no ano passado pela Nokia, percebe-se que a única que não abandonou nenhuma faixa de preço foi a Nokia.

FOLHA - O que pode acontecer com a ascensão da classe C no faturamento da Nokia do Brasil?
NARCIZO -
Temos ainda muito o que vender. Estamos com 166 milhões de celulares e uma taxa de 85% de penetração. Na Rússia, um país com população parecida com a do Brasil, a taxa de penetração é 110%. Aqui a classe C e D começou agora a ter acesso a telefone celular. Mas isso depende muito dos impostos. Na Rússia, cobram-se 8%, aqui, 46%. É preciso entender que acesso à telefonia é um serviço de primeira necessidade.

FOLHA - E as receitas?
NARCIZO -
Nos dois últimos anos, saltamos duas posições no ranking global da Nokia. Passamos no ano passado a Itália e a Espanha e ficamos atrás dos Estados Unidos por apenas US$ 10 milhões. Hoje somos o oitavo maior faturamento do grupo, com 1,9 bilhão. Não posso fazer previsões, mas vamos crescer muito mais.

FOLHA - Os investimentos em infraestrutura de telecomunicações para a Copa e a Olimpíada serão da ordem de R$ 200 bilhões. Qual o impacto disso para a Nokia?
NARCIZO -
Será violento. Os serviços de telefonia em 3G tendem a ficar massificados. A velocidade de navegação ainda é baixa, comparada com a de outros países, e a cobertura, limitada. Mas, até lá, com investimentos dessa magnitude, tudo será diferente. Nós deixaremos de ser uma empresa dependente da fabricação de celulares e passaremos a ser prestadores de serviço. A venda de música digital, que já representa uma receita relevante desde abril deste ano, e a de aplicativos e outras soluções pela internet serão nossas principais receitas. Esta é a transformação em curso hoje na Nokia.


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