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iPhone decepcionou no Brasil, diz Nokia
Executivo afirma que competição com Apple não trouxe impactos e que maior preocupação são os impostos
Leonardo Wen/Folha Imagem
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O presidente da Nokia do Brasil, Almir Narcizo; país representa o 8º maior faturamento do grupo finlandês, com ð 1,9 bilhão
JULIO WIZIACK
DA REPORTAGEM LOCAL
Líder mundial na fabricação
de celulares, com 38% de participação, a finlandesa Nokia viu
sua posição de empresa inovadora ameaçada há dois anos,
com o crescimento das vendas
do iPhone, o celular da Apple
que navega pela internet, e do
BlackBerry, da canadense RIM.
Ambos são aparelhos "inteligentes", conhecidos como
smartphones, uma classe de celulares criada pela Nokia.
Hoje, o iPhone representa
2,5% dos celulares em uso no
mundo. Mas, de acordo com o
presidente da Nokia do Brasil,
Almir Narcizo, o fenômeno
iPhone no país não foi o que a
Apple, os operadores e os consumidores esperavam.
Para a Nokia, o que mais
preocupa hoje são os impostos
elevados e os investimentos na
rede de 3G (de terceira geração), que impulsionam o novo
modelo de negócio estabelecido na venda de conteúdos pela
internet.
FOLHA - Existe a ideia de que a Apple tomou o lugar da Nokia em inovação. Como a empresa pretende
reagir ao iPhone?
ALMIR NARCIZO - Reconhecemos
o sucesso da Apple e respeitamos todos os nossos concorrentes, mas, somando os investimentos em pesquisa e desenvolvimento dos cinco maiores
fabricantes, com exceção da
Apple -que tem um modelo de
negócio diferente-, não dá o
que a Nokia investiu no ano
passado. Foram 6 bilhões, o
que representa 11% das vendas
globais. Somos a empresa de
tecnologia que mais investe em
inovação.
FOLHA - Mas, em dois anos, o iPhone já representa 2,5% das vendas
globais de celulares.
NARCIZO - É um sucesso, sem
dúvida, especialmente devido à
interface, com aquela brincadeira de fazer zoom com os dedos na tela. Deixou a navegação
divertida. Mas a escala não tem
comparação. Temos 35% do
mercado de smartphones.
FOLHA - Mas com a crise vocês perderam participação, não?
NARCIZO - Caímos 1%, se olhar
só smartphones, ficou um pouco mais apertado, mas temos
ainda uma folga, principalmente no Brasil. Tanto a canadense
[RIM] quanto a Apple têm uma
participação infinitamente menor, na casa de um dígito, mas
um dígito muito pobre.
FOLHA - Mesmo com o iPhone?
NARCIZO - O fenômeno iPhone
no Brasil não foi o que a Apple,
as operadoras e os consumidores esperavam. Até porque as
pessoas que queriam ter um
iPhone já tinham comprado no
exterior.
FOLHA - Mas a competição lá fora
não é mais acirrada?
NARCIZO - Já foi bem pior. Em
2003, quando entrei para a Nokia, havia 22 competidores globais. Muitos nem existem mais.
Era uma época em que as margens de lucro eram muito elevadas, porque o celular não era
uma commodity. Hoje são seis
grandes, mas a maioria atua em
nichos de mercado.
A Nokia não deixou de investir em nenhum produto. Não
cortou de seu cardápio os produtos de baixo custo, para consumidores de menor poder
aquisitivo, nem focou somente
nos top de linha. Não produzimos apenas celulares que custam mais de US$ 250 [cerca de
R$ 430]. Quando se comparam
os números da canadense
[RIM] ou os da Apple com os
500 milhões de aparelhos vendidos só no ano passado pela
Nokia, percebe-se que a única
que não abandonou nenhuma
faixa de preço foi a Nokia.
FOLHA - O que pode acontecer com
a ascensão da classe C no faturamento da Nokia do Brasil?
NARCIZO -
Temos ainda muito o
que vender. Estamos com 166
milhões de celulares e uma taxa
de 85% de penetração. Na Rússia, um país com população parecida com a do Brasil, a taxa de
penetração é 110%. Aqui a classe C e D começou agora a ter
acesso a telefone celular. Mas
isso depende muito dos impostos. Na Rússia, cobram-se 8%,
aqui, 46%. É preciso entender
que acesso à telefonia é um serviço de primeira necessidade.
FOLHA - E as receitas?
NARCIZO - Nos dois últimos
anos, saltamos duas posições
no ranking global da Nokia.
Passamos no ano passado a Itália e a Espanha e ficamos atrás
dos Estados Unidos por apenas
US$ 10 milhões. Hoje somos o
oitavo maior faturamento do
grupo, com 1,9 bilhão. Não
posso fazer previsões, mas vamos crescer muito mais.
FOLHA - Os investimentos em infraestrutura de telecomunicações
para a Copa e a Olimpíada serão da
ordem de R$ 200 bilhões. Qual o impacto disso para a Nokia?
NARCIZO - Será violento. Os serviços de telefonia em 3G tendem a ficar massificados. A velocidade de navegação ainda é
baixa, comparada com a de outros países, e a cobertura, limitada. Mas, até lá, com investimentos dessa magnitude, tudo
será diferente. Nós deixaremos
de ser uma empresa dependente da fabricação de celulares e
passaremos a ser prestadores
de serviço. A venda de música
digital, que já representa uma
receita relevante desde abril
deste ano, e a de aplicativos e
outras soluções pela internet
serão nossas principais receitas. Esta é a transformação em
curso hoje na Nokia.
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