ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O grupo Pão de Açúcar se mexeu nos últimos dias. Não só apresentou uma nova proposta para a compra da rede Bompreço -com valores muito próximos ao montante oferecido pelo rival Wal-Mart- como anuncia hoje a criação de uma nova empresa com a rede carioca Sendas.
Numa das últimas tentativas de adquirir a cadeia nordestina Bompreço, a terceira maior do país, representantes do Pão de Açúcar informaram à holandesa Royal Ahold, dona do Bompreço, que pode encostar na proposta do Wal-Mart, apurou a Folha.
É o que o mercado chama de "fazer areia". Pode ser que a rede nem consiga fechar o negócio, mas arrisca uma nova aproximação com o vendedor para verificar em que nível está as conversas dele com o outro interessado no negócio, no caso o Wal-Mart.
Enquanto as negociações não evoluem, o grupo finalizou um acordo com a rede Sendas que irá caminhar para a incorporação da rede de Arthur Sendas pela cadeia de Abílio Diniz.
As duas empresas informarão ao mercado hoje a abertura de uma nova empresa com operação apenas no Rio de Janeiro e formada por ativos dos dois grupos na região. Não haverá desembolso de recursos entre as partes. Metade dessa empresa será do Pão de Açúcar e metade da rede Sendas.
O anúncio será feito pela manhã. Sendas, presidente da rede do mesmo nome, ficará no comando dessa empresa, mas terá poder limitado, segundo a Folha apurou. Na linha de frente, nos cargos de diretoria, ficarão executivos do Pão de Açúcar, que, na prática, já estão acompanhando o dia-a-dia da empresa.
Entre os executivos que comandarão a nova empresa está Valdemar Machado Júnior, que durante três décadas trabalhou diretamente com Abílio Diniz, presidente do conselho de administração da rede. Detalhe: Abílio não chegou a acompanhar de perto as negociações com a rede Sendas. Augusto Marques da Cruz Filho, presidente do grupo há meses, articulou as conversas.

Sem troca de ações
O Pão de Açúcar não trocará ações com a rede Sendas, conforme rumores no mercado. Especulava-se com a possibilidade de o Pão de Açúcar dar ações ao Sendas em troca de metade do negócio. Mas se isso fosse feito, o endividamento da rede subiria e a empresa ainda vislumbra, como possível, a compra do Bompreço.
A negociação entre as redes aconteceu porque a cadeia Sendas enfrenta um momento delicado. A forte queda nas vendas do comércio no país, por conta da retração na renda e pelo aumento de preços, afetou os negócios da cadeia. Faltou fôlego para acompanhar a competição com redes como Carrefour e o próprio Pão de Açúcar.
Houve casos de atrasos no pagamento de fornecedores neste ano. A reestruturação comandada pela empresa em 2003, com o apoio de consultores, não teve o efeito esperado. A entrada do Pão de Açúcar surge como uma saída.
Em 2002 a rede fechou no vermelho, com prejuízo de R$ 12,7 milhões. "O Sendas precisava se mexer ou seria "tragado" pela concorrência", diz o analista de varejo Antonio Ascar. "É uma boa chance para o Pão de Açúcar se reposicionar no Rio", diz o analista Marcos Gouvêa.


Texto Anterior: Tributação: Cofins poderá beneficiar serviços
Próximo Texto: Guerra no ar: Gol lança vôo com preço de ônibus
Índice