São Paulo, sexta-feira, 09 de dezembro de 2005

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MERCADO ABERTO

Dólar frustra setor de papel e celulose

O setor de papel e celulose está frustrado com o desempenho de 2005. De acordo com o presidente da Bracelpa (associação brasileira das empresas de papel e celulose), Osmar Zogbi, o Ebitda (lucro antes de impostos, amortizações e depreciações) das companhias do segmento deve recuar 15% neste ano em relação ao de 2004.
O fator cambial, para ele, foi determinante para o resultado. "O câmbio atinge diretamente o fluxo de caixa das empresas. Sem caixa, as companhias têm dificuldades para realizar novos investimentos", afirma.
O real valorizado já começa a tornar vantajosa para as empresas a importação de papel. Segundo Zogbi, algumas companhias começaram a comprar papel de países do Mercosul, isentos de tarifas de importação.
Outro fator que atrapalhou o segmento foi o fraco desempenho do mercado interno. A queda ficou acima das expectativas dos empresários do setor. Máximo Pacheco, presidente da International Paper no Brasil, por exemplo, diz que as vendas de papel caíram cerca de 10% no ano. "O fornecimento de papel para os livros escolares decepcionou. As vendas para o governo foram muito fracas", disse.
Para o ano que vem, no entanto, a expectativa da entidade é de melhoria. Por ser um ano eleitoral, Zogbi diz acreditar num aumento de até 4% nas vendas de papel no país.
O cenário para os investimentos, porém, especialmente em fábricas de papel -produto com maior valor agregado-, segue desanimador em razão do dólar fraco e do mercado interno desaquecido. Em 2006, apenas uma empresa estuda investir em uma nova fábrica de papel. A China construiu três só neste ano.
A International Paper finaliza a revisão de seu projeto para uma fábrica em Mato Grosso do Sul. A decisão sobre a viabilidade da obra foi adiada para junho do ano que vem.

SEM ACESSO
Dos 5.563 municípios brasileiros, 2.427 (43,63%) não têm nenhum serviço telefônico além da concessionária de telefonia fixa. Essas cidades não têm cobertura de telefone celular, operadora-espelho, acesso de banda larga ou TV por assinatura. O dado integra levantamento recém-concluído pela revista especializada "Teletime", que será lançado na semana que vem. A nova edição do "Atlas Brasileiro de Telecomunicações" traz dados atualizados sobre esse mercado.

LIDERANÇA
A Caixa Econômica Federal lidera o ranking nacional de concessão de empréstimos consignados. A instituição detém cerca de 25% desse mercado. A CEF atingiu, em novembro, a marca de R$ 5,5 bilhões nessa modalidade, dos quais R$ 3,3 bilhões para os setores público e privado e R$ 2,2 bilhões para aposentados e pensionistas do INSS. Essa linha cresceu 501,42% em número de contratos desde 2000. O volume aplicado desse produto subiu 949,40% no período.

ANÁLISE

BC manterá ritmo de corte

Não há discussão sobre o espaço para o corte da Selic na reunião do Copom de dezembro, na próxima semana. A dúvida está em saber se o Banco Central irá acelerar ou não o ritmo de redução dos juros. Apesar da combinação de um cenário para 2006 neutro em termos de hiato e de baixa pressão de custos vindos do câmbio, quatro argumentos, no entanto, sugerem que o BC deva manter sua cautela, diz o economista Roberto Padovani, da consultoria Tendências.
O primeiro é que a inflação do quarto trimestre pode gerar uma inércia maior para 2006, elevando a rigidez de ajuste da inflação. O segundo relaciona-se aos riscos presentes no próximo ano, em especial o ritmo de crescimento da absorção doméstica, afetando preços livres, e o comportamento dos preços internacionais de commodities.
O terceiro argumento é a idéia de suavizar os movimentos da política monetária, tornando-os mais previsíveis. E há os sinais de cautela emitidos pela própria autoridade monetária, abrindo espaço para a leitura de que o ritmo de corte será mantido.

PISTA LIVRE
Para atrair ainda mais um público de alto poder aquisitivo para seu complexo hoteleiro em Trancoso, na Bahia, o grupo Terravista investiu US$ 6 milhões na construção de uma pista de pouso. A inauguração acontece ainda neste mês. Segundo Michael Rumpf Gail, presidente do grupo, a pista vai ampliar a integração entre o complexo e os outros hotéis da região com campos de golfe. "Os golfistas gostam de conhecer vários campos. Vamos criar um transporte para que eles joguem em Comandatuba, por exemplo." O grupo, de capital nacional, vai começar a construir em fevereiro um novo hotel Leopoldo na Bahia, além de outro resort com a bandeira Terravista. Os dois empreendimentos irão representar investimentos de R$ 70 milhões. Para se capitalizar, o grupo também negocia a venda de casas e terrenos na região, que totalizam R$ 70 milhões.

SINAIS MISTOS
O setor de produtos de limpeza e similares deve encerrar o ano com alta de 3% nas vendas ante 2004. O faturamento líqüido, no entanto, deve registrar uma queda de 4%, diminuindo dos US$ 2,65 bilhões de 2004 para US$ 2,54 bilhões. Os dados serão divulgados hoje pela Abipla (associação brasileira das empresas do setor), em evento da indústria química em SP. Para a entidade, os dados aparentemente contraditórios podem ser explicados pelo fato de as empresas não terem repassado ao consumidor o aumento de preços dos insumos e custos de produção em geral. A explicação para o resultado inferior é a maior migração do cliente para produtos mais baratos.

PRÓ-INOVAÇÃO
O ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, abre na próxima segunda-feira, em João Pessoa, na Paraiba, a primeira edição do seminário e rodada de negócios Inova Brasil, promovido pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial. Alessandro Teixeira, ex-diretor da Apex e atual presidente da agência, também confirmou presença. O encontro irá reunir empresas, universidades, institutos de pesquisa, incubadoras, sindicatos e poder público para discurtir a inovação. A idéia do evento é aumentar a capacidade inovadora das empresas e intensificar o relacionamento dos agentes que compõem o processo de criação tecnológico.

Vermelho sobre rodas
Apesar de as vendas no mercado interno terem crescido cerca de 7% em 2005, a GM do Brasil vai fechar o ano no vermelho. Ray Young, presidente da empresa, culpa a valorização do real. A GM vai exportar neste ano cerca de 200 mil unidades, um número maior do que o de 2004, mas bem inferior aos 240 mil programados. "Estamos tendo bastante prejuízo com as exportações", diz. "O câmbio é responsável por isso."
A GM está revendo seu orçamento para 2006. As expectativas de exportação devem cair de 20% a 30%. Para Young, o dólar deveria ficar na faixa de R$ 2,70 para gerar bons negócios no ano que vem, mas a previsão é de que fique entre R$ 2,40 e R$ 2,50. Ele afirma que a crise da montadora nos EUA não vai afetar os planos da companhia no Brasil. O investimento de US$ 240 milhões no novo carro a ser produzido em Gravataí (RS) foi mantido.
Young lamenta, no entanto, o fato de o Brasil estar crescendo a uma taxa muito baixa, quando deveria estar num ritmo de 5% ao ano. Ele engrossa o coro que culpa os juros altos e acha que o BC errou na dose. "Eu entendo a preocupação do BC em relação aos preços, mas a ameaça de inflação é pequena, ainda mais com o real forte."


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