São Paulo, sábado, 09 de dezembro de 2006

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ARTIGO

EUA visitam a China em busca de reformas

País asiático poderia propor abertura do setor de serviços nas negociações da Rodada Doha e obter concessões dos EUA

GUY DE JONQUIÈRES
COLUNISTA DO "FINANCIAL TIMES"

O SECRETÁRIO do Tesouro dos EUA, Henry Paulson, chega a Pequim na próxima semana chefiando a maior delegação do governo americano que já visitou a China.
Seu tamanho é calculado para impressionar seus anfitriões, e os críticos em casa, sobre a seriedade do empenho de Washington em reestruturar as relações bilaterais. Mas será que o exercício vai acabar sendo "muito trovão e pouca chuva", como dizem os chineses?
As autoridades americanas admitem que é um jogo. Paulson espera que estabelecer um "diálogo estratégico" permanente com Pequim possa reforçar as lentas reformas econômicas na China, aumentar a confiança e conter o protecionismo antichinês no Congresso americano.
Os reformadores frustrados de Pequim vão agradecer um pouco de pressão, se for aplicada judiciosamente. Até os conservadores percebem a importância de manter Washington contente e não querem dar um banho de água fria em Paulson. Mas os dois lados têm um problema. Sua agenda é necessariamente de longo prazo. Mas, para acalmar os críticos da China nos EUA, ela precisa produzir rapidamente resultados tangíveis. Não nesta reunião, talvez, mas certamente no próximo ano ou pouco mais.
No entanto, o que Washington chama de "potenciais resultados precoces" parecem poucos. Paulson não será enganado com mais uma leva de encomendas de Boeings pelos chineses. Embora seja provável uma alta encenada do yuan durante a visita, ela será limitada e possivelmente temporária. As autoridades americanas reconhecem, em todo caso, que mesmo uma grande medida teria pequeno impacto no desequilíbrio comercial bilateral.
Também não ajuda o fato de que muitas coisas que a China precisa fazer para seu próprio desenvolvimento poderiam criar oportunidades atraentes para companhias americanas. Politicamente, será ainda mais difícil fazê-las se Pequim parecer estar cedendo à pressão e a pedidos especiais dos EUA.

Doha
Felizmente, há uma opção. A China deve apresentar nas negociações de comércio da Rodada Doha uma oferta substancial para liberalizar seu mercado de serviços, cujo desenvolvimento é central para que ela alcance a meta de crescimento mais equilibrado e menos dependente de exportações.
Até agora a China ocupou um lugar discreto na OMC, insistindo que estava ocupada cumprindo seus compromissos de adesão. Esse processo hoje está concluído. Mas a reforma ainda está incompleta. Apesar de Pequim ter cortado as tarifas industriais, sua atuação nos serviços tem sido muito desigual. Na próxima semana, abrirá os setores de bancos e seguros à concorrência internacional.
Mas tem poucas obrigações na OMC de liberalizar outros setores, principalmente porque os parceiros comerciais nunca pressionaram a China para aceitá-los. A omissão mais crucial é a dos mercados de capital, que continuam fechados.
Mas uma reforma vigorosa do mercado de capitais é um pré-requisito para criar um sistema financeiro mais forte, uma política monetária eficaz e um regime monetário mais flexível. Sem acesso às capacidades e tecnologias internacionais, isso não acontecerá.
Como uma oferta na OMC se aplicaria a todos os membros, Pequim pode evitar as críticas internas de que está agindo só para agradar a Washington. Também poderia definir seu próprio calendário para abrir o mercado de serviços e condicionar sua oferta a que os EUA e outros países façam concessões em troca.
Uma iniciativa chinesa ousada poderia ser a última esperança de reavivar as moribundas conversas de Doha. Daria méritos à China e demonstraria o tipo de liderança esclarecida que ela precisa exercer para ser aceita como uma superpotência emergente responsável.
E, principalmente, a medida beneficiaria a China ao reenergizar suas reformas econômicas. Indicar na próxima semana que está pronta para tomar a iniciativa faria a missão de Paulson valer a viagem.


Tradução de LUIZ ROBERTO MENDES GONÇALVES

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