|
Texto Anterior | Índice
ARTIGO
EUA visitam a China em busca de reformas
País asiático poderia propor abertura do setor de serviços nas negociações da Rodada Doha e obter concessões dos EUA
GUY DE JONQUIÈRES
COLUNISTA DO "FINANCIAL TIMES"
O SECRETÁRIO do Tesouro dos EUA, Henry
Paulson, chega a Pequim na próxima semana chefiando a maior delegação do governo americano que já visitou
a China.
Seu tamanho é calculado para impressionar seus anfitriões,
e os críticos em casa, sobre a seriedade do empenho de Washington em reestruturar as relações bilaterais. Mas será que
o exercício vai acabar sendo
"muito trovão e pouca chuva",
como dizem os chineses?
As autoridades americanas
admitem que é um jogo. Paulson espera que estabelecer um
"diálogo estratégico" permanente com Pequim possa reforçar as lentas reformas econômicas na China, aumentar a
confiança e conter o protecionismo antichinês no Congresso
americano.
Os reformadores frustrados
de Pequim vão agradecer um
pouco de pressão, se for aplicada judiciosamente. Até os conservadores percebem a importância de manter Washington
contente e não querem dar um
banho de água fria em Paulson.
Mas os dois lados têm um
problema. Sua agenda é necessariamente de longo prazo.
Mas, para acalmar os críticos
da China nos EUA, ela precisa
produzir rapidamente resultados tangíveis. Não nesta reunião, talvez, mas certamente no
próximo ano ou pouco mais.
No entanto, o que Washington chama de "potenciais resultados precoces" parecem poucos. Paulson não será enganado
com mais uma leva de encomendas de Boeings pelos chineses. Embora seja provável
uma alta encenada do yuan durante a visita, ela será limitada e
possivelmente temporária.
As autoridades americanas
reconhecem, em todo caso, que
mesmo uma grande medida teria pequeno impacto no desequilíbrio comercial bilateral.
Também não ajuda o fato de
que muitas coisas que a China
precisa fazer para seu próprio
desenvolvimento poderiam
criar oportunidades atraentes
para companhias americanas.
Politicamente, será ainda mais
difícil fazê-las se Pequim parecer estar cedendo à pressão e a
pedidos especiais dos EUA.
Doha
Felizmente, há uma opção. A
China deve apresentar nas negociações de comércio da Rodada Doha uma oferta substancial para liberalizar seu mercado de serviços, cujo desenvolvimento é central para que ela alcance a meta de crescimento
mais equilibrado e menos dependente de exportações.
Até agora a China ocupou um
lugar discreto na OMC, insistindo que estava ocupada cumprindo seus compromissos de
adesão. Esse processo hoje está
concluído. Mas a reforma ainda
está incompleta. Apesar de Pequim ter cortado as tarifas industriais, sua atuação nos serviços tem sido muito desigual.
Na próxima semana, abrirá
os setores de bancos e seguros à
concorrência internacional.
Mas tem poucas obrigações na
OMC de liberalizar outros setores, principalmente porque os
parceiros comerciais nunca
pressionaram a China para
aceitá-los. A omissão mais crucial é a dos mercados de capital,
que continuam fechados.
Mas uma reforma vigorosa
do mercado de capitais é um
pré-requisito para criar um sistema financeiro mais forte,
uma política monetária eficaz e
um regime monetário mais flexível. Sem acesso às capacidades e tecnologias internacionais, isso não acontecerá.
Como uma oferta na OMC se
aplicaria a todos os membros,
Pequim pode evitar as críticas
internas de que está agindo só
para agradar a Washington.
Também poderia definir seu
próprio calendário para abrir o
mercado de serviços e condicionar sua oferta a que os EUA
e outros países façam concessões em troca.
Uma iniciativa chinesa ousada poderia ser a última esperança de reavivar as moribundas conversas de Doha. Daria
méritos à China e demonstraria o tipo de liderança esclarecida que ela precisa exercer para
ser aceita como uma superpotência emergente responsável.
E, principalmente, a medida
beneficiaria a China ao reenergizar suas reformas econômicas. Indicar na próxima semana que está pronta para tomar a
iniciativa faria a missão de
Paulson valer a viagem.
Tradução de LUIZ ROBERTO MENDES GONÇALVES
Texto Anterior: Montadora: Volkswagen anuncia recall de 300 mil Passat Índice
|