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Receita quer preço mínimo para cigarro
Medida visa evitar que empresas adotem valores considerados irreais, que nem cobrem a carga de tributos; hoje mínimo seria de R$ 1,74
Dívida tributária das empresas é de R$ 5 bi e não há perspectiva de que esse valor seja pago; sonegação dá prejuízo de R$ 768 mi
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Receita Federal defende o
estabelecimento de um preço
mínimo para cigarros no Brasil.
A medida visa evitar que as empresas vendam maços por valores que nem cobrem a carga de
tributos. Hoje, segundo simulação da Receita à qual a Folha
teve acesso, o valor mínimo deveria ser de R$ 1,74 só para suportar os gastos com tributos
federais e estaduais, produção
e distribuição e a margem de
lucro do varejista.
Há, porém, cigarros que são
vendidos legalmente por R$
0,65. Só em IPI (Imposto sobre
Produtos Industrializados), esse maço precisa pagar R$ 0,62.
"Cigarro com preço abaixo
de R$ 1,74 é confissão de sonegação", afirma Marcelo Fisch,
coordenador-geral de Fiscalização da Receita e um dos defensores do preço mínimo.
"Não faz sentido permitir esse
tipo de ilegalidade."
Os fabricantes nacionais são
os principais sonegadores, de
acordo com a Receita. Dos 106
bilhões de cigarros fabricados
no Brasil no ano passado, 15%
(ou 16 bilhões) chegaram ao
mercado sem recolher tributos
federais, segundo o governo.
Todos foram produzidos por
empresas nacionais.
A dívida tributária dessas
empresas soma R$ 5 bilhões e
não há perspectiva de que esse
valor seja pago. Anualmente, o
governo perde R$ 768 milhões
só com as empresas que sonegam. Souza Cruz e Philip Morris, que detêm 85% das vendas,
pagam 99,7% dos impostos,
ainda segundo a Receita. O preço mínimo, para Fisch, é o instrumento mais eficaz para estancar essa sangria.
As fábricas nacionais afirmam que não sonegam: só contestam na Justiça uma política
que foi feita, segundo elas, para
beneficiar a Souza Cruz e a Philip Morris.
O preço do cigarro no Brasil é
um dos mais baixos do mundo.
Segundo um estudo de 2002 do
serviço de saúde da Austrália, o
Brasil tinha o terceiro menor
preço num grupo de 30 países.
À época, o preço médio do maço no país (US$ 0,57) só não era
menor do que o praticado nas
Filipinas e na Indonésia.
O Ministério da Saúde é um
dos defensores do aumento,
mas ativistas consideram insuficiente a proposta da Receita.
"É patético cogitar um preço
mínimo de R$ 1,70. Se fosse
R$ 4, R$ 5, daria para começar
a pensar", diz Paula Johns, da
ACT (Aliança de Controle do
Tabagismo).
Um aumento dessa ordem
pode elevar a arrecadação, segundo o coordenador de fiscalização da Receita, mas a um
preço alto demais: o aumento
do contrabando. Neste ano, a
Receita deve arrecadar R$ 3,5
bilhões com cigarros.
"Dá para arrecadar R$ 7 bilhões, mas a carga tributária
maior fará com que o contrabando aumente. Do ponto de
vista da saúde, será um desastre o contrabando tomar conta
do mercado porque ele atinge
os mais pobres e os adolescentes. Não vale a pena arrecadar
mais a esse preço", diz Fisch.
As fábricas que praticam preços que não cobrem os tributos
funcionam com liminares.
Para fechá-las, a Receita leva
até oito anos, como aconteceu
neste ano com a American Virginia e a Sudamax. Nesse período, elas continuam a vender cigarros por preços que a Receita
considera "irreais". A política
de preços mínimos, para a Receita, facilitaria o fechamento
dessas fábricas e reduziria a fatia ilegal do mercado.
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