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Transgênicos serão menos monitorados
Por pressão da indústria de alimentos, CTNBio deve abolir controle de eventuais efeitos adversos de produtos após liberação comercial
"Se [os transgênicos] fizessem
mal, os americanos já tinham
morrido", diz Walter Colli,
presidente da comissão, para
quem monitoramento é "lixo"
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Por pressão da indústria de
alimentos, a CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) deve abolir amanhã
o monitoramento de eventuais
efeitos adversos de transgênicos depois da sua liberação comercial. A decisão alcança cerca de 15 mil produtos da indústria de alimentos que usam soja
e milho como insumos e que
devem usar cada vez mais variedades geneticamente modificadas.
Em carta dirigida à comissão
responsável pela análise e pela
liberação de organismos geneticamente modificados, a Abia
(Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação) argumentou que tal monitoramento seria "inexequível".
O presidente da CTNBio,
Walter Colli, deu razão à indústria: "Não se submeteu [à regra
de monitoramento], reclamou
e fez muito bem", disse, após
receber a carta da entidade.
Segundo Colli, quando a comissão libera a comercialização de determinado organismo
geneticamente modificado, já
afastou riscos ao seu consumo,
assim como ao ambiente. Por
isso, considera o monitoramento desnecessário, com exceção de poucos casos em que o
monitoramento esteja restrito
a impactos ao ambiente.
"Qual é a razão de pedir uma
coisa dessas se a gente sabe que
não faz mal? Para saber se um
produto que usa soja está causando dor de barriga? Se [os
transgênicos] fizessem mal, os
americanos já tinham morrido", argumentou.
Na votação de amanhã, Walter Colli completa dois mandatos à frente da CTNBio. Ele
atribuiu à pressão dos críticos
dos transgênicos a exigência de
um monitoramento posterior à
liberação comercial de organismos geneticamente modificados. Esse monitoramento foi
regulamentado recentemente
e não chegou a ser posto em
prática. Para Colli, é um "lixo"
que ele pretende ver abolido
antes de se despedir da presidência da comissão.
Depois de uma grande polêmica no início do primeiro
mandato do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, a CTNBio
aprovou 13 variedades transgênicas de milho, soja e algodão.
Antes da liberação comercial,
houve o plantio clandestino de
algumas variedades. Alguns pedidos aguardam deliberação
desde os anos 90.
Amanhã, haverá pressões
contra a mudança nas regras de
monitoramento por parte dos
representantes dos ministérios
da Saúde e do Meio Ambiente.
Paulo Kageyama, professor titular da USP, como Colli, e representante do MMA na comissão, calcula que os críticos
dos transgênicos sejam minoria na CTNBio. E, por isso, não
teriam força para barrar o fim
do monitoramento.
Essas críticas já foram manifestadas em 19 de novembro,
quando a proposta de abolir o
monitoramento dos transgênicos após a liberação comercial
foi apresentada à comissão.
Além da indústria de alimentos, o governo do Canadá também questionou a exigência.
A indústria de alimentos defende a liberação dos transgênicos, mas critica há anos a exigência de rotulagem dos produtos, no formato de um triângulo
amarelo. Atualmente, são poucos os produtos que adotam o
rótulo. E já há proposta em
análise no Congresso para alterar essa exigência.
Até o fechamento desta edição, representantes da Abia
não haviam se manifestado sobre a mudança em votação na
CTNBio.
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