|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VINICIUS TORRES FREIRE
Petróleo, Bolsa e confusões
Queda das commodities arranha Bovespa e causa um pouco mais de incerteza
sobre alta dos juros nos EUA
QUANDO SOBE o preço do petróleo, aumentam as incertezas na economia mundial.
Quando cai, também. Decerto não
despontou nada de drástico no cenário econômico devido ao fato de o
barril estar 30% mais barato que em
julho de 2006, quando Israel dava
sua contribuição à estabilidade
mundial bombardeando o Líbano.
No entanto, aumentou a confusão
não apenas nos prognósticos a respeito da economia americana mas
também sobre os motivos da confusão. Estilhaços dessa ligeira perturbação respingam no Brasil, mais especificamente na Bovespa, que tem
apanhado devido à queda no preço
das commodities. Ações da Petrobras e da Vale caem. Nada de grave, a
não ser para quem estava pensando
em também surfar na bolhinha da
Bolsa, agora que o rendimento dos
juros do governo é historicamente
baixo e declinante, apesar de ainda
absurdamente alto.
Por que o preço do petróleo cai?
Ontem, o Ministério da Energia dos
EUA atribuía a queda ao inverno
quente nos EUA e na Europa e à suave desaceleração econômica mundial, que ora mal se percebe.
"O Noroeste, que é o maior consumidor de óleo dos EUA, está muito
mais quente que o normal. Quase
não se esquia nos Alpes por causa do
tempo quente na Europa", dizia ontem um economista do Ministério
da Energia dos EUA, ao estimar que
o custo do aquecimento doméstico
com óleo e gás vai cair 8% neste ano.
Os fundos de investimento passaram a apostar em queda do preço futuro da commodity, estão invertendo suas posições no mercado. Mas
ninguém sabe bem de seus motivos
-talvez apenas especulação temporária para aproveitar os efeitos do
suave El Niño deste ano, ao qual se
atribui em parte o inverno ameno.
Nos EUA, os investidores também
estão trocando suas ações de empresas de energia e teles por ações de
tecnologia: Apple, IBM, Dell etc.
Mercado e banco central americano, o Fed, já viviam uma queda-de-braço sobre o futuro dos juros básicos nos EUA, por discordarem do tamanho do risco de inflação e do desaquecimento da economia. Agora,
a confusão aumentou um pouco
mais. A energia mais barata faz aumentar a renda disponível do consumidor, o que tornaria a desaceleração nos EUA ainda mais suave.
Mas, para alguns economistas, isso pode ser ruim para a inflação, pois
o mercado de trabalho americano já
estaria muito aquecido. A queda dos
preços de energia não seria refresco,
pois o Fed levaria mais em conta o
núcleo da inflação (a inflação descontadas variações de preços de alimentos e combustíveis). Para outros, o petróleo não altera em quase
nada o cenário: a inflação estaria sob
controle, o cenário de pouso suave
dos EUA continua, e o Fed teria motivos para cortar juros a partir da
metade do ano.
Também é um mistério o futuro
do preço de outras commodities
(metais, grãos, comida etc). Os índices globais de preços dessas mercadorias continuam caindo, mesmo
com projeções otimistas para a economia mundial. Há gente que já projeta em US$ 40 o preço do barril de
petróleo no final do ano (está em
torno de US$ 54, estava US$ 78 em
julho). Se o preço cair assim mesmo,
os exercícios de projeção para 2007
vão ter de ser refeitos.
vinit@uol.com.br
Texto Anterior: Alexandre Schwartsman: Pingos nos is Próximo Texto: Ibama bate recorde de licenças ambientais Índice
|