São Paulo, quarta-feira, 10 de janeiro de 2007

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VINICIUS TORRES FREIRE

Petróleo, Bolsa e confusões

Queda das commodities arranha Bovespa e causa um pouco mais de incerteza sobre alta dos juros nos EUA

QUANDO SOBE o preço do petróleo, aumentam as incertezas na economia mundial. Quando cai, também. Decerto não despontou nada de drástico no cenário econômico devido ao fato de o barril estar 30% mais barato que em julho de 2006, quando Israel dava sua contribuição à estabilidade mundial bombardeando o Líbano.
No entanto, aumentou a confusão não apenas nos prognósticos a respeito da economia americana mas também sobre os motivos da confusão. Estilhaços dessa ligeira perturbação respingam no Brasil, mais especificamente na Bovespa, que tem apanhado devido à queda no preço das commodities. Ações da Petrobras e da Vale caem. Nada de grave, a não ser para quem estava pensando em também surfar na bolhinha da Bolsa, agora que o rendimento dos juros do governo é historicamente baixo e declinante, apesar de ainda absurdamente alto.
Por que o preço do petróleo cai?
Ontem, o Ministério da Energia dos EUA atribuía a queda ao inverno quente nos EUA e na Europa e à suave desaceleração econômica mundial, que ora mal se percebe.
"O Noroeste, que é o maior consumidor de óleo dos EUA, está muito mais quente que o normal. Quase não se esquia nos Alpes por causa do tempo quente na Europa", dizia ontem um economista do Ministério da Energia dos EUA, ao estimar que o custo do aquecimento doméstico com óleo e gás vai cair 8% neste ano.
Os fundos de investimento passaram a apostar em queda do preço futuro da commodity, estão invertendo suas posições no mercado. Mas ninguém sabe bem de seus motivos -talvez apenas especulação temporária para aproveitar os efeitos do suave El Niño deste ano, ao qual se atribui em parte o inverno ameno.
Nos EUA, os investidores também estão trocando suas ações de empresas de energia e teles por ações de tecnologia: Apple, IBM, Dell etc. Mercado e banco central americano, o Fed, já viviam uma queda-de-braço sobre o futuro dos juros básicos nos EUA, por discordarem do tamanho do risco de inflação e do desaquecimento da economia. Agora, a confusão aumentou um pouco mais. A energia mais barata faz aumentar a renda disponível do consumidor, o que tornaria a desaceleração nos EUA ainda mais suave.
Mas, para alguns economistas, isso pode ser ruim para a inflação, pois o mercado de trabalho americano já estaria muito aquecido. A queda dos preços de energia não seria refresco, pois o Fed levaria mais em conta o núcleo da inflação (a inflação descontadas variações de preços de alimentos e combustíveis). Para outros, o petróleo não altera em quase nada o cenário: a inflação estaria sob controle, o cenário de pouso suave dos EUA continua, e o Fed teria motivos para cortar juros a partir da metade do ano.
Também é um mistério o futuro do preço de outras commodities (metais, grãos, comida etc). Os índices globais de preços dessas mercadorias continuam caindo, mesmo com projeções otimistas para a economia mundial. Há gente que já projeta em US$ 40 o preço do barril de petróleo no final do ano (está em torno de US$ 54, estava US$ 78 em julho). Se o preço cair assim mesmo, os exercícios de projeção para 2007 vão ter de ser refeitos.


vinit@uol.com.br

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