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VINICIUS TORRES FREIRE
Economistas desnorteados
Grandes bancos e grandes economistas fazem previsões e análises díspares sobre a economia dos EUA em 2008
"OS QUATRO pontos cardeais são três: o sul e o
norte", escreveu o chileno Vicente Huidobro, que era poeta
e meio surrealista. Os nada poéticos
embora freqüentemente surreais
economistas ora parecem considerar que os dois pontos cardeais da
economia americana, recessão ou
não recessão, são quatro ou mais, tal
a divergência de diagnósticos.
O pessoal do Goldman Sachs, o
único bancão de Wall Street que
enriqueceu na crise de 2007, prevê
queda do PIB americano no segundo e no terceiro trimestres, o que daria em recessão, ainda que amena,
posição parecida com a de seus colegas do Merrill Lynch e do Morgan
Stanley.
Mas o pessoal do JP Morgan, em
geral mais circunspecto e prudente,
acaba de revisar para cima o crescimento americano no trimestre final
de 2008 e, em seu cenário básico,
acredita em retomada a partir do segundo semestre -sem recessão.
Stephen Roach, ex-economista-chefe do Morgan Stanley, ora na direção do banco na Ásia, escreveu no
"Financial Times" que a recessão
não é só o caminho mais provável
como o mais razoável para os EUA.
Roach, pessimista contumaz, diz
que os EUA precisam dar fim ao longo ciclo de bolhas financeiras, de inflação de ativos, por meio das quais
têm sustentado um consumo acima
de suas possibilidades e desequilíbrios "épicos" nas finanças do planeta. Quer que os BCs deixem a crise
rolar, a fim de que os EUA se curem
da doença estrutural do perdularismo baseado em poupança alheia (de
China e resto do mundo que financia os gastos americanos).
Lawrence Summers, de Harvard,
ex-secretário do Tesouro e ex-economista-chefe do Banco Mundial,
por sua vez, pede incentivos fiscais
para conter o risco de recessão: quer
colocar mais dinheiro no bolso dos
mais pobres e aumentar benefícios
para desempregados a fim de conter
um apagão do consumo.
Na evidência anedótica, as opiniões parecem uma biruta transtornada (biruta, o saquinho sem fundo
que mostra a direção do vento).
O JP Morgan alerta, claro, de que
recessões aparecem de hora para
outra devido a bruscas mudanças de
humor de consumidores e empresários. Mas diz em seu mais recente
relatório global que o consumidor
não deixou a peteca cair, que vão
bem os investimentos não-imobiliários e que o gasto do governo (com
defesa) ainda ajuda bem. O aumento
recente do desemprego, diz o banco,
costuma ser compatível com recessões, mas haveria sinais contraditórios em outros indicadores do mercado de trabalho. O JP Morgan prevê crescimento americano só de 1%
no primeiro semestre de 2008, mas
há boas notícias para o Brasil: "commodities" ainda caras e ações com
bom potencial de valorização.
Na sua enquete com economistas
publicada ontem, a Bloomberg relata que os EUA devem crescer 1,5%
no primeiro semestre de 2008, com
alguma retomada no terceiro trimestre, pois os consumidores americanos não desanimariam (aliás,
gastaram mais do que o previsto na
temporada de final de ano). A economia vai devagar, mas não vai à
breca da recessão, disse à agência de
notícias financeiras o economista-chefe do Bank of America.
Mas ontem começou a temporada
de balanços. A biruta vai girar.
vinit@uol.com.br
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