São Paulo, quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

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VINICIUS TORRES FREIRE

Economistas desnorteados

Grandes bancos e grandes economistas fazem previsões e análises díspares sobre a economia dos EUA em 2008

"OS QUATRO pontos cardeais são três: o sul e o norte", escreveu o chileno Vicente Huidobro, que era poeta e meio surrealista. Os nada poéticos embora freqüentemente surreais economistas ora parecem considerar que os dois pontos cardeais da economia americana, recessão ou não recessão, são quatro ou mais, tal a divergência de diagnósticos.
O pessoal do Goldman Sachs, o único bancão de Wall Street que enriqueceu na crise de 2007, prevê queda do PIB americano no segundo e no terceiro trimestres, o que daria em recessão, ainda que amena, posição parecida com a de seus colegas do Merrill Lynch e do Morgan Stanley.
Mas o pessoal do JP Morgan, em geral mais circunspecto e prudente, acaba de revisar para cima o crescimento americano no trimestre final de 2008 e, em seu cenário básico, acredita em retomada a partir do segundo semestre -sem recessão. Stephen Roach, ex-economista-chefe do Morgan Stanley, ora na direção do banco na Ásia, escreveu no "Financial Times" que a recessão não é só o caminho mais provável como o mais razoável para os EUA.
Roach, pessimista contumaz, diz que os EUA precisam dar fim ao longo ciclo de bolhas financeiras, de inflação de ativos, por meio das quais têm sustentado um consumo acima de suas possibilidades e desequilíbrios "épicos" nas finanças do planeta. Quer que os BCs deixem a crise rolar, a fim de que os EUA se curem da doença estrutural do perdularismo baseado em poupança alheia (de China e resto do mundo que financia os gastos americanos).
Lawrence Summers, de Harvard, ex-secretário do Tesouro e ex-economista-chefe do Banco Mundial, por sua vez, pede incentivos fiscais para conter o risco de recessão: quer colocar mais dinheiro no bolso dos mais pobres e aumentar benefícios para desempregados a fim de conter um apagão do consumo.
Na evidência anedótica, as opiniões parecem uma biruta transtornada (biruta, o saquinho sem fundo que mostra a direção do vento).
O JP Morgan alerta, claro, de que recessões aparecem de hora para outra devido a bruscas mudanças de humor de consumidores e empresários. Mas diz em seu mais recente relatório global que o consumidor não deixou a peteca cair, que vão bem os investimentos não-imobiliários e que o gasto do governo (com defesa) ainda ajuda bem. O aumento recente do desemprego, diz o banco, costuma ser compatível com recessões, mas haveria sinais contraditórios em outros indicadores do mercado de trabalho. O JP Morgan prevê crescimento americano só de 1% no primeiro semestre de 2008, mas há boas notícias para o Brasil: "commodities" ainda caras e ações com bom potencial de valorização.
Na sua enquete com economistas publicada ontem, a Bloomberg relata que os EUA devem crescer 1,5% no primeiro semestre de 2008, com alguma retomada no terceiro trimestre, pois os consumidores americanos não desanimariam (aliás, gastaram mais do que o previsto na temporada de final de ano). A economia vai devagar, mas não vai à breca da recessão, disse à agência de notícias financeiras o economista-chefe do Bank of America.
Mas ontem começou a temporada de balanços. A biruta vai girar.


vinit@uol.com.br

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