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Conta de luz pode vir errada novamente
Três meses após a Folha revelar falha em cálculo que pune consumidor com tarifas mais altas, nenhuma medida foi tomada
Novo período de reajustes tarifários das distribuidoras de energia começa no mês que vem sem que erro na conta tenha sido corrigido
AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL
Três meses depois de revelado o erro no modelo de cálculo
da conta de luz do brasileiro,
nenhuma providência efetiva
até agora foi tomada para evitar
que os consumidores voltem a
ser penalizados pelo modelo
distorcido de reajuste que beneficia as distribuidoras. E o
tempo está se esgotando.
No dia 3 de fevereiro começa
a "safra" 2010 de reajustes tarifários sem que qualquer iniciativa -seja dos órgãos de defesa
do consumidor, seja da Aneel
(Agência Nacional de Energia
Elétrica), seja do Ministério de
Minas e Energia- indique, pelo
menos, a correção da falha a
partir de agora. No mês que
vem, sete distribuidoras terão,
conforme determina os contratos, a homologação pela Aneel
dos novos IRTs (índices de reajuste tarifário).
O período se estende até 14
de dezembro, quando a 63ª distribuidora receberá o reajuste.
As novas tarifas para grandes
concessionárias que abastecem
São Paulo, Minas e Rio de Janeiro ocorrem em sequência. A
Ampla, que atende parte do Rio
de Janeiro, saberá o reajuste
em março. Cemig e CPFL (que
abastecem Minas Gerais e o interior de São Paulo, respectivamente) recebem os índices em
abril. Já a AES Eletropaulo, responsável pelo abastecimento
da Grande São Paulo, terá o
reajuste em 4 de julho.
Reportagem da Folha publicada em outubro passado revelou que uma falha na metodologia de cálculo do IRT transfere, de forma indevida, bilhões
de reais dos consumidores para
as distribuidoras. A falha decorre da impossibilidade no
modelo de devolver aos consumidores ganhos de escala obtidos com a expansão do mercado brasileiro, conforme reza a
lei do setor elétrico.
Segundo cálculos do TCU
(Tribunal de Contas da União),
a falha -classificada como
"grave"- transfere todos os
anos pelo menos R$ 1 bilhão
dos consumidores de energia
elétrica para as distribuidoras.
O cálculo considera a expansão
média de 5% do mercado nacional, como em regra tem
acontecido, inclusive em avaliações do governo.
Essa conta pode já ter superado os R$ 7 bilhões, valor ainda não conhecido devido à posição da Aneel de considerar
inviável o levantamento da cifra. A informação foi pedida pela CPI das Tarifas de Energia
Elétrica, mas foi negada pela
Aneel. A negativa foi entendida
como ato de obstrução à CPI, o
que ensejou um pedido ao Ministério Público Federal para
que investigue por prevaricação o atual diretor-geral da
agência, Nelson Hubner.
A única resposta efetiva da
Aneel foi a convocação de uma
consulta pública a fim de coletar contribuições para a elaboração de um termo aditivo ao
contrato de concessão, iniciativa inédita no país. A agência recolheu as contribuições, mas
até agora não publicou resolução informando sobre quando
e como será feita a correção dos
contratos para evitar a repetição do erro nas contas.
O prazo para isso está se esgotando. Sem o aditivo aos 63
contratos de concessão, a direção da Aneel voltará a homologar os novos índices de reajuste
baseando-se no modelo errado.
No ano passado, antes da revelação da falha, a Aneel chegou a
encaminhar um ofício ao Ministério de Minas e Energia no
qual listava o prejuízo imposto
aos consumidores brasileiros
só no primeiro semestre.
Silêncio
Procurado, o diretor-geral da
Aneel informou que não se pronunciará sobre o assunto. A
agência diz, contudo, que a
compilação das contribuições
da consulta pública avança e
que o aditivo ao contrato poderá ser avaliado pela direção da
Aneel até o fim deste mês.
O colegiado da agência de regulação pode aprovar o texto ou
recusá-lo. Mas, se aceitá-lo, nada garante que resolverá o problema. A Aneel afirma que não
pode impor às concessionárias
a assinatura de um aditivo ao
contrato, posição refutada pelo
próprio governo. A agência
conta com uma atitude voluntária das distribuidoras.
A Abradee (Associação Brasileira de Distribuidores de
Energia Elétrica), também procurada, mantém o silêncio sobre o caso. Beneficiada pelo erro, aguarda o novo ciclo de reajustes que se avizinha.
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