São Paulo, domingo, 10 de janeiro de 1999

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INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA
Montadoras produziram 15,7 carros por funcionário em 98, resultado 24% inferior ao de 97
Produtividade é a mais baixa desde 1995

ARTHUR PEREIRA FILHO
da Reportagem Local

A produtividade da indústria automobilística brasileira atingiu no ano passado o nível mais baixo desde 95.
Para produzir 1,6 milhão de veículos, as montadoras utilizaram 101.974 funcionários durante o ano, o que dá a média de 15,7 carros fabricados por empregado.
O cálculo foi feito com base em uma estimativa da produção e do nível de emprego em dezembro. Os números oficiais somente serão divulgados amanhã pela Anfavea, a associação das montadoras.
Em 97, a média de carros montados por funcionário chegou a 19,5 unidades, desempenho 24% superior ao do ano passado.
Essa foi a primeira redução de produtividade das montadoras na década. Em 90, as fábricas produziram 7,7 veículos por funcionário. O índice cresceu ano a ano, até chegar aos quase 20 carros em 97.
O desempenho na indústria não piorou no ano passado por causa de aumento do número de empregados. Na verdade, o nível de emprego sofreu redução de cerca de 3,5% (de 105,6 mil para 101,9 mil).
O problema é que as vendas de carros despencaram 20%. Os estoques chegaram a 200 mil unidades e as montadoras tiveram que cortar a produção.
"A produtividade caiu porque a indústria não conseguiu reduzir o número de postos de trabalho na mesma proporção da brusca queda de vendas", diz Anselmo Louzada, sócio da empresa de consultoria KPMG e analista da indústria automobilística.
Para Louzada, a queda é "contingencial". Ele prevê que a produção e a as vendas de veículos voltarão aos níveis anteriores a partir de maio e a produtividade se elevará.
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Efeito externo
Nils Tarnow, gerente-sênior de projetos da empresa de consultoria McKinsey Brasil, concorda que a produtividade em 98 foi menor devido a "efeitos externos" e não a problemas de processo de produção ou de qualidade das empresas brasileiras. "A produtividade teve um aumento constante desde o início dos anos 90", lembra.
Com o aumento da concorrência provocado pela abertura de mercado e os novos investimentos feitos pelas montadoras, o setor obteve taxas de crescimento de produtividade de 18% ao ano desde 1990, segundo dados da McKinsey.
Tarnow prevê que as medidas de flexibilização adotadas pelas empresas em 98 -férias coletivas, redução de turnos, demissões etc.- serão aplicadas novamente este ano.
Para ele, a redução do número de empregados e de horas trabalhadas é a única saída para aumentar a produtividade, porque as vendas neste ano, pelos cálculos da indústria, ficarão no patamar de 98.
Mesmo com a recuperação do mercado nos próximos anos, a indústria terá de reduzir o quadro de pessoal para aumentar a produtividade e poder competir com o Primeiro Mundo, diz Tarnow.
Para se aproximar da atual produtividade da mão-de-obra dos EUA no médio prazo, as fábricas terão de promover forte redução no número de postos de trabalho. "No final do ano 2000, as montadoras terão no máximo 90 mil funcionários", prevê Tarnow.
"O aumento da produtividade significa menos empregos. Sem se tornar mais produtivo, não há base para crescer e para competir com os demais países", diz.
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Projetos mantidos
Em relação ao emprego nas montadoras nos próximos anos, a visão de Louzada, da KPMG, é mais otimista. Se a meta de produção de 3 milhões de veículos em 2003, for atingida, as fábricas chegarão a ter 160 mil trabalhadores.
Apesar da queda de vendas em 98, a indústria ainda não decidir rever os planos de longo prazo.
Os projetos de construção e ampliação de novas fábricas, anunciados dentro das regras do regime automotivo brasileiro, continuam mantidos. Até 2000, serão investidos US$ 20 bilhões no país.
Já entraram em operação as novas fábricas das japonesas Honda, Toyota e Mitsubishi, da francesa Renault, da norte-americana Chrysler e da inglesa Land Rover. No próximo dia 18, a Volkswagen/Audi inaugura nova unidade no Paraná. Em fevereiro, é a vez da Mercedes-Benz começar a produzir carros em Minas Gerais.
Não há dúvidas de que a capacidade de produção vai crescer. Passará de 2,25 milhões em 98, para 2,65 milhões até o final de 99. O problema é que a capacidade ociosa vai bater recorde: pelo menos 40%, porque a produção não deve superar 1,6 milhão de unidades. O resultado pode ser novo período de produtividade em baixa.



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