São Paulo, quinta-feira, 10 de fevereiro de 2000


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BANCOS
Instituição conservadora faz parceria para lançar fundos de investimento baseados em derivativos
Itaú e Matrix criam fundos de alto risco

DAVID FRIEDLANDER
da Reportagem Local

O Itaú, um dos bancos mais conservadores do país, entrou nos fundos de investimento "tarja preta". São aplicações de altíssimo risco, que apostam em derivativos e são capazes de criar ou destruir pequenas fortunas de um dia para o outro. O Itaú marca presença nessa área por meio da associação anunciada ontem com o Matrix, uma das instituições financeiras mais agressivas do país.
Com a parceria, o Itaú vira uma potência no ramo dos derivativos -apostas simultâneas em várias aplicações de risco, como ações, juros e câmbio. O Itaú já é o segundo maior administrador privado de fundos de investimento, com uma carteira de R$ 26 bilhões. Desse total, apenas R$ 800 milhões são aplicados em derivativos. O Matrix, com uma carteira de R$ 1,8 bilhões, está entre os cinco maiores administradores desse tipo de investimento no país.
Nesse casamento de interesses, que junta estilos opostos, os fundos do Matrix serão transferidos para o Itaú, que irá oferecê-los a grandes clientes, no Brasil e no exterior. O público alvo da nova família de fundos, que levará o nome Itaú-Matrix , são os cerca de 8 mil de investidores, empresas e fundos de pensão que possuem muito dinheiro para aplicar. A gestão da carteira será compartilhada com os novos sócios do banco Matrix.

Tarja preta
"O Itaú já tinha uma presença grande em derivativos, mas nossos fundos são mais calmos. Com o Matrix, passamos a ter também os tarja preta", diz Alfredo Setúbal, vice-presidente executivo de mercado de capitais do Itaú.
Na avaliação de Setúbal, a estabilidade da economia e a previsão de queda nas taxas de juros deverão chamar cada vez mais a atenção do investidor para aplicações que são de risco, mas oferecem a chance de lucro maior. O Itaú passa a contar com um produto reconhecido na praça e o Matrix abre mão de parte da receita de seus fundos em troca do acesso a uma clientela muito maior.
Desconhecido do grande público, o Matrix é o que na praça financeira se chama de banco de"butique". Em vez de conta corrente, caderneta de poupança e empréstimo para a compra da casa própria, esse tipo de banco é especialista na administração de grandes fortunas.
Nesse tipo de negócio, o Matrix é considerado um dos mais lucrativos. Ele foi criado em 1993, com um capital de R$ 8 milhões. Seu patrimônio, hoje, é de R$ 142 milhões. Ou seja, em sete anos, o tamanho do Matrix aumentou 1.675%.
Nos últimos dois anos, o Matrix vinha sendo muito assediado por outras instituições. No mercado, esperava-se que mais cedo ou mais tarde o banco fosse vendido, provavelmente para um banco estrangeiro. Nos últimos dias, correu o boato de que os donos do Matrix estavam negociando com a Goldman Sachs, um dos maiores bancos de negócios dos Estados Unidos.
A associação com o Itaú foi uma surpresa e alguns analistas de bancos especulavam ontem que o Matrix, na verdade, teria vendido parte de sua carteira de fundos ao Itaú. "Não foi venda, foi associação", diz Antonio Carlos de Freitas Valle, sócio fundador do Matrix. "Nossa intenção não era vender o negócio para embolsar o dinheiro, era achar um sócio para ampliar nossos fundos".


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