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São Paulo, segunda-feira, 10 de fevereiro de 2003

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DÓLARDUTO

Dinheiro saiu entre 90 a 2000 e faz parte de levantamento do Departamento de Comércio dos Estados Unidos

Lucros e dividendos tiram US$ 1 tri da AL

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Em dez anos, cerca de US$ 1 trilhão saiu do caixa de empresas latino-americanas, subsidiárias de grupos norte-americanos, e foi parar na conta das matrizes no exterior. Esse volume corresponde a remessas de lucros e dividendos que as filiais de conglomerados nos EUA enviam em decorrência da venda de produtos na região, de 1990 a 2000.
Os números fazem parte de um levantamento do Departamento de Comércio dos EUA. O estudo está nas mãos do senador democrata Carl Levin e diz respeito às origens dos lucros de companhias norte-americanas. O levantamento foi fechado no final do ano passado.
Parte desse estudo está com o professor norte-americano, James Petras, da Universidade de Nova York, estudioso da América Latina há 14 anos e autor do livro "Hegemonia dos EUA no novo milênio". De acordo com ele, crises em empresas norte-americanas -com retração da demanda e forte queda no valor de mercado de companhias de alguns setores-fez disparar a pressão dos grupos em cima do desempenho e resultados das subsidiárias.
A ordem era enviar os dividendos obtidos e não reinvesti-los sem segunda ordem, diz ele.
No Brasil, dados do Banco Central mostram que esses recursos atingiram o pico em 1999 e o recorde foi batido em 2002. No ano passado, US$ 24,2 bilhões foram enviados para fora do país pelas companhias em forma de dividendos. O maior volume, até então, desde 94, havia sido computado em 99 (US$ 14,7 bilhões).
Tanto 2002 como 1999 foram anos de forte desvalorização cambial. No último ano porém, houve outro fator de peso: as eleições presidenciais, que geraram desconfianças nos investidores.
Desde os primeiros dias de 2003, porém, a situação já mostra sinais de normalidade. A velocidade de remessas aos EUA caiu em relação ao último trimestre de 2002, informa o BC.
"Na visão de algumas empresas, certos governos são risco direto para o capital privado. Elas agem de acordo com o que consideram razoável para o próprio bolso. Crises políticas e instabilidades econômicas são o sinal vermelho. Mas é bem provável que essas remessas, basicamente de lucros, voltem à normalidade agora", afirma James Petras.
Crise na Argentina, que se arrasta desde 1999, e a instabilidade política na Venezuela foram fatores de pressão das matrizes em cima das filiais, informa o estudo. Isso porque é na crise que se pressiona por melhores resultados.
Explicando: quando a situação político-econômica de algum país se deteriora, a tendência é que a subsidiária registre lucros menores devido a uma possível retração na demanda. Para que a filial cumpra a meta de resultados, definida normalmente no começo dos anos, relatórios são enviados mensalmente às matrizes, que reforçam a pressão, e cresce o número de operações de remessa.
"Essas remessas podem ser feitas a qualquer momento. A estratégia é definida pela empresa", diz Maria Beatriz Ramos, advogada do escritório Trench, Romi e Watanabe.

Reforço de caixa
Segundo André Araújo, analista especializado no assunto, apenas a Eletropaulo mandou US$ 280 milhões para a sua controladora, a norte-americana AES, no final do ano passado. "Esse dinheiro vai, mas não sabemos se volta", diz. A AES já anunciou que quer se desfazer das suas ações na Cemig, para reforçar seu caixa porque está passando por dificuldades financeiras nos EUA.
O aumento nas remessas incha o valor do balanço de pagamentos do Brasil. Empresas que enviam recursos para fora informam o BC por meio de um registro eletrônico todos os meses. Os volumes ainda estão apresentados nos balanços publicados todos os anos.
Esse volume de US$ 1 trilhão -remessas de 1990 a 2000- também é comparado com dados de outro relatório do Departamento de Comércio americano a respeito do chamado "dinheiro sujo" -resultado de operações de sonegação fiscal e evasão de divisas na região.
Esse relatório-intitulado "Private banking and money laundry"-informa que por ano entre US$ 500 milhões e US$ 1 trilhão -mesmo valor remetido aos EUA em forma de lucro- são obtidos em operações ilegais de empresas e instituições financeiras no mundo.



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