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DÓLARDUTO
Dinheiro saiu entre 90 a 2000 e faz parte de levantamento do Departamento de Comércio dos Estados Unidos
Lucros e dividendos tiram US$ 1 tri da AL
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Em dez anos, cerca de US$ 1 trilhão saiu do caixa de empresas latino-americanas, subsidiárias de
grupos norte-americanos, e foi
parar na conta das matrizes no exterior. Esse volume corresponde a
remessas de lucros e dividendos
que as filiais de conglomerados
nos EUA enviam em decorrência
da venda de produtos na região,
de 1990 a 2000.
Os números fazem parte de um
levantamento do Departamento
de Comércio dos EUA. O estudo
está nas mãos do senador democrata Carl Levin e diz respeito às
origens dos lucros de companhias
norte-americanas. O levantamento foi fechado no final do ano passado.
Parte desse estudo está com o
professor norte-americano, James Petras, da Universidade de
Nova York, estudioso da América
Latina há 14 anos e autor do livro
"Hegemonia dos EUA no novo
milênio". De acordo com ele, crises em empresas norte-americanas -com retração da demanda
e forte queda no valor de mercado
de companhias de alguns setores-fez disparar a pressão dos
grupos em cima do desempenho
e resultados das subsidiárias.
A ordem era enviar os dividendos obtidos e não reinvesti-los
sem segunda ordem, diz ele.
No Brasil, dados do Banco Central mostram que esses recursos
atingiram o pico em 1999 e o recorde foi batido em 2002. No ano
passado, US$ 24,2 bilhões foram
enviados para fora do país pelas
companhias em forma de dividendos. O maior volume, até então, desde 94, havia sido computado em 99 (US$ 14,7 bilhões).
Tanto 2002 como 1999 foram
anos de forte desvalorização cambial. No último ano porém, houve
outro fator de peso: as eleições
presidenciais, que geraram desconfianças nos investidores.
Desde os primeiros dias de
2003, porém, a situação já mostra
sinais de normalidade. A velocidade de remessas aos EUA caiu
em relação ao último trimestre de
2002, informa o BC.
"Na visão de algumas empresas,
certos governos são risco direto
para o capital privado. Elas agem
de acordo com o que consideram
razoável para o próprio bolso.
Crises políticas e instabilidades
econômicas são o sinal vermelho.
Mas é bem provável que essas remessas, basicamente de lucros,
voltem à normalidade agora",
afirma James Petras.
Crise na Argentina, que se arrasta desde 1999, e a instabilidade
política na Venezuela foram fatores de pressão das matrizes em cima das filiais, informa o estudo.
Isso porque é na crise que se pressiona por melhores resultados.
Explicando: quando a situação
político-econômica de algum país
se deteriora, a tendência é que a
subsidiária registre lucros menores devido a uma possível retração na demanda. Para que a filial
cumpra a meta de resultados, definida normalmente no começo
dos anos, relatórios são enviados
mensalmente às matrizes, que reforçam a pressão, e cresce o número de operações de remessa.
"Essas remessas podem ser feitas a qualquer momento. A estratégia é definida pela empresa", diz
Maria Beatriz Ramos, advogada
do escritório Trench, Romi e Watanabe.
Reforço de caixa
Segundo André Araújo, analista
especializado no assunto, apenas
a Eletropaulo mandou US$ 280
milhões para a sua controladora,
a norte-americana AES, no final
do ano passado. "Esse dinheiro
vai, mas não sabemos se volta",
diz. A AES já anunciou que quer
se desfazer das suas ações na Cemig, para reforçar seu caixa porque está passando por dificuldades financeiras nos EUA.
O aumento nas remessas incha
o valor do balanço de pagamentos
do Brasil. Empresas que enviam
recursos para fora informam o BC
por meio de um registro eletrônico todos os meses. Os volumes
ainda estão apresentados nos balanços publicados todos os anos.
Esse volume de US$ 1 trilhão
-remessas de 1990 a 2000-
também é comparado com dados
de outro relatório do Departamento de Comércio americano a
respeito do chamado "dinheiro
sujo" -resultado de operações
de sonegação fiscal e evasão de divisas na região.
Esse relatório-intitulado "Private banking and money
laundry"-informa que por ano
entre US$ 500 milhões e US$ 1 trilhão -mesmo valor remetido
aos EUA em forma de lucro- são
obtidos em operações ilegais de
empresas e instituições financeiras no mundo.
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