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OPINIÃO ECONÔMICA
Por que reduzir os juros
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
Assistimos a um intenso debate sobre a redução dos juros no Brasil nesses dias que antecedem a escolha dos candidatos
para as eleições de outubro próximo. Ninguém mais discute que
nossos juros são elevados demais
e que esse aleijão, herdado do
passado, acaba por inibir nosso
crescimento econômico. Nunca
isso ficou tão claro como em 2005,
quando ficamos para trás mesmo
em relação às economias maduras como a americana e a japonesa. Se a comparação for feita com
outros países emergentes, nossa
derrota é então ainda mais clara.
Recentemente, uma importante
empresa mundial de consultoria
fez um estudo estatístico relacionando resultado em conta corrente e os juros reais em várias
economias. A curva que resultou
é de uma precisão incrível. Quanto melhor o resultado nas contas
externas do país, menores os juros
reais verificados. O gráfico resultante tem apenas um ponto muito fora da curva: o Brasil. A empresa fez uma anotação no lugar
de nossa posição: "good buy". Em
outras palavras, aproveitem essa
oportunidade de ganhar dinheiro.
Não é por outra razão que o real
não pára de se valorizar, apesar
da intervenção febril do Banco
Central. O mundo financeiro está
aproveitando esse conselho em cima do contribuinte brasileiro. E
todos sabem o fim dessa história:
mais dia, menos dia, o BC vai parar ou diminuir sua intervenção e
o real vai valer menos do que R$ 2
por dólar, gerando um enorme
ganho de capital.
Os juros afetam diretamente o
drama cambial que estamos vivendo por duas razões. A primeira é o efeito direto, via arbitragem
financeira. Mas os juros afetam
nossa taxa de câmbio também
via manutenção de um saldo comercial próximo a U$ 45 bilhões,
em razão de um crescimento interno pífio. Portanto é fundamental que se reduzam os juros internos para diminuir o saldo comercial via aumento de nossas importações. Se isso não acontecer, a
valorização de nossa moeda vai,
em algum ponto, afetar nossas exportações industriais de forma
dramática e corrigir esse excedente de dólares pelo pior caminho.
Mas existe uma grande resistência para trilhar esse caminho.
A justificativa é que, ao reduzir os
juros abaixo de 10% em termos
reais, a inflação voltaria com toda a força. Para justificar essa
afirmação, seus defensores mostram o que tem acontecido quando os juros são mais baixos do
que esse limite. Essa armadilha
ocorreria pelo nosso passado de
pecadores contumazes. Irresponsabilidade fiscal, planos econômicos que destruíram a confiança
dos investidores, sistema legal que
sempre defende o devedor, moratória externa em 1982 e 1987, entre outros.
Tenho opinião diferente. Nosso
passado nos condena não por isso, mas por uma fragilidade externa que nos obrigava, de forma
recorrente, a desvalorizar nossa
moeda para fazer frente às crises
na balança de pagamentos. Foi a
conjugação de uma balança de
pagamentos frágil com a tentativa de crescer pelos gastos públicos
em excesso que nos obrigou a conviver com juros reais elevadíssimos. É evidente que os planos econômicos heterodoxos assustaram
os investidores. Mas faz mais de
dez anos que isso não ocorre
mais.
O outro argumento, o da insegurança jurídica, embora defendido por pessoas inteligentes e
preparadas, também não me parece suficiente para explicar esse
aleijão. Finalmente, a nova situação estrutural de nossa balança
de pagamentos permite uma ousadia maior no processo de redução dos juros. O perigo de uma
nova onda de desvalorização de
nossa moeda não aparece no radar dos próximos anos, a não ser
por uma crise internacional de
proporções tsunâmicas.
As condições estão dadas para
uma tentativa responsável de
quebra desse tabu dos 10% de juros reais. Aliás, ela já aconteceu
com os títulos de longo prazo indexados ao IPCA. O que vem segurando esse processo tem sido a
taxa Selic elevada, que impõe ao
investidor em títulos de longo
prazo um custo de oportunidade
altíssimo. Mas, para haver segurança no processo de redução dos
juros, são necessários uma mudança na forma de operação da
política monetária por parte do
BC e um controle estrito dos gastos do governo.
Luiz Carlos Mendonça de Barros, 63,
engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo FHC).
E-mail - lcmb2@terra.com.br
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