São Paulo, sábado, 10 de fevereiro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Não há o que fazer para segurar moeda, afirmam economistas

MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Não há presidente do Banco Central que possa conter a valorização do real. Pelo menos não na opinião da maioria dos economistas que acompanham a viagem da cotação do dólar em direção aos R$ 2,00.
Henrique Meirelles e sua equipe, dizem eles, não têm muito mais o que fazer. "Tirar o Meirelles vai fazer cair o preço das commodities no mercado mundial?", brinca Alexandre Schwartsman, economista do ABN Amro, comentando boatos de que o debate sobre o dólar poderia levar à queda do presidente do BC.
Ele lembra que desde 2002 os preços médios das commodities subiram cerca de 60%. Só em 2006, a alta supera os 14%. "A moeda brasileira é a moeda de um país exportador de commodities", completa, lembrando que é a alta do preço dos produtos que tem mantido o saldo comercial brasileiro em níveis recordes, aumentando a entrada de divisas no país.

Fundamentos
O argumento do economista do ABN, ex-diretor do BC, é, portanto, que são os fundamentos da economia brasileira que causam a valorização do real. Argumento com o qual concorda, por exemplo, Alexandre Jorge Chaia, economista do Ibmec São Paulo.
O Banco Central decidiu, há duas semanas, reduzir mais lentamente a taxa básica de juros, o que levou alguns críticos da política econômica, dentro e fora do governo, a responsabilizar a política monetária supostamente muito rígida por parte da valorização da moeda.
Chaia não concorda com essa avaliação. Ele aponta, por exemplo, para as expectativas dos analistas do setor privado a respeito da trajetória dos juros. Elas são capturadas pela pesquisa Focus, do BC. Pouco mudou em relação ao juros. Na verdade, nesta semana a expectativa para a taxa juros no final de 2007 caiu de 11,75% para 11,5% ao ano.
Ou seja, as expectativas mostram, na avaliação do economista do Ibmec, que o fato de o BC ter reduzido a velocidade da queda dos juros não influiu na avaliação da maior parte dos investidores a respeito da magnitude do corte. "Não teve nenhuma novidade em termos de juros", completa o economista, argumentado que, se pouco mudou, não é provável que seja a política monetária a causa da desvalorização da moeda.
Natan Blanche, da Tendências, engrossa o coro e chama ainda a atenção para o alto custo da política de compra de reservas. Política, acrescenta ele, assim como outros analistas, que pode até ser contraproducente. Blanche lembra que, considerando as entradas e remessas de dólares -por conta de comércio, fluxos financeiros, pagamentos de dívidas e juros-, o Brasil terá um fluxo positivo de US$ 20 bilhões neste ano. É menos do que os US$ 32,5 bilhões de 2006, mas é cifra grande o suficiente para exercer pressão sobre o real.

Sem especulação
"Qual é a solução para isso? Vão sobrar US$ 20 bilhões, o BC já comprou US$ 5 bilhões só em janeiro. Isso [a trajetória do dólar] é fundamento, não é especulação", conclui ele.
Existem, claro, operadores montando posições para ganhar com os juros brasileiros, os maiores do mundo. "Não dá para defender a tese de que não há arbitragem", diz o economista-chefe da Fator Corretora, Vladimir Caramaschi.
Ninguém diz que esse tipo de operação não ocorre. A divisão entre os, ainda poucos, que culpam o BC pela valorização do real e os que os contrariam está no papel dessas operações na valorização da moeda brasileira. Para uns, elas têm impacto importante.
Para os críticos do BC, são elas que têm alimentado a valorização da moeda. Algo em que Schwartsman, do ABN Amro, não acredita. Ele lembra, por exemplo, que, em janeiro, o fluxo de operações financeiras foi negativo: saíram mais dólares do que entraram.
Blanche e Schwartsman apontam medidas que fariam o dólar recuar, na avaliação deles: mais abertura comercial e redução dos gastos públicos, que, dizem, levariam a aumento das importações.


Texto Anterior: BC mantém pressão, e dólar supera R$ 2,10
Próximo Texto: Não sinto pressão para deixar BC, diz Meirelles
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.