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Não há o que fazer para segurar moeda, afirmam economistas
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Não há presidente do Banco
Central que possa conter a valorização do real. Pelo menos
não na opinião da maioria dos
economistas que acompanham
a viagem da cotação do dólar
em direção aos R$ 2,00.
Henrique Meirelles e sua
equipe, dizem eles, não têm
muito mais o que fazer. "Tirar o
Meirelles vai fazer cair o preço
das commodities no mercado
mundial?", brinca Alexandre
Schwartsman, economista do
ABN Amro, comentando boatos de que o debate sobre o dólar poderia levar à queda do
presidente do BC.
Ele lembra que desde 2002
os preços médios das commodities subiram cerca de 60%. Só
em 2006, a alta supera os 14%.
"A moeda brasileira é a moeda
de um país exportador de commodities", completa, lembrando que é a alta do preço dos produtos que tem mantido o saldo
comercial brasileiro em níveis
recordes, aumentando a entrada de divisas no país.
Fundamentos
O argumento do economista
do ABN, ex-diretor do BC, é,
portanto, que são os fundamentos da economia brasileira
que causam a valorização do
real. Argumento com o qual
concorda, por exemplo, Alexandre Jorge Chaia, economista do Ibmec São Paulo.
O Banco Central decidiu, há
duas semanas, reduzir mais
lentamente a taxa básica de juros, o que levou alguns críticos
da política econômica, dentro e
fora do governo, a responsabilizar a política monetária supostamente muito rígida por parte
da valorização da moeda.
Chaia não concorda com essa
avaliação. Ele aponta, por
exemplo, para as expectativas
dos analistas do setor privado a
respeito da trajetória dos juros.
Elas são capturadas pela pesquisa Focus, do BC. Pouco mudou em relação ao juros. Na
verdade, nesta semana a expectativa para a taxa juros no final
de 2007 caiu de 11,75% para
11,5% ao ano.
Ou seja, as expectativas mostram, na avaliação do economista do Ibmec, que o fato de o
BC ter reduzido a velocidade da
queda dos juros não influiu na
avaliação da maior parte dos investidores a respeito da magnitude do corte. "Não teve nenhuma novidade em termos de
juros", completa o economista,
argumentado que, se pouco
mudou, não é provável que seja
a política monetária a causa da
desvalorização da moeda.
Natan Blanche, da Tendências, engrossa o coro e chama
ainda a atenção para o alto custo da política de compra de reservas. Política, acrescenta ele,
assim como outros analistas,
que pode até ser contraproducente. Blanche lembra que,
considerando as entradas e remessas de dólares -por conta
de comércio, fluxos financeiros, pagamentos de dívidas e juros-, o Brasil terá um fluxo positivo de US$ 20 bilhões neste
ano. É menos do que os US$
32,5 bilhões de 2006, mas é cifra grande o suficiente para
exercer pressão sobre o real.
Sem especulação
"Qual é a solução para isso?
Vão sobrar US$ 20 bilhões, o
BC já comprou US$ 5 bilhões só
em janeiro. Isso [a trajetória do
dólar] é fundamento, não é especulação", conclui ele.
Existem, claro, operadores
montando posições para ganhar com os juros brasileiros,
os maiores do mundo. "Não dá
para defender a tese de que não
há arbitragem", diz o economista-chefe da Fator Corretora, Vladimir Caramaschi.
Ninguém diz que esse tipo de
operação não ocorre. A divisão
entre os, ainda poucos, que culpam o BC pela valorização do
real e os que os contrariam está
no papel dessas operações na
valorização da moeda brasileira. Para uns, elas têm impacto
importante.
Para os críticos do BC, são
elas que têm alimentado a valorização da moeda. Algo em que
Schwartsman, do ABN Amro,
não acredita. Ele lembra, por
exemplo, que, em janeiro, o fluxo de operações financeiras foi
negativo: saíram mais dólares
do que entraram.
Blanche e Schwartsman
apontam medidas que fariam o
dólar recuar, na avaliação deles:
mais abertura comercial e redução dos gastos públicos, que,
dizem, levariam a aumento das
importações.
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