São Paulo, terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

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Emprego na indústria tem queda recorde em dezembro

Recuo de 1,8% ante novembro foi o maior desde o início da série histórica, em 2001

Cortes refletem diminuição da produção, que foi 12,4% menor em dezembro em relação ao mês anterior, segundo dados do IBGE


PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Sob impacto da crise, o emprego na indústria teve a maior queda em oito anos: recuou 1,8% em dezembro na comparação livre de influências sazonais com novembro. Foi a maior retração da série histórica do IBGE, iniciada em 2001.
Trata-se do terceiro mês consecutivo de redução do nível de emprego, período no qual a perda acumulada chega a 2,5%. Em relação a dezembro de 2008, a ocupação caiu 1,1%, na primeira taxa negativa em dois anos e cinco meses e a menor desde janeiro de 2004.
O setor industrial acusou rapidamente o golpe da crise e reduziu a produção com força em dezembro (-12,4% em relação a novembro), o que afetou o emprego, segundo o IBGE. "Esses resultados do mercado de trabalho acompanharam o menor dinamismo da indústria", diz André Macedo, economista do IBGE. O instituto não divulga os números absolutos de postos de trabalho fechados. Mas o Caged, que usa metodologia diferente e só registra o emprego formal, contabilizou um saldo negativo de 277 mil empregos no mês.
A reversão do emprego nos três últimos meses do ano passado impediu que 2008 fechasse como o melhor ano para o emprego industrial. Em 2008, a expansão da ocupação ficou em 2,1%, abaixo do recorde de 2,2% de 2007. Mas, até setembro, antes do "contágio" da crise, o emprego no setor subia 2,7%.
Para Fábio Romão, economista da LCA, a indústria fez um ajuste muito intenso e rápido de estoques em dezembro, reduzindo a produção e o nível de emprego. Esse movimento, diz, foi mais sentido justamente nos setores que lideravam até setembro a geração de postos de trabalho, como os de máquinas e equipamentos e automobilístico.
No acumulado até setembro, o emprego na indústria automobilística, por exemplo, cresceu 10,1%. Em dezembro, a taxa passou para 1,1% na comparação com o mesmo mês de 2007.
Com a crise, os ramos líderes perderam fôlego rapidamente e os que já vinham mal no emprego intensificaram os cortes. Em dezembro, as maiores quedas foram de madeira (-11,9%), calçados (-8,7%) e vestuário (-8,4%). Regionalmente, a maior contribuição negativa veio de São Paulo (-0,8%).
Segundo Romão, dezembro foi o pior mês para o emprego industrial. Ele estima nova retração em janeiro, mas menos intensa. O economista afirma que o Caged apontará o fechamento de 16,5 mil vagas. "Foi uma inversão muito rápida. A produção da indústria em dezembro foi um desastre, com reflexo no emprego. O desempenho de janeiro ainda será ruim, mas a maior parte do ajuste ficou em dezembro."

Rendimento
A folha de pagamento real da indústria caiu 0,7% de novembro para dezembro. Foi o terceiro mês consecutivo de retração, com perda acumulada de 3,6% no período.
Na comparação com dezembro de 2007, a folha de pagamento cresceu 4,1%. O indicador fechou o ano de 2008 com expansão de 6%, o melhor resultado desde 2004 (9,7%). O rendimento na indústria, porém, chegou a crescer a taxas próximas a 8% antes da crise.
Para Romão, a massa de salários na indústria tende a se desacelerar em 2009, mas menos do que o emprego graças ao impacto do reajuste real do salário mínimo. Ainda assim, o economista diz que menos categorias terão reajustes reais neste ano.


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