São Paulo, quinta-feira, 10 de março de 2005

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FREADA

Queda foi de 0,5% na comparação com dezembro; dado positivo foi a alta de 3,7% nos bens de consumo não-duráveis

Produção industrial cai em janeiro, diz IBGE

GABRIELA WOLTHERS
DA SUCURSAL DO RIO

Pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgada ontem mostra redução de 0,5% na produção industrial brasileira em janeiro na comparação com dezembro, a maior queda desde fevereiro do ano passado. O destaque positivo ficou por conta de bens de consumo não-duráveis, como vestuário, alimentos industrializados e medicamentos, com alta de 3,7%.
Esse é o segundo levantamento em dois dias a apontar a desaceleração da indústria. O levantamento da CNI (Confederação Nacional da Indústria) registrou retração de 1,97% nas vendas industriais no primeiro mês de 2005.
"Nós estamos entendendo a redução de 0,5% como uma acomodação após o crescimento de dezembro", afirmou Silvio Sales, chefe da Coordenação de Indústria do IBGE. O instituto reviu o resultado de dezembro, o que fez com que o índice passasse de 0,6% para 1,2%.
Na comparação de janeiro de 2005 com janeiro de 2004, a produção registrou alta de 6%, número expressivo, mas que mostra desaceleração na comparação de dezembro com o mesmo mês de 2003, quando a alta foi de 8,3%.
"Até aqui a gente não tem a interpretação de freio na economia", diz Sales. "O conjunto de índices leva a supor que a trajetória de crescimento para os próximos meses está sinalizada, mas num ritmo menor do que em 2004."
A recuperação de bens de consumo não-duráveis evitou uma queda maior da produção industrial. As outras três categorias que compõem o levantamento apresentaram queda na comparação com dezembro, sendo bens duráveis (eletrodomésticos, móveis, veículos) a mais atingida, com retração de 4,3%. Bens de capital (máquinas e equipamentos) tiveram queda de 1,5% e bens intermediários (plástico, aço), de 1,4%.
Bens não-duráveis teve o desempenho mais titubeante em 2004, com alta de 4% em todo o ano. No mesmo período, a produção da indústria cresceu 8,3%.
"Os não-duráveis dependem muito mais da capacidade de compra à vista do consumidor do que das condições de crédito, ao contrário dos bens de consumo duráveis, que são muito mais estimulados pelo crédito", disse Sales. "Os não-duráveis são de consumo corrente. À medida que aumenta a massa salarial, o setor aumenta a produção."

Salários maiores
Segundo cálculos da consultoria LCA, a massa de rendimentos, que inclui salários e benefícios previdenciários, teve alta real (descontada a inflação) de 5,3% em 2004. A estimativa para 2005 é de crescimento de 4,4%, segundo a consultoria.
"O destaque de não-duráveis tem tudo a ver com o que está acontecendo com o mercado de trabalho, que tem mostrado uma recuperação firme e contínua desde maio de 2004", disse o economista da LCA Bráulio Borges.
O diretor de Estudos Macroeconômicos do Ipea, Paulo Levy, também considera que a alta de não-duráveis está ligada ao mercado de trabalho, "que está se mostrando mais favorável".
O Ipea estimava queda maior da produção industrial, da ordem de 2% na comparação de janeiro com dezembro. "Foi menos negativa do que a gente imaginava", disse Levy. "De todo modo, mostra uma acomodação."
Anteontem, o Ipea reduziu de 3,8% para 3,5% a projeção de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) para 2005.
Segundo Borges, a queda na produção de duráveis não pode ser tomada ainda como uma tendência. "A retração sofreu influência muito grande de automóveis e da linha branca, como geladeiras e fogões. No caso de automóveis, os números da Anfavea [Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores] mostram que janeiro foi ruim, mas fevereiro já foi muito bom. É mais um ajuste de estoques do que uma tendência de queda na produção."


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