São Paulo, quinta-feira, 10 de março de 2005

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INFRA-ESTRUTURA

"FT" diz que BNDES daria financiamento por 34% das ações

Fundos negam sair da Brasil Ferrovias

JANAÍNA LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

Mais um capítulo foi acrescentado ontem à novela da Brasil Ferrovias, empresa que desde fevereiro de 2004 negocia salvação financeira com o governo federal. O presidente do Conselho de Administração da companhia, Guilherme Lacerda, negou que os fundos de pensão estatais que controlam a ferroviária pretendam abrir mão de escolher os gestores da empresa.
A Previ, entidade de previdência complementar dos funcionários do Banco do Brasil, é dona de 26,65% da Brasil Ferrovias. Está acompanhada pela Funcef, da Caixa Econômica Federal, detentora de 22,31% do controle.
A informação sobre a saída dos fundos foi atribuída ao presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Guido Mantega, e publicada no jornal britânico "Financial Times".
Segundo a reportagem, o BNDES concederá uma ajuda de US$ 408 milhões -mais ou menos R$ 1,1 bilhão- à companhia. Em troca, o BNDES ficaria com 34% das ações da Brasil Ferrovias.
Mantega teria pedido à Previ e à Funcef para deixar a administração da empresa e dito que haverá ampla concorrência internacional para contratar "administração profissional experiente".
"Não existe nada disso, nada dessa de licitação internacional. Isso nunca foi cogitado", afirmou Guilherme Lacerda, também presidente da Funcef. "Os fundos não têm nenhuma pretensão de cair fora da Brasil Ferrovias."
Procurado e informado pela Folha sobre as declarações de Lacerda, o BNDES não desmentiu o texto do jornal "Financial Times".

Longa história
Para entender o imbróglio em torno da Brasil Ferrovias, é bom olhar atentamente dois pontos: a história das estradas de ferro no Brasil e o traçado que a Brasil Ferrovias abrange.
O primeiro item foi estudado pelo professor americano William Summerhill. "O Brasil parece viver ciclos no setor ferroviário: o setor privado investe primeiro, mas quando dá prejuízo é substituído pelo governo e só volta quando a situação melhora", resumiu o especialista. Para ele, acordos como os da Brasil Ferrovias são, na realidade, "um subsídio para os grandes empresários, custeado por toda a população ou por um segmento".
Os trilhos da Brasil Ferrovias, por sua vez, ligam Alto Araguaia (MT) e Corumbá (MS) ao porto de Santos (SP). Por essa razão, e tendo em vista o estado falimentar das rodovias que cortam o interior do país, a via é considerada o melhor meio para exportar mercadorias da região Centro-Oeste -muitas toneladas de minério, madeira, carne e grãos.
Nos bastidores, como há demanda, viabilizar essa malha é tido como de interesse geral. Exemplos variam desde gigantes como a mineradora anglo-australiana Rio Tinto -que promete investir cerca de US$ 1 bilhão, ou R$ 2,7 bilhões para aumentar a produção de minério de ferro em Corumbá (MS)- às concessionárias concorrentes da Brasil Ferrovias, como MRS Logística, ALL e Companhia Vale do Rio Doce.
O problema que impede as boas intenções de se transformarem em verdade está no livro contábil da Brasil Ferrovias: as dívidas da empresa, rombo que beira R$ 1,6 bilhão. É mais da metade, por exemplo, dos R$ 2,8 bilhões que o FMI (Fundo Monetário Internacional) liberou para o Brasil investir em infra-estrutura.
Conta cara, rateio difícil. O fundo de investimentos americano Laif (15,36%), e os bancos JP Morgan (10,36%) e Bradesco (3,72%), Os companheiros da Previ e da Funcef na Brasil Ferrovias não parecem entusiasmados com nova derrama de capital na empresa.
Já os fundos estatais, mais acostumados a amortecer decisões governamentais de investimento, não escaparam. Previ e Funcef devem aportar R$ 180 milhões cada para fechar o negócio com o BNDES. Os recursos servirão ao pagamento em atraso de fornecedores e arrendamento.


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