São Paulo, sexta-feira, 10 de março de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

RECEITA ORTODOXA

Pesquisa do Banco Central com dados de 104 instituições mostra ganhos totais de R$ 28,3 bi no ano passado

Lucro dos bancos cresce 36% em 2005

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Mais uma vez os bancos que atuam no Brasil alcançaram lucros recordes no ano passado, segundo levantamento feito pelo Banco Central com dados de 104 instituições financeiras que operam no país. Em 2005, o setor registrou ganhos de R$ 28,3 bilhões, valor 36% maior do que o apurado em 2004.
Boa parte desse crescimento vem das operações de crédito, que tiveram forte expansão ao longo do ano passado. Em dezembro de 2005, a carteira de empréstimos dos bancos analisados pelo BC estava em R$ 463 bilhões, um aumento de 21,7% em relação ao ano anterior.
No mesmo período, as aplicações em títulos e valores mobiliários -composta, basicamente, por títulos emitidos pelo governo federal- cresceram 14% e chegaram a R$ 418,5 bilhões.
Ou seja, os números indicam que, aos poucos, os bancos nacionais e estrangeiros com atuação no país começam a direcionar mais dinheiro para empréstimos ao setor privado do que para títulos públicos.
Esse cenário pode se consolidar de vez caso seja mantida a atual trajetória de queda da taxa básica de juros, a Selic, que remunera boa parte dos papéis emitidos pelo governo.
A Selic está hoje em 16,5% ao ano. Já os juros bancários, segundo pesquisa feita pelo BC em janeiro, são de 46,1% ao ano na média, podendo chegar a 147% ao ano em casos como o do cheque especial.
Ou seja, ainda que se trate de um negócio mais arriscado -as chances de calote são maiores- e mais custoso -pois exige uma série de cuidados em termos de análise de crédito e manutenção de agências-, os empréstimos ao setor privado começam a se mostrar um pouco mais lucrativos do que as operações com títulos públicos.
No ano passado, as receitas proporcionadas pelos empréstimos concedidos a clientes foram de R$ 129,8 bilhões, enquanto as aplicações em títulos públicos renderam R$ 81,3 bilhões.
Junto com os ganhos com juros, o faturamento com a cobrança de tarifas também tem ajudado, cada vez mais, a engordar o lucro dos bancos. Em 2005, a prestação de serviços bancários custou R$ 40,5 bilhões aos clientes das instituições financeiras, 20,5% a mais do que em 2004.
Com isso, muitos bancos já são capazes de, somente com o dinheiro obtido com a cobrança de tarifas, dar conta de toda a sua folha de pagamentos. No ano passado, as despesas com pessoal do setor ficou em R$ 35,7 bilhões.

"Paraíso financeiro"
Na semana passada, o secretário-geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), dom Odilo Pedro Scherer, criticou o governo Lula e disse que o Brasil se transformou num "paraíso financeiro", numa referência à política de juros altos patrocinada pela atual equipe econômica e a seus efeitos positivos nos balanços dos bancos.
De fato, os números levantados pelo BC mostram que, no governo Lula, os bancos têm lucrado como nunca. Em 2005, por exemplo, a rentabilidade das instituições financeiras -medida pela relação entre seus lucros e seus patrimônios líquidos- ficou em 22,65%.
Ou seja, para cada R$ 100 investidos pelos acionistas em seus respectivos bancos no ano passado, alcançou-se um ganho médio de R$ 22,65. Em 2000, essa rentabilidade média era de 11,49%.
Por outro lado, os lucros recordes dos últimos anos só foram possíveis graças ao socorro oficial recebido pelos bancos -especialmente os estatais- durante o governo FHC (1995-2002). Essa ajuda custou mais de R$ 100 bilhões aos cofres do Tesouro Nacional, mas deixou o setor livre de seus bilionários créditos podres e preparado para obter ganhos cada vez maiores.


Texto Anterior: União Européia: Espanha se abre a trabalhadores do Leste
Próximo Texto: Tarifa dá receita de R$ 31 bi a bancos, calcula sindicato
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.