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RECEITA ORTODOXA
Pesquisa do Banco Central com dados de 104 instituições mostra ganhos totais de R$ 28,3 bi no ano passado
Lucro dos bancos cresce 36% em 2005
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Mais uma vez os bancos que
atuam no Brasil alcançaram lucros recordes no ano passado, segundo levantamento feito pelo
Banco Central com dados de 104
instituições financeiras que operam no país. Em 2005, o setor registrou ganhos de R$ 28,3 bilhões,
valor 36% maior do que o apurado em 2004.
Boa parte desse crescimento
vem das operações de crédito, que
tiveram forte expansão ao longo
do ano passado. Em dezembro de
2005, a carteira de empréstimos
dos bancos analisados pelo BC estava em R$ 463 bilhões, um aumento de 21,7% em relação ao
ano anterior.
No mesmo período, as aplicações em títulos e valores mobiliários -composta, basicamente,
por títulos emitidos pelo governo
federal- cresceram 14% e chegaram a R$ 418,5 bilhões.
Ou seja, os números indicam
que, aos poucos, os bancos nacionais e estrangeiros com atuação
no país começam a direcionar
mais dinheiro para empréstimos
ao setor privado do que para títulos públicos.
Esse cenário pode se consolidar
de vez caso seja mantida a atual
trajetória de queda da taxa básica
de juros, a Selic, que remunera
boa parte dos papéis emitidos pelo governo.
A Selic está hoje em 16,5% ao
ano. Já os juros bancários, segundo pesquisa feita pelo BC em janeiro, são de 46,1% ao ano na média, podendo chegar a 147% ao
ano em casos como o do cheque
especial.
Ou seja, ainda que se trate de
um negócio mais arriscado -as
chances de calote são maiores- e
mais custoso -pois exige uma
série de cuidados em termos de
análise de crédito e manutenção
de agências-, os empréstimos ao
setor privado começam a se mostrar um pouco mais lucrativos do
que as operações com títulos públicos.
No ano passado, as receitas proporcionadas pelos empréstimos
concedidos a clientes foram de R$
129,8 bilhões, enquanto as aplicações em títulos públicos renderam R$ 81,3 bilhões.
Junto com os ganhos com juros,
o faturamento com a cobrança de
tarifas também tem ajudado, cada
vez mais, a engordar o lucro dos
bancos. Em 2005, a prestação de
serviços bancários custou R$ 40,5
bilhões aos clientes das instituições financeiras, 20,5% a mais do
que em 2004.
Com isso, muitos bancos já são
capazes de, somente com o dinheiro obtido com a cobrança de
tarifas, dar conta de toda a sua folha de pagamentos. No ano passado, as despesas com pessoal do setor ficou em R$ 35,7 bilhões.
"Paraíso financeiro"
Na semana passada, o secretário-geral da CNBB (Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil),
dom Odilo Pedro Scherer, criticou o governo Lula e disse que o
Brasil se transformou num "paraíso financeiro", numa referência à política de juros altos patrocinada pela atual equipe econômica e a seus efeitos positivos nos
balanços dos bancos.
De fato, os números levantados
pelo BC mostram que, no governo Lula, os bancos têm lucrado
como nunca. Em 2005, por exemplo, a rentabilidade das instituições financeiras -medida pela
relação entre seus lucros e seus
patrimônios líquidos- ficou em
22,65%.
Ou seja, para cada R$ 100 investidos pelos acionistas em seus respectivos bancos no ano passado,
alcançou-se um ganho médio de
R$ 22,65. Em 2000, essa rentabilidade média era de 11,49%.
Por outro lado, os lucros recordes dos últimos anos só foram
possíveis graças ao socorro oficial
recebido pelos bancos -especialmente os estatais- durante o governo FHC (1995-2002). Essa ajuda custou mais de R$ 100 bilhões
aos cofres do Tesouro Nacional,
mas deixou o setor livre de seus
bilionários créditos podres e preparado para obter ganhos cada
vez maiores.
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