Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crise ameaça Estado de bem-estar e expõe atritos na Alemanha
Ministro das Relações Exteriores do país, Guido Westerwelle defende revisão de gastos sociais, contrariando Angela Merkel
Westerwelle chega hoje a Brasília para encontro com os ministros Miguel Jorge e Celso Amorim; alemão nega atrito com a Grécia em crise
CAROLINA VILA-NOVA
DA REDAÇÃO
O debate sobre o futuro do
Estado de bem-estar social na
Alemanha, diante da pressão
pela diminuição dos gastos públicos num contexto de crescente deficit, colocou em polos
extremos os dois parceiros da
coalizão que assumiu o poder
no país há apenas cinco meses.
A tensão chegou ao ponto de
a chanceler (premiê) Angela
Merkel (cristã-democrata) pedir a seu vice, o ministro das
Relações Exteriores, Guido
Westerwelle (liberal), que parasse de emitir opiniões em público para evitar desgastes.
Mas Westerwelle não para.
"Mais de 60% do Orçamento
federal é aplicado em fins sociais e em juros. Esse dinheiro
precisa ser obtido", diz o ministro nesta entrevista exclusiva,
por escrito, à Folha.
Em visita hoje a Brasília,
Westerwelle se encontra com
os ministros Miguel Jorge (Desenvolvimento) e Celso Amorim (Relações Exteriores).
FOLHA - Os primeiros cinco meses
da coalizão na Alemanha foram
marcados por disputas internas e
popularidades em queda. Até que
ponto essas tensões são um risco à
governabilidade do país?
GUIDO WESTERWELLE - Pesquisas
mudam como o tempo. A Alemanha tem um governo estável, com uma orientação clara.
FOLHA - Um dos principais pontos
de tensão dentro da coalizão é definir os rumos do sistema de bem-estar social alemão. Como conciliar
posições tão divergentes?
WESTERWELLE - O futuro do Estado de bem-estar social é, para
mim, um assunto importante.
Mais de 60% do Orçamento federal é aplicado em fins sociais
e em juros. Esse dinheiro precisa ser obtido. O debate público
que conduzimos na Alemanha
sobre a pertinência dos benefícios mostra o quanto ela representa para as pessoas.
FOLHA - O governo adiou decisões
difíceis, como a reforma fiscal, para
evitar que a coalizão perca nas eleições de maio. Não está adiando um
problema incontornável?
WESTERWELLE - A sra. não deveria fazer associações que não
existem. Não é possível fazer,
da noite para o dia, uma ampla
reforma tributária ou da saúde.
Estamos há poucos meses no
governo. Não seja impaciente.
FOLHA - Agora que a Grécia fez novas promessas de corte de gastos, a
Alemanha deve ajudar no resgate?
WESTERWELLE - Não pautamos
nossa política por pesquisas de
opinião. O governo grego recebeu diretrizes da Comissão Europeia sobre como e em que período precisa retornar ao caminho da consolidação do Orçamento. Estou satisfeito com o
fato de a Grécia ter reagido com
medidas enérgicas.
FOLHA - O quanto essa crise expõe
de desarmonia na zona do euro?
WESTERWELLE - A sra. não deveria superestimar vozes isoladas
e não deve confundi-las com a
atitude do respectivo governo.
A Alemanha e a Grécia são estreitos parceiros na Europa.
FOLHA - A Alemanha perdeu, no
ano passado, o posto de maior exportador mundial para a China. Há
expectativa de voltar ao topo?
WESTERWELLE - Sem dúvida, a
Alemanha continuará sendo
uma forte nação exportadora.
Para nós, é mais importante
que asseguremos nossa força
como exportadores de produtos inovadores, de alto valor.
FOLHA - A economia alemã estagnou no quarto trimestre. O governo
prevê que isso dure?
WESTERWELLE - De fato, o esperado crescimento econômico
no último trimestre não prosseguiu como esperávamos. Mas
há também notícias positivas: a
exportação volta a ganhar impulso e o mercado de trabalho
se mostra novamente robusto.
Colaborou LUCIANA COELHO ,
de Genebra
FOLHA ONLINE
Leia a íntegra da
entrevista
www.folha.com.br/100682
Texto Anterior: Febraban será liderada por executivo profissional Próximo Texto: Frase Índice
|