São Paulo, quarta-feira, 10 de março de 2010

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Crise ameaça Estado de bem-estar e expõe atritos na Alemanha

Ministro das Relações Exteriores do país, Guido Westerwelle defende revisão de gastos sociais, contrariando Angela Merkel

Westerwelle chega hoje a Brasília para encontro com os ministros Miguel Jorge e Celso Amorim; alemão nega atrito com a Grécia em crise

CAROLINA VILA-NOVA
DA REDAÇÃO

O debate sobre o futuro do Estado de bem-estar social na Alemanha, diante da pressão pela diminuição dos gastos públicos num contexto de crescente deficit, colocou em polos extremos os dois parceiros da coalizão que assumiu o poder no país há apenas cinco meses.
A tensão chegou ao ponto de a chanceler (premiê) Angela Merkel (cristã-democrata) pedir a seu vice, o ministro das Relações Exteriores, Guido Westerwelle (liberal), que parasse de emitir opiniões em público para evitar desgastes. Mas Westerwelle não para.
"Mais de 60% do Orçamento federal é aplicado em fins sociais e em juros. Esse dinheiro precisa ser obtido", diz o ministro nesta entrevista exclusiva, por escrito, à Folha.
Em visita hoje a Brasília, Westerwelle se encontra com os ministros Miguel Jorge (Desenvolvimento) e Celso Amorim (Relações Exteriores).

 

FOLHA - Os primeiros cinco meses da coalizão na Alemanha foram marcados por disputas internas e popularidades em queda. Até que ponto essas tensões são um risco à governabilidade do país?
GUIDO WESTERWELLE -
Pesquisas mudam como o tempo. A Alemanha tem um governo estável, com uma orientação clara.

FOLHA - Um dos principais pontos de tensão dentro da coalizão é definir os rumos do sistema de bem-estar social alemão. Como conciliar posições tão divergentes?
WESTERWELLE -
O futuro do Estado de bem-estar social é, para mim, um assunto importante. Mais de 60% do Orçamento federal é aplicado em fins sociais e em juros. Esse dinheiro precisa ser obtido. O debate público que conduzimos na Alemanha sobre a pertinência dos benefícios mostra o quanto ela representa para as pessoas.

FOLHA - O governo adiou decisões difíceis, como a reforma fiscal, para evitar que a coalizão perca nas eleições de maio. Não está adiando um problema incontornável?
WESTERWELLE -
A sra. não deveria fazer associações que não existem. Não é possível fazer, da noite para o dia, uma ampla reforma tributária ou da saúde. Estamos há poucos meses no governo. Não seja impaciente.

FOLHA - Agora que a Grécia fez novas promessas de corte de gastos, a Alemanha deve ajudar no resgate?
WESTERWELLE -
Não pautamos nossa política por pesquisas de opinião. O governo grego recebeu diretrizes da Comissão Europeia sobre como e em que período precisa retornar ao caminho da consolidação do Orçamento. Estou satisfeito com o fato de a Grécia ter reagido com medidas enérgicas.

FOLHA - O quanto essa crise expõe de desarmonia na zona do euro?
WESTERWELLE -
A sra. não deveria superestimar vozes isoladas e não deve confundi-las com a atitude do respectivo governo. A Alemanha e a Grécia são estreitos parceiros na Europa.

FOLHA - A Alemanha perdeu, no ano passado, o posto de maior exportador mundial para a China. Há expectativa de voltar ao topo?
WESTERWELLE -
Sem dúvida, a Alemanha continuará sendo uma forte nação exportadora. Para nós, é mais importante que asseguremos nossa força como exportadores de produtos inovadores, de alto valor.

FOLHA - A economia alemã estagnou no quarto trimestre. O governo prevê que isso dure?
WESTERWELLE -
De fato, o esperado crescimento econômico no último trimestre não prosseguiu como esperávamos. Mas há também notícias positivas: a exportação volta a ganhar impulso e o mercado de trabalho se mostra novamente robusto.


Colaborou LUCIANA COELHO , de Genebra

FOLHA ONLINE
Leia a íntegra da entrevista
www.folha.com.br/100682



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