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São Paulo, quinta-feira, 10 de abril de 2003

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Argentina já superou o pior, afirma relatório

DO ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

O FMI avalia que "o pior já passou" para a economia argentina.
O relatório "Perspectivas para a Economia Mundial", divulgado ontem pela instituição, aponta que "desde meados de 2002 houve modesta recuperação do PIB real e forte crescimento da produção industrial e da construção".
Está aumentando também a confiança do consumidor, e o desemprego está caindo, "o que, em parte, reflete o crescimento de beneficiários de programas de apoio ao emprego".
O relatório do Fundo diz ainda que, "nos meses recentes, a moeda tem se valorizado, as taxas mensais de inflação declinaram significativamente, as taxas de juros caíram e houve constante aumento em depósitos no setor bancário privado".
Mas há o lado sombrio: "O PIB real ainda é quase 20% menor do que em 1998, o desemprego é de cerca de 18%, as taxas de pobreza permanecem extremamente altas, e os sinais de estabilização dos preços refletem, em parte, a manutenção de controles sobre preços dos serviços públicos".
O FMI não faz menção alguma ao fato de que os dados positivos nos meses recentes ocorreram apesar de a Argentina ter sido obrigada a dar o calote na sua dívida externa, o que, pela ortodoxia do Fundo, significaria o inferno.
Aliás, o relatório faz questão de lembrar uma das muitas vulnerabilidades presentes na América Latina:
"Dada a ainda grande alocação de investimentos para a América Latina, um evento adverso -como um "default" [calote" desordenado da dívida- poderia resultar em ampla venda de muitos ativos latino-americanos."

A receita de sempre
A receita do Fundo para a região é a de sempre: reduzir a dívida pública, orientar a política monetária para diminuir a inflação, com flexibilidade da taxa de câmbio, aprofundar a intermediação financeira doméstica, reduzir as fragilidades dos balanços relacionadas à pesada dolarização informal, liberalizar ainda mais o comércio, avançar nas reformas do mercado de trabalho, melhorar as redes de proteção social e reduzir a corrupção.
Vulnerabilidades à parte, o fato de Brasil e Argentina terem tido desempenho razoável no início do ano tirou o foco desses países, estrelas, no sentido negativo, em encontros anteriores do Fundo.
Na América Latina, esse espaço negativo foi ocupado pela Venezuela, cuja economia deverá sofrer neste ano uma contração de 17%, depois de ter caído 8,9% no ano passado.
No caso, a receita do Fundo é diferente: "Qualquer recuperação econômica sustentável dependerá da solução da crise política, de maneira a aumentar a confiança do consumidor e do investidor".
É uma avaliação que parece pouco consistente com a previsão de que a Venezuela crescerá 13,4% no ano que vem.
Afinal, a crise política só poderá começar a ser desatada em agosto, assim mesmo se houver o plebiscito constitucionalmente previsto para julgar o mandato do presidente Hugo Chávez. Portanto, a crise política dificilmente terá um desfecho em tempo de permitir a retomada da confiança e, por extensão, uma recuperação tão forte da economia para 2004 como a prevista pelo FMI.
No restante do mundo emergente, a estrela continua a ser a Ásia, particularmente a China. O crescimento da área Ásia-Pacífico, excluído o Japão, foi de 6,3% no ano passado, taxa que tende a se repetir neste ano (6%, segundo o relatório).
Também aparecem bem na radiografia feita pelo Fundo os dez países ex-comunistas da Europa cujo ingresso na União Européia está previsto para maio do ano que vem. Cresceram 3,9% em 2002, repetirão a marca neste ano e a elevarão para 4,5% em 2004. (CR)


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