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Argentina já superou o pior, afirma relatório
DO ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON
O FMI avalia que "o pior já
passou" para a economia argentina.
O relatório "Perspectivas para a Economia Mundial", divulgado ontem pela instituição,
aponta que "desde meados de
2002 houve modesta recuperação do PIB real e forte crescimento da produção industrial
e da construção".
Está aumentando também a
confiança do consumidor, e o
desemprego está caindo, "o
que, em parte, reflete o crescimento de beneficiários de programas de apoio ao emprego".
O relatório do Fundo diz ainda que, "nos meses recentes, a
moeda tem se valorizado, as taxas mensais de inflação declinaram significativamente, as
taxas de juros caíram e houve
constante aumento em depósitos no setor bancário privado".
Mas há o lado sombrio: "O
PIB real ainda é quase 20% menor do que em 1998, o desemprego é de cerca de 18%, as taxas de pobreza permanecem
extremamente altas, e os sinais
de estabilização dos preços refletem, em parte, a manutenção de controles sobre preços
dos serviços públicos".
O FMI não faz menção alguma ao fato de que os dados positivos nos meses recentes
ocorreram apesar de a Argentina ter sido obrigada a dar o calote na sua dívida externa, o
que, pela ortodoxia do Fundo,
significaria o inferno.
Aliás, o relatório faz questão
de lembrar uma das muitas
vulnerabilidades presentes na
América Latina:
"Dada a ainda grande alocação de investimentos para a
América Latina, um evento adverso -como um "default" [calote" desordenado da dívida-
poderia resultar em ampla venda de muitos ativos latino-americanos."
A receita de sempre
A receita do Fundo para a região é a de sempre: reduzir a dívida pública, orientar a política
monetária para diminuir a inflação, com flexibilidade da taxa de câmbio, aprofundar a intermediação financeira doméstica, reduzir as fragilidades dos
balanços relacionadas à pesada
dolarização informal, liberalizar ainda mais o comércio,
avançar nas reformas do mercado de trabalho, melhorar as
redes de proteção social e reduzir a corrupção.
Vulnerabilidades à parte, o
fato de Brasil e Argentina terem
tido desempenho razoável no
início do ano tirou o foco desses países, estrelas, no sentido
negativo, em encontros anteriores do Fundo.
Na América Latina, esse espaço negativo foi ocupado pela
Venezuela, cuja economia deverá sofrer neste ano uma contração de 17%, depois de ter
caído 8,9% no ano passado.
No caso, a receita do Fundo é
diferente: "Qualquer recuperação econômica sustentável dependerá da solução da crise política, de maneira a aumentar a
confiança do consumidor e do
investidor".
É uma avaliação que parece
pouco consistente com a previsão de que a Venezuela crescerá 13,4% no ano que vem.
Afinal, a crise política só poderá começar a ser desatada
em agosto, assim mesmo se
houver o plebiscito constitucionalmente previsto para julgar o mandato do presidente
Hugo Chávez. Portanto, a crise
política dificilmente terá um
desfecho em tempo de permitir
a retomada da confiança e, por
extensão, uma recuperação tão
forte da economia para 2004
como a prevista pelo FMI.
No restante do mundo emergente, a estrela continua a ser a
Ásia, particularmente a China.
O crescimento da área Ásia-Pacífico, excluído o Japão, foi de
6,3% no ano passado, taxa que
tende a se repetir neste ano
(6%, segundo o relatório).
Também aparecem bem na
radiografia feita pelo Fundo os
dez países ex-comunistas da
Europa cujo ingresso na União
Européia está previsto para
maio do ano que vem. Cresceram 3,9% em 2002, repetirão a
marca neste ano e a elevarão
para 4,5% em 2004.
(CR)
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