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LUÍS NASSIF
Pré-ensaio da fusão aérea
Pessoas diretamente
envolvidas na tentativa de
fusão entre a Varig e a TAM
têm algumas certezas. A primeira é sobre a posição do governo, que até agora cumpriu
tudo o que propôs. A segunda é
sobre o papel do ministro da
Defesa, José Viegas Filho, apresentado como negociador objetivo e determinado.
Quanto aos resultados da fusão, há dúvidas no ar. Na semana passada, quatro dos sete
membros do Conselho de Administração da Varig apresentaram moção para afastar o
presidente do Conselho, Yutaka
Imagawa. O próprio Imagawa
convocou assembléia ontem,
em Porto Alegre, para deliberar
sobre o tema. Até fechar a coluna, não sabia do resultado.
Os conselheiros que deliberaram pela moção fazem parte da
ala da companhia que acreditam que a fusão é a última bóia
de salvação e não pretendem
abrir mão dela, seja qual for o
resultado da composição societária da nova companhia.
É esse resultado que deverá
aparecer nas próximas semanas, quando as negociações entram no estágio definitivo. As
dificuldades não são poucas. A
TAM é empresa com patrimônio líquido de R$ 200 milhões; a
Varig, com um patrimônio líquido negativo de R$ 3 bilhões,
sem contar outros passivos
-como possíveis R$ 700 milhões com o fundo Aerus.
Nos próximos dias será feita
uma avaliação econômica de
ambas as companhias, a que
irá vigorar nas negociações, o
que deverá reduzir a desproporção. Mesmo assim, o tamanho do rombo da Varig cria insegurança.
Há todo um processo de negociação para que os credores
convertam dívidas em participação ou estendam o prazo.
Mas uma parte dos passivos terá que ser quitada, para começar a discussão, abrindo a necessidade de dinheiro novo.
Uma segunda frente de discussão vai ser na adequação do
número de funcionários e
aviões. Independentemente da
fusão, há excesso de demanda
de lugares não só na aviação civil brasileira como mundial.
Vastas áreas de desertos nos Estados Unidos estão apinhadas
de aviões devolvidos pelas companhias aéreas.
Há dois problemas nessa
equação. O primeiro, o de reduzir pessoal e frota, um processo
complicado, dolorido. Ao contrário da aviação comercial
norte-americana, no Brasil a
folha não representa peso relevante nas despesas da companhia. Mas assento vago, sim.
Avaliações preliminares estimam que a frota brasileira precisaria ser reduzida em 40%
para ganhar economicidade.
Onde cortar? E, na crise mundial da aviação civil, a devolução de aeronaves é uma encrenca só.
É ilusão pensar em uma fusão
de partes iguais. Não haverá espaço para um mero acordo operacional, que não possibilite à
nova empresa ganhar competitividade internacional.
A fusão será para valer e a base da nova companhia provavelmente será a TAM. Politicamente seria conveniente que a
Varig tivesse pontos de excelência, a fim de a composição de
pessoal ficar mais equilibrada.
Seja qual for o resultado, a
nova companhia terá que investir vigorosamente no novo
padrão mundial da aviação comercial, de baixo custo, informatização, venda direta pela
Internet -uma mudança tão
brusca, em apenas dois anos,
que nem o comandante Rolim,
com toda sua visão de futuro,
foi capaz de antever.
E-mail -
LNassif@mandic.com.br
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